15 minutos à All Blacks, chega? – Rugby Championship 2018

Francisco IsaacSetembro 10, 20188min0

15 minutos à All Blacks, chega? – Rugby Championship 2018

Francisco IsaacSetembro 10, 20188min0
A Argentina ofereceu uma boa réplica mas no final foi a Nova Zelândia a dar um show. 15 minutos à All Blacks para levar o jogo de um aperto para uma diferença de 20 pontos!

ARGENTINA TEVE O TERRITÓRIO E POSSE MAS… NÃO CONTROLOU OS ALL BLACKS!

Resultado no final de jogo: 46-24; Resultado ao intervalo: 18-07. Ou seja, a Nova Zelândia esteve quase sempre a ganhar e mesmo com o domínio do território dos seus adversários, soube controlar o jogo para terminar com um autêntico frenesim no ataque. O quase vai para quando aos 15 minutos de jogo, altura em que Ramiro Moyan estreou a área dos All Blacks e pôs a Argentina a ganhar… a vantagem durou três minutos.

Ao exemplo do que se passou em 2017, em que os Pumas estiveram a ganhar por 22-15 para depois perderem essa lead, a Argentina não foi suficientemente forte para aguentar o contra-ataque neozelandês, que deu um autêntico show de offloads e do apoio muito rápido a surgir nas entre-linhas. Foi o dia ideal para meter TJ Perenara a titular, com o formação suplente a ser uma autêntico dínamo na hora de pôr a defesa dos argentinos a recuar.

Com o primeiro ensaio de Milner-Skudder, os All Blacks estabilizaram o seu jogo e entraram num confronto decidido sempre nos detalhes… a Argentina com uma defesa impressionante no primeiro contacto, atirando as investidas kiwis para trás (Richie Mo’unga fez uma estreia mediana, não conseguindo ter a liberdade para organizar a linha-de-ataque como gosta), enquanto que a Nova Zelândia ia forçando erros dos seus adversários nos alinhamentos e formação-ordenada, algo que lhes tirou possibilidade de pontos em momentos cruciais.

Sobretudo, houve um pormenor que “tramou” a Argentina, algo que continua a ser uma espinha no ataque dos Pumas: penalidades. Ao todo foram 14 faltas cometidas durante 80 minutos, algumas surgiram no breakdown na altura em que estavam a aplicar e ampliar a pressão sobre a defesa contrária.

Faltou o apoio correcto ao jogador placado, algo que já tinha sido vislumbrado no duplo-encontro com a África do Sul. Por vezes muitos jogadores no ruck não é símbolo de sucesso e a Nova Zelândia voltou a usar os erros do adversário para adiantar-se no marcador.

Recuperaram a oval no breakdown, foram ao alinhamento e depois foi só apostar numa sequência de picks para TJ Perenara encontrar um espaço por entre os defesas contrários para mergulhar e fazer o segundo ensaio do jogo. A Argentina mostrou sempre um rugby mais vibrante, com boas sequências de ataque em que surgiam as boas entradas de Moyano, Boffelli e do MVP dos Pumas, Nicolás Sánchez.

O abertura foi um “abre-latas” com quatro quebras-de-linha e seis defesas batidos, dando um autêntico espectáculo aos adeptos neozelandeses que esperavam por um jogo mais “calmo” em termos de intensidade ou dinâmicas. Apesar da Nova Zelândia ter estado na frente do placard desde os 18′, foi sempre um jogo instável para ambas as formações que erraram mais do que o normal, especialmente no caso da selecção da casa: 18 erros forçados.

A saída de Broadie Retallick e Ngani Laumape por lesão também tirou algum do virtuosismo e poder de choque que os bicampeões do Mundo em título e os Pumas aproveitaram essa questão para terem mais espaço para “aguentarem” o jogo dos seus adversários.

Depois do ensaio de Kieran Read (formidável como o 8 está a mostrar que ainda é o “rei” na sua posição, pelo menos no Hemisfério Sul), iniciou-se uma “toada” jogada entre os 40 metros de cada um dos intervenientes… a Argentina chegava aos 22′, fazia falta e recuava… a Nova Zelândia recupera a oval, ia ao alinhamento e perdia o controlo da mesma num avant ou passe para a frente… foi, por assim dizer, caótico.

O ensaio de Moyano aos 70′ relançou o jogo, com 8 pontos a separar as duas equipas. Porém, no momento certo apareceu Damian McKenzie, de certa forma o catalisador necessário para fazer o jogo mexer nos últimos 10 minutos. Nos 5 pontos de Shannon Frizell (18 placagens, 5 quebras-de-linha, 1 ensaio, 70 metros conquistados e dois turnovers) é o fantasista a quebrar todas as leis da física, ao surgir lançado em três acções de ataque… foi só dar estocada nos Pumas e “resolver” o jogo.

A Nova Zelândia voltou a ser mais forte, mais fria e inteligente enquanto que os Pumas procuram ser uma formação vibrante, emocionante e de uma agressividade total no contacto. Ficou a promessa que terá de ser em Buenos Aires o momento da viragem… será que vai acontecer?

CONFUSO, COMPLICADO E CAÓTICO: O TÍPICO WALLABIES-SPRINGBOKS!

Quem gosta de jogos imprevisíveis e de uma intensidade estranha, mas alta, de momentos de bom jogo mas também carregado de erros constantes e péssimas leituras de jogo ou decisões mal tomadas? Bem então se gostam destes elementos todos basta verem ou reverem o encontro entre Wallabies e Springboks realizado em Brisbane. O 23-18 esteve sempre ameaçado por um ensaio iminente dos ‘boks que não chegou porque… cometeram erros demasiado “infantis” para chegar à área de ensaio da Austrália.

Mas recuemos ao início do encontro para perceber o que realmente se passou. A Austrália entrou em campo com menos três titulares com as lesões de Adam Coleman, David Pocock e Israel Folau, o que retirou desde logo estabilidade no alinhamento, recuperação de bola no turnover e velocidade nas linhas atrasadas ou recuperação no “ar” da oval. Sem estes três titulares, os Wallabies iam a jogo algo “coxos” e passariam por claras dificuldades frente à potente e dura avançada sul-africana que teve alguns problemas também.

Malcolm Marx foi posto no banco de suplentes, um pormenor muito estranho devido às boas exibições do talonador dos Lions. Pode-se explicar exactamente pela lógica de Rassie Erasmus querer mais soluções para os “seus” Springboks, dando a Bongi Mbonambi a possibilidade de se assumir como uma solução de relevo no rugby sul-africano. Porém, numa fase em que a confiança dos ‘boks está no limiar de voltar a quebrar, não colocar a melhor equipa em campo em todos os jogos pode ser um risco demasiado comprometedor.

Por isso, Michael Cheika e Rassie Erasmus decidiram baralhar as “cartas” e apostar em estratégias algo diferentes, de arriscar numa leitura mais imprevisível e destrutiva a nível físico especialmente na primeira metade do jogo. Nesse sentido, tivemos direito a um caos completo em termos ofensivos, algo que promoveu um espectáculo de placagens e de defesas que se revelaram francamente boas na defesa “normal”.

O que isto quer dizer? Que sempre que a Austrália ou África do Sul tentaram fazer algo diferente nas combinações de ataque, correu mal seja pelos erros próprios ou na falha de comunicação entre unidades de ataque. Exemplo disso foi Marika Koroibete, com o ponta australiano a cometer uma série de erros de handling depois de Haylett-Petty ou Kurtley Beale (médio-de-abertura já não é uma posição ao seu alcance, pois perde-se neste sector quando podia dar bem mais no par de centros) inventarem um espaço para atacar por.

Este mal aplicou-se também a outras unidades dos Wallabies ou Springboks, que realizaram um jogo muito abaixo do que se esperava no que toca ao trabalho nos pormenores e no cuidado ao carregar a oval.

A impaciência foi um mal geral de ambas as formações que entraram num ritmo de jogo quezilento, sem a “magia” atacante que este encontro merecia. Também houve invenção a mais e uma demonstração desse problema foi o ensaio de Matt Toomua (belo regresso do centro) que só teve de interceptar a bola depois de um alinhamento mal esboçado por Mbonambi que terminou nas mãos do centro.

Foi sempre este empilhar de erros que dominou este “clássico” do rugby Mundial no geral… e no final dos 80 minutos, quando os Springboks tiveram a oportunidade de pelo menos empatar voltou a soar a “corneta” dos erros de comunicação. Depois de três penalidades a favor, 20 fases a atacar, pick após pick, entrada após entrada, Faf de Klerk vai cometer um erro: passe mal atirado com Bernard Foley a interceptar e depois só tiveram de meter a bola fora.

Os Springboks somam assim a segunda derrota consecutiva, a terceira nos últimos quatro jogos da era Rassie Erasmus. O que vai acontecer em terras de All Blacks? E os Wallabies vão conseguir aguentar com o maior impacto físico e magia da Argentina?

EQUIPA DA SEMANA: Steven Kitshoff, Codie Taylor, Ben Franks, Franco Mostert, Guido Petti, Shannon Frizell, Ardie Savea, Pete Samu, TJ Perenara, Nicolas Sanchez, Ramiro Moyano, Matt Toomua, Jack Goodhue, Nehe Milner-Skudder e Ben Smith

JOGADOR DA SEMANA: Shannon Frizell (Nova Zelândia)

PONTUADOR MÁXIMO: Nicolás Sánchez (Argentina) com 14 pontos

MELHOR ENSAIO: Jack Goodhue (Nova Zelândia)


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