3 Destaques da 4ª semana dos British and Irish Lions 2021

Francisco IsaacJulho 18, 20218min0

3 Destaques da 4ª semana dos British and Irish Lions 2021

Francisco IsaacJulho 18, 20218min0
Os Lions sofreram a 1ª derrota do tour, mas ficaram mais dúvidas que certas explicadas neste artigo de Francisco Isaac

Os Lions sofreram a primeira derrota deste tour 2021, graças a uma exibição de qualidade da África do Sul “A”, ou, se quisermos, uns Springboks com menos 3 titulares, com várias dúvidas a ficarem no ar sobre a qualidade ou não do elenco de Warren Gatland. Todavia, esta derrota deverá ser vista com outros “óculos” que não os de apocalipse total, pois foram oferecidas mais certezas que dúvidas, como explicamos neste artigo!

A NOTÍCIA DE ABERTURA: ALUN WYN JONES ESTÁ DE REGRESSO

Quem poderia alguma vez pensar que Alun Wyn Jones conseguisse recuperar de uma luxação no ombro (não foi total, como se pensava na altura) para estar pronto a tempo dos três jogos das series entre os British and Irish Lions e os Springboks, que arrancam dia 24 de Julho? A lesão surgiu nos primeiros minutos frente ao Japão em Murrayfield e, no pós-jogo, foi revelado que o capitão da selecção britânica-irlandesa ficaria de fora de toda a tour, tendo até passado a capitania para Conor Murray, deixando assim um enorme vazio no que toca à liderança e exemplo, no trabalho excepcional no alinhamento e de um jogador munido de um espírito de sacrifício extraordinário e que pode inspirar os seus colegas nos momentos X de qualquer encontro.

Na primeira semana após os Lions terem aterrado na África do Sul, começaram a surgir rumores no sentido de uma recuperação formidável e impensável, abrindo-se a possibilidade do 2ª linha estar pronto para se juntar à equipa e poder ser convocado para o segundo ou terceiro encontro ante os Springboks, surgindo Alun Wyn Jones como um aditivo decisivo em todos os parâmetros possíveis. Contudo, e contra todas as expectativas negativas, o lendário avançado do País de Gales não só estará pronto para os encontros com os boks como jogou no último duelo frente às franquias locais, os Stormers, naquilo que foi uma recuperação sensacional, depois de ter sofrido a lesão há 18 dias atrás.

Fisicamente, os especialistas que acompanharam o 2ª linha galês, confidenciaram que a recuperação foi quase única, mostrando uma evolução positiva atípica do problema físico sofrido, recebendo a luz verde para voltar aos treinos e jogar, partilhando, no entanto, uma observação importante: o facto da carreira de Alun Wyn Jones estar a aproximar-se do fim, funcionou a seu proveito. Poderá ele alterar o favoritismo das series? Será assim tão importante para a mentalidade e capacidade de resposta dos Lions? Não há dúvidas que a resposta a qualquer uma destas perguntas é afirmativa, pois não há melhor líder dentro de um campo de rugby nas ilhas britânicas-irlandesas que o “gigante” galês, que confere outra certeza e confiança à sua equipa, para além de ser um trabalhador nato e importante de ter no alinhamento, formação-ordenada ou na condução de bola no contacto.

A ANÁLISE AO(S) JOGO(S): DERROTA COM A ÁFRICA DO SUL “A” REVELA ALGUMA COISA?

Respondendo à pergunta do título, sim e não. No que toca às revelações, vai para o facto de Owen Farrell ter sentido algumas dificuldades no conseguir encaixar e se sobressair quando começa como abertura quando encontra uma selecção com o estilo de jogo da África do Sul, pois o facto do inglês não ser um talento na criatividade com e sem a bola nas mãos facilita o processo defensivo dos boks, isto e apesar de Farrell ser um líder táctico de franca qualidade. Também foi revelado que os Lions têm uma formação-ordenada consideravelmente forte, tendo até conquistado duas penalidades nessa fase-estática, algo interessante e diferente, lançando um sério desafio aos Springboks, pois é nesta luta dos 8 contra 8 que os sul-africanos gostam de exercer o seu domínio físico e mental.

Outros pequenos pormenores “descobertos” foram: a contrarresposta ao maul dinâmico contrário, roçando a linha do ilegal por vezes; Tom Curry pode ser uma peça fundamental no ganhar metros no contacto ou mesmo no espaço, porém falta-lhe algo de diferente quando consegue a quebra-de-linha; o jogo ao pé não está ao nível do esperado, pois várias vezes viram boas situações de ataque a serem perdidas por pontapés frágeis que até terminaram em intercepções do adversário, como aconteceu no ensaio de Nkosi (bloqueio de bola a um pontapé de Owen Farrel) ou numa boa situação de ataque perdida por um cross-kick pouco trabalhado.

E do lado do que ficou “escondido”, o que há para analisar? Os Lions dispuseram de 10 penalidades nos últimos 10 metros da área-de-validação dos Springboks e nunca optaram pela formação-ordenada ou alinhamento, preferindo seguir rápido e construir fases até chegar ao ensaio ou perderem a posse de bola. Mesmo quando estavam a jogar contra 13, nos últimos 5 minutos da primeira-parte, mantiveram esta estratégia que deixou a maior parte do público surpreendido negativamente, lançando uma pergunta em comum: estaria Warren Gatland a esconder algo? Na nossa opinião, muito possivelmente o seleccionador quis esconder o plano de jogo a partir das combinações e as potenciais ligações a partir das fases-estáticas, negando assim qualquer dica a Rassie Erasmus e Jacques Nienaber, o que coloca uma nuvem de dúvidas e questões que só aguçaram o interesse pelos três test matches entre ambas selecções.

Outro facto não revelado, tem a ver com o XV titular, pois no fim do encontro assistiram-se a várias mexidas estratégicas, resistindo a dúvida se será Bundee Aki, Chris Harris ou Robbie Henshaw a jogar ao lado de Owen Farrell na combinação de centros, se Ali Price poderá ser a “cartada” inesperada de Gatland pois nem Murray ou Davies mostraram ter a velocidade ou génio técnico para desbloquear o jogo mais cerrado dos ‘boks ou de quem vai acompanhar na 3ª linha a Taulupe Faletau e Tom Curry, pois Hamish Watson tem vindo a ser um dos melhores do tour.

A vitória por 17-13 da África do Sul “A” (só falta Bongi Mbonambi, Siya Kolisi, Makazole Mapimpi e Handré Pollard do XV titular, não estando cogitados Duane Vermeulen e RG Snyman para as series devido a lesões) não foi grave, nem merece especial atenção ou um cenário de pânico geral, tendo servido só para apimentar aquilo que serão três jogos de um nível magnânime.

O ALERTA: FINN RUSSELL KO

Não é uma boa notícia e, para adensar ainda mais à trama, Liam Williams poderá estar na mesma situação que o abertura da Escócia, pois os testes de concussão poderão colocar o polivalente galês de fora até ao 2º encontro. Mas, em termos de importância, Finn Russell é a complicação mais delicada para Warren Gatland e Gregor Townsend, pois parte da estratégia e lógica de jogo rápida, intensa e imprevisível advinha da capacidade única do nº10 escocês, que possui aquele dom para desfazer a bola de “novelos” quando quer, seja através daquele jogo ao pé ardiloso ou do poder de transmissão de bola de requinte.

A lesão sofrida forçou a convocatória de Marcus Smith, que se estreou em grande contra os Stormers, podendo o médio-de-abertura inglês ser um substituto de qualidade de Finn Russel, sem estar ao nível deste último, pois a experiência, capacidade de leitura e a visão de jogo são de um patamar bem superior.

Pelo que se ia percebendo, Gatland procurava combinar Finn Russel com Owen Farrell e Chris Harris/Elliot Daly, criando ainda uma ligação de soberba qualidade com Stuart Hogg, tendo tudo para oferecerem uma estratégia ofensiva especial, adicionando-se ainda o jogo ao pé e o trabalho sem bola que estes 4/5 nomes juntos possuem. Sem Finn Russell, pelo menos até ao 2º teste, o staff técnico dos Lions terá de procurar respostas em Dan Biggar, ficando a dúvida se será suficiente para criar roturas defensivas aos Springboks, que preferem atacar um 10 mais “parado” do que ficar à espera da possível influência de um abertura imprevisível como Finn Russell.

OS STATS QUE NOS INTERESSAM

Maior marcador de pontos: Marcus Smith – 14 pontos
Maior marcador de ensaios: Vários – 1 ensaio
Jogador com melhor dados no(s) jogo(s): Marcus Smith – 2 quebras-de-linha, 5 defesas-batidos, 1 assistência e 60 metros conquistados;
Lesão preocupante: Finn Russell (abertura) – 3 semanas
Jogador que surpreendeu: Adam Beard (2ª linha) – tem força para se fazer sentido no alinhamento, sendo ainda um perigo para o breakdown e no sair a jogar rápido;


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