A prestação de Portugal no Women’s REC: resultados e campanha

Francisco IsaacAbril 9, 20244min0

A prestação de Portugal no Women’s REC: resultados e campanha

Francisco IsaacAbril 9, 20244min0
Francisco Isaac começa a análise à prestação das Lobas no Women's REC 2024 olhando para a campanha da selecção em 2024

Portugal participou pela primeira vez no Women’s Rugby Europe Championship, conseguindo conquistar uma vitória ante a Suécia, mostrando que continua em grande crescimento. A primeira de três partes da análise à prestação das Lobas neste Women’s REC 2024, a começar pela campanha.

ARRANQUE MORNO E QUE MERECIA MAIS

Portugal estreou-se frente aos Países Baixos, num jogo carregado de dúvidas e em que ponto estavam as Lobas em comparação com as neerlandesas que têm tido oportunidade para jogar a um nível mais alto nos últimos jogos, possuindo uma experiência maior e atletas a actuar no campeonato inglês. Posto isto, no fim dos 80 minutos ficou a sensação que o 31-07 a favor dos Países Baixos foi, de certa forma, injusto muito por aquilo que Portugal produziu ofensivamente e pela bela réplica defensiva oferecida, isto especialmente no que aconteceu durante os primeiros quarenta minutos.

O resultado final pode sugerir que houve um desequilíbrio em termos de domínio ou qualidade de jogo, quando na realidade a equipa visitante teve só um ligeiro domínio na segunda-parte, com Portugal a ter tido claras oportunidades para obter um resultado mais positivo. Então o que explica o tal 31-07? Precipitação em determinadas acções. Este nervosismo foi relevante junto aos 22 metros, com as jogadoras portuguesas a tentar despachar a oval quando se pedia mais calma e atenção no aspecto da posse de bola e controlo desta. As poucas distrações defensivas foram sempre extremamente bem aproveitadas pela equipa neerlandesa, com Portugal a não ter a mesma dose de eficácia nas suas chances para fazer pontos. O primeiro teste foi extremamente positivo, mas ficou um sabor agridoce de que a equipa podia ter saído do Jamor com outro resultado e uma potencial surpresa.

HISTÓRIA FEITA NO ANO DE ESTREIA

Na jornada seguinte surgiu a primeira vitória de Portugal no Women’s REC 2024 e completamente merecida, já que as Lobas foram a melhor equipa desde o começo do jogo somando uma vitória por 27-00 que só pecou por escassa. As Lobas dominaram nas fases-estáticas, foram mais competentes no jogo à mão, mostraram bons pormenores na aplicação de pontapés em bola corrida e a defesa foi letal para a formação sueca que nunca teve espaço, tempo e mentalidade para contrariar o domínio da selecção nacional portuguesa.

Os quatro ensaios marcados deram uma imagem de maturidade e crescimento, lembrando que a última vez que Portugal tinha perdido por dois pontos (07-05) à Suécia, revertendo este resultado para um 27-05, uma melhoria de 29 pontos, algo a reter para o futuro. Portugal neste jogo teve alguns números que valem a pena realçar: 11 defesas batidos, 8 quebras-de-linha, 19 offloads, 129 placagens efectivas (10 falhadas) e dois turnovers. Quase 100% de eficácia no alinhamento e uma formação-ordenada que fez o seu trabalho.

SURPRESA EM ESPANHA

Portugal não jogava frente à Espanha há mais de 30 anos, com as Leonas a terem feito parte das Seis Nações até 2016 – depois foram chutadas para canto para dar entrada à Itália – e a estarem, actualmente, no WXV3 com a possibilidade de chegarem ao próximo Campeonato do Mundo. Com uma liga interna melhor, um conjunto mais apoiado estruturalmente e financeiramente, a Espanha tem uma série de vantagens a seu favor que desequilibra a balança. Porém, as Lobas conseguiram aguentar toda a experiência e maior eloquência da equipa da casa e podiam mesmo ter marcado pelo menos um ensaio na visita ao recinto Pins Vens, com a eloquência defensiva e inteligência táctica a impedirem a formação da casa de conseguir um resultado dilatado e que pudesse atingir outros números. João Moura e as 23 atletas que se deslocaram ao país vizinho lutaram até ao último minuto, faltando só uma ponta de ambição – e menos nervosismo – na hora de atacar, perdendo três ensaios na segunda-parte que com mais experiência podiam ter resultado em pontos.

De qualquer forma as Lobas efectuaram 150 placagens, falhando 30, sendo que dentro dos últimos 22 metros só errou por três vezes, um aspecto memorável e que deve servir de chamariz para o futuro. O ponto mais negativo? Alinhamento. Oito introduções perdidas e que realmente tiraram alguma confiança, ressentindo-se da ausência de Inês Marques que não pôde estar envolvida com a selecção nacional neste último encontro para o Women’s REC 2024.

Portugal teve uma primeira experiência no Women’s Rugby Europe Championship 2024, saindo da competição com 34 pontos marcados (5 ensaios) e 53 sofridos (9 ensaios), terminando acima da Suécia e com boas perspetivas de chegar a um novo patamar no futuro, caso a aposta no rugby feminino nacional continue e não fique só da obrigação do esforço de uns quantos e das atletas.


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