Lobos de ataque total somam bronze – A Bola Rápida do World Trophy

Francisco IsaacSetembro 9, 20187min0

Lobos de ataque total somam bronze – A Bola Rápida do World Trophy

Francisco IsaacSetembro 9, 20187min0
Portugal pôs fim à sua participação no World Rugby Trophy com uma exibição de gala frente à Namíbia. Com uns Lobos de ataque total a Namíbia "vergou" sem reacção

É de bronze que Portugal se “veste” no adeus ao World Rugby Trophy 2018. Uma exibição de gala durante 60 minutos deu os pontos necessários e suficientes para garantir uma das maiores vitórias lusas em campeonatos do Mundo “B”. O 67-37 conferiu o terceiro lugar à equipa comandada por Luís Pissarra, que volta a estar no pódio pelo segundo ano consecutivo, um factor histórico para o rugby português.

Esta é a última Bola Rápida ao World Rugby Trophy “B”.

ABERTURA DE PORTAS, ATAQUE RÁPIDOS E ENSAIOS A TRIPLICAR – 7 PONTOS

E para o fim ficou o melhor, ou pelo menos, a melhor exibição a atacar de Portugal no World Rugby Trophy com 10 ensaios marcados ao longo de 80 minutos de jogo. A Namíbia ofereceu uma fraca réplica a defender, lenta na leitura dos processos ofensivos, sempre frágil na defesa interior e na recuperação após uma quebra-de-linha. O ensaio genial finalizado por Martim Cardoso foi um claro exemplo disso mesmo.

Velocidade e engenho dos atletas lusos, que através de uma boa quebra da linha de  vantagem puseram a oval a mexer, enquanto que a Namíbia acabou por centrar-se mais na placagem ao jogador do que há zona, não existindo um claro apoio ao 1º placador.

Muito mérito da selecção comandada por Luís Pissarra, que foi explorando e bem os vários parâmetros do jogo para obter vantagem e domínio territorial. Foi fundamental a forma como entraram no jogo, em que a maior velocidade e capacidade de mudança de ritmos e intensidade fez sempre a diferença.

O primeiro ensaio de Manuel Cardoso Pinto foi um claro exemplo de como aproveitar a falha na cortina defensiva namibiana que mostrou-se demasiado “pesada” para fechar o caminho ao nº15… bastou ao defesa correr um segundo de lado para depois bater para dentro, sem que ninguém o conseguisse parar.

Foi a prestação mais convincente no que toca à mobilidade ofensiva, de procurar em dobrar uma equipa que foi desejava mais o engajamento físico directo sem entrar nesse choque de contacto… uma ideia inteligente e bem trabalhada que deu os tais 67 pontos finais, fazendo de Portugal uma das melhores selecções na diferença de pontos.

Destaque para o excelente Mundial de Duarte Gonçalves Pinto, Rodrigo Marta, Manuel Cardoso Pinto ou Gabriel Pop, todos com ligação directa aos avanços e pontos de Portugal, principalmente contra a Namíbia.

PLACAR COM EFICÁCIA NOS 1ºS 40′ PARA DEPOIS “OFERECER” ENSAIOS – 4 PONTOS

Durante todo o percurso de Portugal no World Rugby Trophy houve um elemento essencial para as vitórias e/ou boas exibições: defesa. Contra o Uruguai foi uma das melhores prestações das Quinas no que toca à defesa e placagem, colocando mesmo os teritos em “pânico” e perdidos na execução das movimentações, não abrindo mão deste factor durante todo o encontro.

Já contra a Namíbia essa capacidade defensiva só esteve em campo durante os primeiros quarenta minutos para depois cair em qualidade, muito devido à larga vantagem de pontos conquistada também na primeira parte. Houve menos dureza nas placagens, uma agilidade defensiva pouco consistente e uma abertura de “portas” escusadas mas que são resultados de um maior “relaxamento”.

Contudo, enquanto foi necessário pôr em acção a defesa mexida e elástica e as placagens assertivas, Portugal tirou espaço à reacção da Namíbia que nunca soube pensar o jogo ou adaptar-se à maior facilidade defensiva lusa. Essencialmente procuraram combinações simples, sem aplicar uma explosão na linha-da-vantagem que resultasse numa quebra-de-linha, faltando também procurar offloads ou outros pormenores “diferentes”.

O jogo clássico namibiano esbarrou contra uma formação que põe em prática uma tipologia de jogo mais modernizada, assente em princípios rápidos, intensidade no momento em que a bola sai do ruck, busca incessante por explorar o jogo interior com um ponta/centro ou arriscar na aplicação de uma base de avançados à ponta com auxílio do três-de-trás para derrubar a linha-de-vantagem.

Foi a exibição menos fenomenal a defender, mas isso só pode aplicar-se a partir da segunda parte, ficando na retina uns primeiros 40 minutos de claro domínio: 36-07. Falta uma segunda cortina defensiva mais desenvolvida, capaz de pôr fim aos erros individuais que se denotam muito raramente nas primeiras placagens.

NOVAMENTE… DOMÍNIO DA FORMAÇÃO-ORDENADA – 5 PONTOS

Quem viu os jogos da Namíbia pré-encontro com Portugal, preocupou-se com o físico mais desenvolvido da selecção africana, dominadora principalmente na terceira-linha e de muito peso no cinco da frente, perfazendo assim um alvo difícil de bater. Todavia, os jovens atletas lusos voltaram a dar uma lição que o “passado” é “passado” e que neste momento, “somos” uma selecção de respeito e reconhecida nesse sentido.

A Namíbia foi copiosamente dominada neste aspecto, com vários recuos na formação-ordenada, forçando o juiz de jogo a alertá-los para o facto de estarem no limiar da falta ou mesmo a fazer falta… o ensaio de Duarte Costa Campos, de saída de nº8, proveio de uma simples FO nos 5 metros adversários que depois de “andar” uns centímetros facilitou o mergulho do 3ª linha-centro.

Para além disso, os alinhamentos voltaram a ser praticamente bem executados, extraindo não só metros mas ensaios que tanto Nuno Mascarenhas ou Manuel Peleteiro terminaram como os finalizadores. Faltou mais acerto no maul, sendo que no jogo do 3º lugar passou despercebido depois da boa execução no gameplay traçado para o bloco de avançados.

Nuno Mascarenhas voltou a ser imperial (um dos melhores portugueses neste World Rugby Trophy, sendo sem dúvida um dos melhores atletas nacionais aos 20 anos) na condução, comunicação e demonstração de como sair no ruck (bom rodar para o seu 2º ensaio), João Fezas Vital mostrou-se um capitão sempre confiante e que deu as “armas” necessárias no breakdown ou no apoio ao placador e Duarte Costa Campos afirmou-se como um 8 dominador e inteligente, faltando-lhe só uma maior participação nas combinações nas linhas atrasadas.

Os avançados portugueses, a formação-ordenada e a luta junto ao ruck eram problemas há 6 anos… agora? Agora é sem dúvida uma das forças deste escalão sub-20 na luta pelo top-10 Mundial.

NOTA FINAL – 16 PONTOS

ASPECTOS POSITIVOS: ataque móvel, com boas ideias que foram sempre executadas da melhor forma possível e que resultaram em ensaios no jogo ao largo; offloads, passes do chão, apoio rápido e noções de como explorar o espaço foi uma das forças frente à Namíbia; formação-ordenada e alinhamentos voltaram a trazer benesses não só ao domínio português mas também ao placard de jogo; a comunicação entre a equipa foi sempre bem delineada, existindo uma clara harmonia de processos entre os jogadores nacionais; banco de suplentes voltou a dar uma “vitamina” numa altura em que a Namíbia queria infligir algum tipo de dano;

ASPECTOS NEGATIVOS: A eficácia na placagem só existiu durante os primeiros 40 minutos, abrindo espaço para erros individuais na segunda metade do jogo que resultaram em ensaios da Namíbia; maul andou metros mas falhou na montagem por três ocasiões, que podiam ter dado ensaio para Portugal; alguma displicência a partir do 55-10, normal perante o domínio total e resultado no jogo;

PORTUGAL: 1 – David Costa; 2 – Nuno Mascarenhas (5+5); 3 – Filipe Granja; 4 – José Roque; 5 – Manuel Peleteiro (5); 6 – Manuel Pinto; 7 – João Fezas Vital (5) ©; 8 – Duarte Costa Campos (5+5); 9 – Martim Cardoso (5); 10 – João Maria Lima (2+2+2); 11 – Duarte Pinto Gonçalves (5+2+2+2); 12 – Gonçalo Santos; 13 – Rodrigo Marta; 14 – Diogo Cardoso; 15 – Manuel Cardoso Pinto (5+5)

Suplentes: 16 – Ruben Pimentel; 17- José Sarmento; 18 – João Francisco Lima; 19 – Pedro Ferreira; 20 – Manuel Nunes; 21- Sebastião Silva; 22 – Gabriel Pop; 23 – Duarte Azevedo; 24 – Manuel Marta (5); 26 – Francisco Costa Campos.

Equipa Técnica: Luís Pissarra (Seleccionador), António Aguilar (Treinador), Verónica Rodrigues (Team Manager), António Ferreira (Médico), Paulo Vital (Fisioterapeuta) e José Paixão (Analista)

Foto: FPR

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