All Blacks isolados na frente! – Rugby Championship 3ª ronda

Francisco IsaacSetembro 11, 20178min0
Vinte minutos à All Blacks ditaram uma vitória dos bicampeões mundiais num jogo emotivo. E a Austrália por pouco conseguia arrancar uma vitória importante ante a África do Sul. Fica a saber quais os nossos destaques e escolhas da 3ª ronda

E à 3ª ronda do Rugby Championship houve quase surpresa no jogo que opôs neozelandeses e argentinos, com os vinte minutos finais a ditarem a vitória da selecção comandada por Steve Hansen apesar do susto ao intervalo.

Em Perth, a Austrália e a África do Sul firmaram um “pacto” e dividiram os pontos num empate caótico e altamente enérgico. Ao fim de seis jogos só há uma certeza neste momento: All Blacks isolados na frente e com possibilidade de aumentar a diferença já no próximo fim-de-semana ante a África do Sul.

A análise da 3ª ronda do Rugby Championship do Fair Play


RAÇA DOS PUMAS SÓ DURA 60 MINUTOS…

Mais uma vez, os All Blacks “acordaram” nos últimos vinte minutos de jogo para conseguirem arrancar uma vitória a ferros, diante de uma Argentina aguerrida, “apaixonada” e intensa, que acabou por não apresentar os argumentos suficientes para conseguir um feito histórico: uma vitória em solo kiwi.

Apesar de não terem conseguido a vitória no final dos 80 minutos, a equipa dos Pumas chegou a estar na frente do resultado até aos 65′, altura em que surgiu o ensaio do inevitável Damian McKenzie, colocando os neozelandeses na frente do resultado até ao final do encontro.

A frescura física, resistência e manutenção do alto ritmo de jogo fez a diferença entre as duas selecções, sendo que os argentinos tentaram, a certa altura, jogar um rugby total, com os neozelandeses a optar por um jogo mais frio, mais “sério” e menos arriscado (só 9 offloads, quando costumam atingir uma média de 17 por jogo).

Ironicamente, os All Blacks tiveram uma postura menos “séria” do que o costume durante largos minutos do encontro, já que amealharam cerca de 18 erros forçados só nos primeiros 40 minutos… entre avants contínuos (Sonny Bill Williams ou McKenzie foram os principais suspeitos, com 3 e 5 erros de handling cada um) ou más opções (Kieran Read aos 30′ da primeira parte, saiu de uma formação ordenada e invés de passar a bola, tentou um gruber, algo incaracterístico do nº8 kiwi), os neozelandeses permitiram que a equipa adversária arriscasse e fosse subindo no terreno, ao ponto que Nicolás Sánchez conseguiu uma quebra-de-linha, para chegar à área de ensaio (Damian McKenzie fica mal na “fotografia”, já que se deixou ir na finta de passe do nº10 dos Pumas).

Todavia, como dissemos, aqueles vinte minutos finais à la All Blacks surgiram e a Argentina acabou por não ter condições para travar o maior dinamismo e agressividade neozelandesa. Mesmo com Creevy e Tuculet a darem o tudo por tudo, a avançada comandada por Kieran Read não deu hipóteses e começou a expandir o seu jogo, atingindo a área de ensaio por duas vezes em 15 minutos, para além de duas penalidades e uma conversão de Lima Sopoaga.

Para além disso, valeu a exibição de Beauden Barrett (não esteve bem ao pontapé, mas marcou um ensaio e assistiu por duas vezes colegas seus para esse fim), Vaea Fifita (115 metros do nº6, com um ensaio espectacular), Ardie Savea (18 placagens e dois turn-overs) e Nehe Milner-Skudder (o “Messi” do rugby voltou em grande forma aos All Blacks, com um ensaio e uma série de jogadas de requinte) numa vitória bonificada por 39-22.

No estádio nib, em Perth, casa dos Force (a equipa que foi “cortada” do próximo Super Rugby), a Austrália não conseguiu melhor que um empate ante uns Springboks pouco interessantes, num jogo que foi ao mesmo tempo entusiasmante como caótico para ambas as formações.

Um 23-23 no final do tempo de jogo, forçou a ambas as equipas a dividir os pontos e pensar no que podiam ter feito mais. Os Wallabies fraquejaram nas formações ordenadas (consentiram três penalidades neste aspecto) e alinhamentos (perda de quatro bolas em onze disponíveis, sendo que o grande culpado foi Eben Etzebeth, o 2ª linha Springbok), enquanto que a formação sul-africana não soube organizar bem o seu jogo ofensivo, transmitindo por vezes mal a oval, o que os levou a efectuar 8 avants durante todo o encontro.

Mas o que dizer da exibição monumental de Kurtley Beale, o 1º centro da Austrália que esteve largos meses a representar os London Wasps do campeonato inglês? Um caso difícil para parar, Beale voltou a marcar ensaio pelo 3º jogo consecutivo, tendo sido magistral na organização defensiva (quantas vezes reorganizou a linha de defesa), no breakdown (dois turnovers), na saída com bola (50 metros conquistados e uma quebra de linha) e até a pontapear a bola para longe, de forma a aliviar a pressão.

Michael Hooper foi outro Wallabie que parece estar a voltar ao seu melhor, com 10 placagens realizadas, em que numa das quais foi buscar Jesse Kriel quase à sua área de ensaio, conseguindo apanhar o centro e, deste modo, salvar a sua equipa de um ensaio que poderia ter definido o encontro. Do lado dos Springboks Steph du Toit fez uma exibição como há muito não efectuava, com três quebras-de-linha, 60 metros conquistados e um trabalho sólido tanto no alinhamento como na formação ordenada.

Foi precisamente nesse ponto que a África do Sul retirou bons dividendos pondo a equipa da casa a andar para trás ou a cometer faltas, bem aproveitadas por Elton Jantjies. Outro factor decisivo (que até resultou em ensaio) foi o maul dinâmico, com a equipa australiana a também não decidir bem em como parar. Para o sucesso destes dois factores foi fundamental o trabalho do 5 da frente, em especial de Coenie Oosthuizen. O pilar somou 16 placagens durante todo o encontro, regressando em grande forma à titularidade na formação sul-africana.

Os últimos 5 minutos foram frenéticos, com ambas as equipas a procurarem uma forma de chegar à vitória… Jantjies ainda tentou o drop mas foi bem carregado por Hooper, perdendo-se assim a hipótese de desnivelar o resultado. Com este empate, a Nova Zelândia isola-se no comando da competição com 14 pontos, mais três que os Springboks, o 2º classificado da prova.

BEAUDEN BARRETT E A IRRESISTÍVEL VONTADE DE SER O Nº1

Se julgássemos só pelos aspectos negativos, Beauden Barrett tinha realizado uma exibição medíocre: um amarelo (falta necessária para evitar um ensaio dos Pumas, apesar de ficar a dúvida senão foi agarrado por um jogador argentino para esse efeito) e três conversões falhadas aos postes, poderiam servir de cardápio para o jogo do abertura da Nova Zelândia.

Porém, quando olhamos para os números finais e os integramos no contexto do jogo, percebemos rapidamente que Beauden Barrett foi fulcral para a vitória dos All Blacks. Para além do ensaio (jogada bem estudada, com Lienert-Brown a fazer um falso que permitiu ao 10 entrar em rompante por entre a defesa argentina), Barrett assistiu por duas vezes (uma a pontapé para Lienert-Brown e outro a partir de passe para Israel Dagg), completando 40 metros com a oval nas mãos, 5 quebras-de-linha e seis defesas batidos. Para além disto, Barrett “fartou-se” de montar jogadas de ataque da Nova Zelândia com recurso ao cross-kick ou ao pontapé de colocação, que permitiu sair em ataque e meter pressão na equipa forasteira.

O 10 foi sempre um perigo à solta, seja a atacar como a defender, já que por seis vezes placou adversários, duas delas quando Creevy ou Sánchez estavam perto de chegar ao ensaio. Um médio de abertura completo, que por acaso treme, muito raramente, à frente dos postes. Mas isso belisca a qualidade e a necessidade de o ter em campo? Não!

Para além do 10, destaque para Vaea Fifita (110 metros com a oval nas mãos e o tal ensaio fenomenal que vale a pena ver!), Skudder, McKenzie, Moody (falha o que resta da competição), du Toit, Jesse Kriel, Malcolm Marx (grande jogo do talonador), Kurtley Beale, Michael Hooper e Israel Folau.

Nova Zelândia-Austrália: Highlights Jogo Todo

Austrália-África do Sul: Highlights Jogo Todo 

08h35 Nova Zelândia-África do Sul
11h00 Austrália-Argentina

Beauden Barrett (Foto: World Rugby)

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