As Eleições na FPR: Manuel Paulo Ribeiro e a importância das Associações Regionais

Francisco IsaacMarço 27, 20196min1

As Eleições na FPR: Manuel Paulo Ribeiro e a importância das Associações Regionais

Francisco IsaacMarço 27, 20196min1
O Presidente do Guimarães RUFC discutiu algumas ideias e projectos que têm de ser respeitados no pós-eleições para a FPR. A opinião de Manuel Paulo Ribeiro no Fair Play

O Fair Play durante as semanas que antecedem as eleições na Federação Portuguesa de Rugby propôs três perguntas a dirigentes, jogadores, técnicos e árbitros sobre o futuro da modalidade. As reflexões, propostas e desejos de cada um dos entrevistados. O Presidente do Guimarães Rugby Union Football Club, Manuel Paulo Ribeiro, apresenta hoje a sua opinião sobre o futuro do rugby nacional! 

Manuel Ribeiro, observando o que foram os últimos 5 anos no rugby português sente que é necessária uma mudança? Quais deviam ser as nossas primeiras preocupações a partir de Abril ?

Tendo em conta a análise da realidade dos últimos anos, com especial relevo para o período em que desempenho as funções de Presidente do GRUFC, entendo que existem alguns aspetos de importância vital para o futuro do Rugby no território Nacional.

Um deles é, sem dúvida, a necessidade de manter as Associações Regionais (ex. da ARN) de forma a não recuar na já de si reduzida descentralização dos centros de decisão da FPR. Estas associações podem, e devem, ter um papel decisivo no apoio aos escalões mais jovens dos clubes, quer tecnicamente (meios humanos), quer materialmente. No entanto, estas entidades devem, imperativamente ser dotadas de meios adequados ao trabalho que delas se espera, ou seja, não podemos exigir omeletes sem ovos.

Além dos meios humanos e materiais, é necessário que se consigam atingir elevados níveis de motivação, sendo para isso fundamental apostar em verdadeiros apaixonados por esta magnífica modalidade. Por outro lado, e pressupondo esta aposta nas Associações Regionais, então, tão importante como dotá-las de meios e condições, é também proceder a um acompanhamento e fiscalização da sua atividade com especial rigor no controle das despesas, que devem partir de um orçamento ambicioso mas realista, ao qual, não deve ser admitido o mais pequeno desvio.

Outro aspeto que particularmente muito me incomoda é a situação da arbitragem nacional. Não querendo colocar em questão a sua vontade e espírito de sacrifício (conheço de forma relativa a fraca realidade das retribuições financeiras a estes técnicos), a verdade é que são inadmissíveis árbitros sem a devida preparação e conhecimento das regras, e isso faz, infelizmente, parte dos nossos campeonatos.

A somar à vertente da qualidade, temos o outro escândalo que é a inexistência de árbitros auxiliares que, na minha opinião, deveriam ser obrigatórios em encontros a partir do escalão dos sub 16. A solução habitual dos atletas dos clubes em competição como “bandeirinhas” voluntários é perfeitamente aceitável nos escalões pré-competição, mas o mesmo não deveria ser admitido em competição. Não digo que a solução para estas falhas graves seja simples, mas tem de ser estudada pela FPR sob pena de descredibilizar o desporto quer perante o público quer perante os próprios jogadores.

Que áreas não têm sido objecto de real aposta e que na sua opinião deviam ser melhor trabalhadas, desenvolvidas e mesmo começadas?

Como em qualquer atividade humana, a promoção e a publicidade são indispensáveis. Assim, entendo que, principalmente atendendo ao efeito multiplicador que o Campeonato do Mundo de 2007 trouxe ao Rugby nacional, estando por exemplo, na génese da criação do GRUFC, esse aspeto tem de ser novamente explorado.

Não dispondo a FPR de verbas para anunciar nos grandes meios, nomeadamente a TV, rádio e Jornais, aliás, desproporcionadamente caros face aos resultados reais que permitem, seria interessante estudar a publicidade estática (mupis, etc), a nível local (com especial importância nas escolas), e na internet, onde, ao nível de redes sociais, se conseguem atualmente atingir vastos públicos (e por vezes perfeitamente delimitados) com custos controlados.

Sem essa divulgação não acredito num crescimento verdadeiramente rápido da modalidade. Precisamos urgentemente de um novo elemento dinamizador ao nível dessa competição de 2007 que tantos frutos produziu e que, em alguns casos se deixou que fossem desperdiçados.

Qual será o papel do Guimarães RUFC no futuro próximo da modalidade em Portugal? Sente que há espaço para novos clubes assumirem-se como referências?

Quanto ao papel do GRUFC nos próximos anos da modalidade, temos como objetivo, a par do Braga e do CRAV, ser os porta-estandarte do Rugby nacional, a norte do Porto. Para tal, entendemos que estamos a disputar o campeonato na divisão adequada ao nosso nível técnico, humano e financeiro, pretendendo, nesta fase, cimentar aí a nossa posição. para tal, estamos a lutar com as habituais dificuldades financeiras, mas é uma realidade que conhecemos desde o dia de arranque do clube e que, como tantos outros clubes nacionais, lá vamos conseguindo gerir a custo. 

Existe outra área que castra de forma perigosa o nosso querido desporto, e que é a falta de instalações preparadas para o rugby. É um país de futebol e todos o sabemos. É, no entanto, premente que se alterem mentalidades, sendo para tal muito importante a sensibilização das autarquias para a inclusão desta modalidade nos recintos criados recentemente e em novos campos a executar, procedendo à marcações dos campos e adquirindo postes.

Para mais, temos a sorte de disputar em campos com medidas semelhantes às do futebol, o que facilita este diálogo, mas é de importância vital que este seja levado a cabo pela FPR em conjunto com os clubes de acordo com cada região. É perfeitamente clara para mim a dificuldade em atrair novos atletas ou mesmo em manter os atuais, quando não se lhes disponibilizam as condições mínimas para a prática da modalidade.

Finalmente quero reforçar aquilo que todos sabemos mas continua a ser um calcanhar de Aquiles para o Rugby, pelo menos para os Clubes desta região, que é a falta de juventude para alimentar pela base as equipes de competição, e que resulta de vários aspetos , entre eles alguns dos que citei acima. A nossa aposta nos dois últimos anos passou pela presença nas escolas do concelho, que estamos a conseguir através de um trabalho de persistência, e que acreditamos e esperamos venha a dar frutos já  a partir da próxima época. Claro que, o acesso a boas instalações e as campanhas de divulgação viriam catapultar os resultados destas ações para níveis significativamente superiores. 

O maior feito do GRUFC em 2017 (Foto: GRUFC)

One comment

  • Guilherme Novaes Reis

    Abril 6, 2019 at 5:34 pm

    Boa tarde, sou jogador Mem Martins-Rugby Clube Ubuntu,, Sintra. Partilhamos as mesmas dificuldades e as mesmas perspetivas em termos gerais do Presidente do Guimarães Rugby Clube. Agradeço esta entrevista, porque vai servir de Base para iniciar um trabalho de captação de novos atletas. Bem como o de formar árbitros Auxiliares e Principais no Clube para colaborar com Associação Regional de Lisboa..Gostaria de ler mais entrevistas, se fosse possível envie as pergunte por email a todos os dirigentes que lhe interessar e aumente a velocidade de troca de Ideias. Nós o Ubuntu estamos muito interessados em Desenvolver o Rugby em Sintra, captar novos atletas, novos treinadores e Diretores de equipe. Obrigado Guilherme Reis

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