Em bom Mandarim nos entendemos

Fair PlayAgosto 16, 20204min0

Em bom Mandarim nos entendemos

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Bill Beaumont e a sua equipa tem um desafio cada vez mais delicado pela frente e é importante perceber em que "campos" se jogam o futuro do rugby. Luís Supico explica a sua visão neste artigo

Na lingua chinesa, a palavra “crise” é a combinação de dois símbolos: “perigo” e “oportunidade”… Foi no passado mês de Maio que o inglês Bill Beaumont foi reconduzido na presidência da World Rugby (anteriormente conhecida como IRB), com 28 votos contra 23 do argentino Agustín Pichot, seu antigo vice-presidente;

Saiu no outro dia um ranking interessante de jogadores federados no mundo inteiro, com várias surpresas dos países no top 20 (pelo menos para mim): Madagascar (com 26 milhões de habitantes e em 51º no ranking mundial da WR) tem cerca de 35 mil jogadores inscritos e é o 18º país do mundo com mais jogadores federados; Kenya (32º na WR) e Sri Lanka (47º), ambas com pouco mais de 50 mil jogadores inscritos estão imediatamente à frente da Escócia; Argentina e Japão já vão nos 105 mil inscritos, Fiji pouco mais de 122 mil; e no top 3, França bastante à frente de Inglaterra (382 mil) e África do Sul (405 mil) com 542 mil jogadores inscritos pelos Gauleses;

Interrompido que está o Super Rugby, as Federações Neozelandesa e Australiana decidiram fazer um formato local para as suas franchises (as cinco de cada país a jogar entre si, no seu país, a duas voltas), começando a versão Kiwi em Junho e a de Down Under um mês depois, com a versão Sul-Africana a ser falada para ser começada em Agosto (neste caso, com a possibilidade de ser com as seis franchises, já que o Top14 está parado, campeonato onde estão os Kings e os Cheetahs).

Onde se conjuga isto tudo? No desenvolvimento estagnado do rugby, a nível mundial, da importância dos países que não os de Tier 1 nas decisões de fundo.

Senão vejamos: são precisos 26 votos para se eleger o presidente da World Rugby – os países das Seis Nações têm 18 no total (3 por cada país) e os do Championship (África do Sul, Argentina, Austrália e Nova Zelândia) 12. Garantidos estes, ganha-se automaticamente; Madagascar, Sri Lanka, Rússia, China, Japão, Canadá e Fiji, todos no top 20 de jogadores inscritos a nível mundial têm, entre si, 4 votos (só os últimos 3 votam, neste caso);

Dos 105 países que fazem parte da WR, apenas 18 votam (os restantes votam como parte das suas Federações Regionais, que totalizam 12 votos). Ou seja, um candidato apoiado pelas 6 Nações tem sempre mais hipótese de ganhar. O que aconteceu. Não que isso seja mau – é apenas um facto.

Este é um dos “perigos”, a manutenção do Status Quo.

Já no que toca a “oportunidades” e tendo em conta a rápida decisão, dos três maiores países do Hemisfério Sul em fazerem os seus próprios torneios de Super Rugby, há claramente uma tentativa, da parte da Austrália e Nova Zelândia, de se afastarem da África do Sul (e Argentina, por inerência) – o que pode ser uma oportunidade se, dessa forma e se juntando ambas, chamarem para o seu campeonato as ilhas do Pacífico que tanto têm a dar ao rugby mundial, bem como a hipótese da África do Sul fazer um torneio Africano (Kenya, Zimbabué, Uganda, Namíbia são países até top 35, bem como outros países como a ilha de Madagascar, por exemplo, com os seus números impressionantes) ou até se juntarem à Europa, com quem têm mais a ver. São várias as hipóteses. E com isto, muita coisa pode mudar em muito pouco tempo.Outra “oportunidade” é a reformulação (semi-prometida por Beaumont) de mudanças nos Tiers em que se inserem os países. Não será ainda um Campeonato Europeu de selecções como se faz no futebol (por exemplo), em que todas as equipas têm a mesma hipótese de se qualificar, mas já pode ser um começo; mas mesmo assim ainda há uma enorme dificuldade em se transformar o Seis Nações (quem sabe continuar esse sistema, mas com um Europeu pelo meio?).

De uma forma ou de outra, as contingências que temos irão certamente continuar, já que cada país (e continente) ataca o Coronavírus de forma diferente – e, pelo menos enquanto não tivermos uma vacina, será difícil conseguirmos voltar aos Super Rugbys e jogos internacionais como conhecíamos até há bem pouco tempo. Há que reinventar, remodelar, melhorar, transformar o que não funciona e darmos nova vida ao Rugby mundial: este é o momento para isso.

Na lingua chinesa, a palavra “crise” é a combinação de dois símbolos: “perigo” e “oportunidade”; tenhamos líderes com visão para sairmos daqui melhor do que chegámos.


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