5 Curiosidades da final da Divisão de Honra: idades, MVPs e mais!
A final da Divisão de Honra 2018/2019 coroou a AEIS Agronomia como os novos campeões nacionais do rugby português, depois de uma época em que poucos acreditavam sequer no apuramento para a final, já que o CR Técnico (supostamente) dominou a fase regular para perder tudo num par de jornadas.
Numa final decidida em pormenores, o Fair Play apresenta 5 curiosidades, factos, honras e interesses da 3ª final entre azuis do Restelo e agrónomos no Século XXI!
JUVENTUDE TOMA CONTA DO RESTELO…E DA TAPADA
Foi mais um ano em que as equipas finalistas apresentaram uma série de atletas entre os ou abaixo dos 21 anos de idade nos seus XV e bancos de suplentes, um claro destaque para o crescimento sustentado do rugby juvenil.
CF “Os Belenenses”, AEIS Agronomia, CDUL, GD Direito, CR Técnico, CDUP, entre outros emblemas têm oferecido uma plataforma para que jogadores saídos dos sub-18 consigam prosperar e conquistar o seu lugar (resta saber se por necessidade, desejo ou até de ambos) e nesta final entre os azuis do Restelo e os agrónomos da Tapada voltámos a ter uma luta entre vários internacionais de sub-20 e até de jovens jogadores da Selecção “A” de Portugal!
Se de um dos lados estavam os irmãos Marta (algo abaixo do esperado, com o nº15 a falhar alguns pontapés aos postes e até reposições de bola que na maioria dos encontros concretizaria com sucesso), do outro estava Tomás Cabral e José da Câmara, num excelente duelo verificado nas linhas atrasadas. Contudo, quem é que detinha a média de idades mais baixa de entre as duas equipas?
Contrariamente ao que foi avançado pelos comentadores da final, a equipa mais jovem em campo foi a de… Agronomia! Num primeiro momento o leitor pode estranhar, mas observando a tabela apresenta facilmente é constatável esse facto com a equipa vencedora a apresentar um XV mais novo por 3 anos de diferença (22,6 para 25,6) e a isto se deve ao facto do CF “Os Belenenses” ter feito alinhar três veteraníssimos da modalidade: Valter Ferreira (reforçou o clube provindo do RV Moita), Salvador Cunha e Sebastião Cunha.
Entre a época passada e a deste ano, a Agronomia perdeu os irmãos Duarte (Gustavo Duarte ainda chegou a alinhar na 1ª jornada do campeonato), PJ Van Zyl (30 anos na altura) e Robert Delai (32), baixando consideravelmente a média de idades. No composto dos 23 já há um ligeiro reequilibrar, divididos apenas por 1 ano de idade, ainda assim a favor dos Agrónomos.
Tomás Cabral, nº15 da Agronomia, foi o atleta mais novo a entrar em campo (nascido em 2000) e ,igualmente, o estatuto do jogador mais velho na final pertenceu a um agrónomo: Tomás Gonçalves.
Duas equipas que têm feito uma aposta concreta na juventude com uma ajuda de alguns atletas estrangeiros, assumindo para já o domínio das competições nacionais nos últimos três anos!
DAVID WALLIS… O 3ª LINHA QUE MERECEMOS E PRECISAMOS!
Numa final jogada mais no físico que propriamente nos rasgos técnicos (quando as equipas arriscaram um pouco mais tivemos direito a dois bons ensaios, como o de Duarte Azevedo, numa movimentação típica à Belenenses), em que a determinação por contestar o breakdown, de impedir fugas no contacto e de constante luta por cada milímetro de espaço, levou a que poucos jogadores se sobressaíssem durante os 80 minutos.
Todavia, houve um que foi de uma classe total no jogo sem bola e outro que surpreendeu pela imensa qualidade demonstrada… falamos de David Wallis e Tomás Cabral.
A nomear um MVP do encontro não haveria margem para dúvidas entre estes dois, sendo que o asa do CF “Os Belenenses” foi um trabalhador incansável, um placador nato, persistindo na luta pelo domínio no ruck.
David Wallis está fadado para os grandes jogos, superando-se a cada nova final, munido de um excelente reportório de estratégias defensivas, como ficou bem patente durante os primeiros 40 minutos de jogo, altura em que o Belenenses estava definitivamente por cima do encontro.
É um atleta que cresce a cada nova época e terá de se assumir como titular da Selecção Nacional “A” dentro de pouco tempo, mesmo que a competição interna seja intensa, algo fundamental para o crescimento do rugby português.
Por fim, há que destacar a exibição de Tomás Cabral, tanto a atacar (aquela estupenda recepção ao pontapé de João Freudenthal por exemplo) como a defender (tem uma placagem determinante que evita o avanço de Vasco Poppe pela ponta), naquilo que é uma prova clara que a formação de Agronomia está estabelecida como uma das melhores em Portugal.
IRMANDADES MAIS VELHAS FICAM SEM O CANECO
É um pormenor que pode passar em despercebido, mas que vale a pena destacar: a equipa que teve a dupla de irmãos mais velha em campo, perdeu as últimas três finais, contando com a desta temporada. Em 2016/2017, a Agronomia apresentou os irmãos Duarte enquanto que o CDUL teve os Foro do seu lado… saíram vencedores os universitários de Lisboa.
Em 2017/2018, Gustavo e António Duarte jogaram a sua última final pela equipa da Tapada da Ajuda e acabariam por perdê-la para três duplas de irmãos: Marta, Freudenthal e Cunhas.
E chegamos à edição deste ano em que a dupla de irmãos mais velha estava do lado dos azuis do Restelo, nos irmãos Cunha. A AEIS Agronomia entrou para uma final sem qualquer irmão de sangue dentro de campo (existem dois pares de irmãos no plantel agrónomo, os Andrade e Monteiro, mas os irmãos mais novos não foram convocados) e conquistou o título… pura coincidência, mas não deixa de ser curiosa esta “costela” do rugby português, dos vários irmãos a coabitarem a mesma equipa durante anos a fio.
Durante quase duas décadas foram os irmãos Duarte na Tapada da Ajuda, idem para os Uva em Monsanto, os Foro no Estádio Universitário e desde há vários anos, os Cunha no Belenenses.
A maldição de que a equipa que tem os irmãos mais velhos dentro de campo perde, começou em 2016 depois de anos a fio com os irmãos Uva a conseguirem sair de campo com a vitória na maioria das ocasiões.
PAGAMENTO À ENTRADA… PRINCÍPIO BOM OU MAU?
Poderíamos ter oferecido o 4º ponto para o facto da Agronomia ter ganho ao Belenenses pela mesma diferença pontual em que a formação do Restelo derrotou a equipa da Tapada em Setembro de 2018, mas optámos por falar da bilheteira, um tema minimamente polémico para alguns dos seguidores do rugby nacional. 10€ para ter acesso a uma final de campeonato, a 60ª da História do rugby português, parece ser um valor alto?
Em comparação com o andebol, hóquei em patins, futsal, voleibol, o rugby tem a má prática de não cobrar valores pelas finais de Campeonato(s) e Taça de Portugal, algo que prova o excessivo amadorismo com que se dirige a modalidade.
Para ver um jogo da fase final de andebol o bilhete mais barato custa cerca de 10€ (se for em casa do Madeira SAD ou clubes fora dos “grandes”), sendo que no voleibol o bilhete mais barato para as finais entre o SL Benfica e Sporting CP esteve nos 10€ (mínimo).
Por isso, porque é que numa final entre CF “Os Belenenses” e AEIS Agronomia não se deveria colocar um valor à entrada do recinto de jogo? 10€ afasta um adepto de alguma das equipas ou até de um membro da comunidade do rugby? O ser de graça garante uma bancada cheia ou simplesmente prolonga o status quo do rugby português se olhar para si próprio como uma modalidade pequena?
Contudo, o grande problema não foi colocar um valor de entrada, nem o facto de ter sido 10€, mas sim pela forma como foi anunciado e explicado ao público. A Federação Portuguesa de Rugby já sabia da data da final há meses e teve largo tempo para organizá-la com pompa e circunstância… infelizmente, o período conturbado na modalidade, as eleições em Abril e a falta de staff impediram que existisse uma agilização para a organização do evento e pareceu que tudo estava à espera de saber o que os finalistas desejavam do jogo de apuramento de campeão.
Mas passando este problema, porque é que a comunicação da Federação Portuguesa de Rugby não anunciou logo no dia 12 de Maio (altura em que já se sabia quem eram os finalistas) os preços dos bilhetes, explicando num comunicado o porquê da importância desta decisão, movendo os adeptos portugueses da oval no sentido certo, para além de esclarecerem esta posição de uma forma mais natural e aberta? Mais uma vez foi infeliz a forma como foi comunicada uma decisão da FPR e ainda por mais quando só foi noticiada abertamente no dia 17 de Maio…
Bilhetes com preços são uma mais valia assim como o policiamento e melhores condições de segurança (os adeptos portaram-se, geralmente, bem com um excelente espírito sem problemas, mesmo com adeptos de ambos clubes sentado uns ao lado dos outros), conquistando-se um certo profissionalismo nas organizações. Contudo, a contínua desconsideração pelos adeptos e falhas na comunicação não são o caminho a seguir e abrem logo para uma crispar de emoções.
1ªS LINHAS DE NOME INTERNACIONAL MAS COM COSTELA LUSA
Outra curiosidade desta final foi para o facto das primeiras-linhas titulares terem só envolvido um atleta português, com esse único a ser Giorgi Turabelidze (tem nacionalidade portuguesa e está nos convocados de Martim Aguiar para os treinos de preparação para o jogo frente à Alemanha) que alinhou pelos agrónomos.
O talonador João Moreira seria outro português com suposta titularidade anunciada, pois reteve esse estatuto até à penúltima jornada da fase regular, mas acabou por ceder o lugar nos últimos encontros para Kenneth Delaiono, sofrendo o mesmo destino na final.
Contudo, nos bancos de suplentes estavam 5 portugueses para substituir os titulares, entre eles os internacionais sub-20 Frederico Simões e Manuel Bonneville no CF “Os Belenenses” (e Luís Silva), para além dos internacionais A, Gonçalo Domingues (formando no Moita Rugby Clube da Bairrada) e João Moreira (formado no RC Montemor).
A importância da primeira-linha do Belenenses fez-se sentir na 1ª parte, com Joe Picket a dar os comandos certos no trabalho na formação-ordenada, nos mauls dinâmicos e nas fases curtas saídas do ruck. Para infelicidade dos campeões de 2017/2018, quando Picket, Havea e Kent deixaram de ter “gás” para manter o mesmo ritmo, o CF “Os Belenenses” não só caiu de rendimento como entregou o domínio do território a Agronomia, que teve precisamente em João Moreira o elo de sucesso na parte final do encontro.
O rugby português não é só feito por jogadores nascidos e criados em território nacional, como de atletas estrangeiros que decidem apostar em vir jogar para Portugal, integrando-se e ocupando um lugar especial na modalidade.
3 comments
José Luis Machado Santos
Maio 23, 2019 at 7:18 pm
O problema dos bilhetes a 10€ não é o valor mas sim as condições oferecidas. ( nenhumas)
Antonio Ferreira Marques
Maio 23, 2019 at 2:15 pm
” … Outra curiosidade desta final foi para o facto das primeiras-linhas titulares terem só envolvido um atleta português, com esse único a ser Giorgi Turabelidze (tem nacionalidade portuguesa e está nos convocados de Martim Aguiar para os treinos de preparação para o jogo frente à Alemanha) que alinhou pelos agrónomos. …”
Giorgi Turabelidze vive nas Caldas da Rainha e foi formado no Caldas RC, onde alinhou até à época2016-2017, chegando à equipa Senior. Com família na Irlanda jogou no Terenure College antes de ingressar no Agronomia na época 207-2018.
Francisco Isaac
Maio 23, 2019 at 2:37 pm
Exacto. Colocámos a explicar que é português de forma a não aparecerem os comentários do costume a dizer que o referido jogador é estrangeiro “disfarçado”. No futuro faremos uma entrevista ao antigo pelicano 😉