Associações de Rugby: O futuro aqui tão perto – Coluna Luís Supico
Federação: reunião de sociedades, sindicatos, grupos desportivos, etc., para promover objectivos comuns;
Associação: pessoa colectiva sem fim lucrativo.
Sou anti-revolucionário: acredito que são raras, para não dizer virtualmente inexistentes as alturas na vida em que temos de ter uma mudança tão profunda que necessite a eliminação total ou parcial de tudo o que existia anteriormente. O desaparecimento total de qualquer coisa, por muito horrível que seja, implica o seu desconhecimento no futuro e, como disse Burke, “um povo que desconhece a sua história está condenado a repeti-la”.
No plano de Actividades e Orçamento de 2018 há um capítulo intitulado “Departamento de Desenvolvimento“, que descreve o Plano Nacional de Desenvolvimento e Formação – resumidamente, o fortalecimento dos clubes via angariação / consolidação de jogadores, bem como o apoio técnico e material aos mesmos. O que bate certo com a definição de Federação. Mas onde entram então as Associações?
Imbuídos na vontade de controlar custos e querendo aproveitar os seus próprios recursos os clubes decidiram, no final da época passada, esvaziar de conteúdos a ARS, passando directamente para si e para a FPR a prospecção de novos jogadores. No papel, o desaparecimento da ARS poupa dinheiro, concentra e optimiza recursos, dando maior liberdade aos clubes na sua procura de jogadores; na verdade, isso é exactamente o oposto que acontece.
Grande parte do orçamento das Associações vem directamente do IPDJ e está apenas e só alocado às mesmas; eliminando as Associações (e os seus custos), esse dinheiro desaparece. Logo, a sua inexistência não trás custos, mas a sua existência também não… aumentando até a possibilidade de maior número de empregos relacionados com (e para) o Rugby. A existência das Associações são, afinal, auto-sustentáveis, já que (e como a definição o diz) elas existem sem fins lucrativos: tudo o que entra é para ser gasto. Sem mais, nem menos.
A concentração e optimização de recursos é também o oposto do que se queria: sendo uma Associação um instrumento de desenvolvimento da FPR, a concentração de recursos e desaparecimento da ARS limita o trabalho da própria FPR e debilita todos: os clubes, por perderem um instrumento de ligação (seja técnico ou de organização e gestão), os técnicos da Federação, por ficarem presos a secretárias em trabalhos administrativos e por fim a Federação por não haver, naturalmente, desenvolvimento do rugby nacional.
Com a inclusão do Tag Rugby nos programas de Educação Física até ao 12º ano, o leque de angariação de jogadores irá aumentar, num futuro muito próximo, exponencialmente sendo esta, para mim, a base onde está, verdadeiramente, o futuro do rugby.
Mas tal acompanhamento tem de ser feito tanto por clubes como FPR. A inclusão de técnicos qualificados nos clubes para acompanhamento é quase impossível (os orçamentos são pequenos e limitados a “coisas mais importantes”) e, tanto na FPR como anteriormente na ARS, são muito poucos os técnicos alocados ao mesmo.
Na verdade, tudo depende de duas coisas: dinheiro e treinadores. Porque, na verdade, não há técnicos sem dinheiro e não há desenvolvimento sem treinadores.
Como resolvemos este problema?
Não é, concerteza, no fim das Associações.
O afastamento, cada vez maior, dos clubes longe do centro de poder (que, convenhamos, é Lisboa) e a diminuição de técnicos / treinadores associados à Federação e Associações faz com que o futuro que se avizinha não seja de aproveitamento e aumento de números de jogadores e clubes mas, no máximo dos máximos, na sua manutenção; o que temos de mudar urgentemente.
Longe de estarmos em alturas revolucionárias esta pode ser, sem dúvida, uma altura de grandes avanços – queiramos, todos juntos, dar um passo de uma vida e conseguirmos, rapidamente, aproveitar e cultivar desde logo o interesse das escolas no nosso grande desporto.