Retrospectiva da Superfinal da Liga Europeia: Parte II

André CoroadoSetembro 26, 20187min0

Retrospectiva da Superfinal da Liga Europeia: Parte II

André CoroadoSetembro 26, 20187min0
Portugal acabou por ter de se contentar com o terceiro lugar na Superfinal da Liga Europeia, em resultado de uma derrota com a Espanha na fase de grupos. Globalmente, os comandados de Mario Narciso deixaram boa imagem na Sardenha, mas fica a ideia de que, limando umas arestas, a medalha poderoa ter sido outra...

A selecção nacional de Portugal apresentou-se na Superfinal da Liga Europeia a um nível globalmente superior àquele que se tinha observado nas etapas da Liga Europeia em Baku e na Nazaré, conforme o atestam as exibições vistosas dos dois primeiros jogos, exemplificativas de grande poderio ofensivo: vitórias sólidas sobre Suíça (7-4) e Azerbeijão (9-0). O quatro de campo formado por Coimbra, Jordan, Bê Martins e Léo Martins tornou a encontrar a sua melhor forma, causando abundantes dores de cabeça às defesas adversárias.

Por outro lado, o cinco de campo constituído por Torres, Bruno Novo, Madjer e Belchior (regressado após 17 meses de ausência) continuou a insistir propositadamente no sistema 2:2, que apesar de mais bem trabalhado do que anteriormente não parecia ainda suficientemente perigoso para causar estragos numa equipa bem organizada. É notória, em todo o caso, a melhoria da comunicação entre os dois jogadores mais recuados e os mais adiantados: Belchior e Torres foram mais procurados do que Ricardinho e Von em ocasiões anteriores, em parte devido ao regresso da visão de jogo e qualidade de passe de eleição de Bruno Novo. Portugal segurava assim mais a bola e desgastava as defensivas adversárias, ainda que nem sempre revelasse as melhores soluções ofensivas.

Defensivamente, a selecção como um todo mostrou grande maturidade e solidariedade nos dois primeiros jogos, sendo a única nota a apontar algum excesso de faltas cometidas contra a selecção helvética na partida inaugural. Em todo o caso, o rigor defensivo apresentado augurava boas perspectivas para as fases decisivas da prova, e Portugal partia para o embate diante da Espanha, que garantia o acesso à final, como favorito.

O problema: Espanha

Todavia, se o percurso espanhol no grupo A fora mais atribulado do que o lusitano (vitórias tangenciais por 5-4 e 4-3 contra suíços e azeris), a qualidade da equipa orientada por Joaquín Alonso não estava em causa, dotada de um plantel relativamente jovem, mas experiente, capaz de colocar em prática um estilo de jogo simples, mas pragmático, tirando partido das suas melhores armas e das fraquezas dos adversários. Foi exactamente esse o segredo da vitória espanhola contra Portugal, que contou ainda com um obstáculo adicional: a expulsão de Bê Martins ainda muito cedo na partida, obrigando Mário Narciso a adaptar os quatros de campo, fazendo entrar Ricardinho para o lugar do jogador excluído. O trio maravilha formado por Jordan, Bê e Léo ficava assim desfeito e apesar da vontade mostrada por Ricardinho (que ainda não tinha jogado na Superfinal), o entrosamento dos jogadores em campo não foi suficiente para a manutenção dos níveis de produtividade mostrados em partidas anteriores.

Apesar de Portugal ainda ter conseguido alcançar a vantagem no marcador por 3-2, Portugal nunca controlou o rumo dos acontecimentos na partida e acabaria por permitir a reviravolta espanhola. No entanto, é importante realçar a forma como foram obtidos os golos: em ambas as jogadas, a Espanha montou o sistema 2:2 realizando uma tabela entre os dois jogadores mais recuados, bem abertos nas alas, uma situação que Portugal não estava a conseguir defender convenientemente esta época. A fragilidade foi astutamente observada pelos vizinhos ibéricos, que dela fizeram bom uso e apontaram dois golos muito semelhantes que lhes valeram o passaporte para a final. Numa análise global, é lícito afirmar que a Espanha não foi claramente superior a Portugal, que nada mais poderia ser exigido aos jogadores nacionais. Inclusivamente, é nossa convicção de que, jogando ao seu melhor nível e colmatando as assimetrias, a selecção das quinas supera qualitativamente a congénere peninsular. Mas tacticamente a Espanha mostrou ter a lição mais bem estudada, o que se traduziu em maior eficácia e uma vitória justa da melhor equipa em campo.

Pelo bronze, até ao derradeiro segundo!

No jogo do terceiro lugar, a ambivalência persiste: por um lado, foram novamente detectados problemas em determinados momentos do jogo; por outro lado, é louvável a resiliência dos jogadores portugueses, que mesmo a perder por 2 golos no último minuto de jogo conseguiram empatar a partida, e mesmo em desvantagem no prolongamento conseguiram levar a decisão para as grandes penalidades. Deve também ser reconhecido o mérito de Mário Narciso e da sua equipa técnica, juntando Belchior, um pivô de raiz, à equipa de Coimbra, Jordan e Léo Martins, possibilitando assim tirar maior partido das características de Belchior e libertando Léo para desequilibrar na ala. A produtividade de Belchior subiu: o número 10 português, que tinha começado a competição a meio gás e tinha vindo a crescer, acabou por se converter no herói da conquista do bronze. Salvaguardando o mérito do pivô do Sporting, a mudança passa também pela utilização do pivô num sistema mais próximo do 3:1, sem recurso excessivo ao 2:2, apoiado por alas desequilibradores como Jordan e Léo.

No nosso entender, uma maior mesclagem de jogadores dos dois quatros de campo poderia ser benéfica para equilibrar a qualidade da equipa, por forma a conseguir imprimir o ritmo de jogo necessário à partida (abrandar quando necessário, mas também acelerar de maneira a potenciar maior pendor ofensivo) e para tirar partido da qualidade dos jogadores. Além disso, a excessiva insistência no sistema 2:2 vem acentuar essa tónica, acabando por atrasar demasiado o jogo e congestionar a fluidez do ataque lusitano, que se mostra então sem soluções. Tal como Belchior no início da competição, também Ricardinho e João Gonçalves foram por vezes prejudicados ao longo da época e viram a sua produtividade (e tempo efectivo de jogo) reduzido.

Finalmente, não podemos deixar de realçar o aspecto defensivo, em que Portugal mais uma vez vacilou. Ciente dos problemas verificados na véspera, Portugal alterou a forma de defender o 2:2 e procurou realizar uma maior pressão sobre o guarda-redes e os alas, mas em contrapartida deixou o fixo responsável pela marcação dos dois pivôs adversários até a ajuda chegar; por duas vezes, a ajuda não chegou a tempo e a Rússia chegou ao golo. Tratam-se estes de assuntos a rever, pois a defesa ao sistema 2:2 não funcionou nesta Superfinal e foi, muito provavelmente, a razão pela qual a equipa das quinas não chegou mais longe.

O que esperar?

Em conclusão, realçamos a manutenção de Portugal na elite restrita do futebol de praia europeu, mercê do trabalho de grande valor desenvolvido por jogadores e equipa técnica, mas constatamos também que, se Portugal e Rússia estavam um nível acima da concorrência europeia no ano transacto, estão a ser pelo menos alcançados por italianos e espanhóis no que a qualidade demonstrada em campo diz respeito. O conjunto luso tem, acreditamos, o talento e a capacidade para recuperar a hegemonia europeia de uma forma mais clara, mas para tal é pertinente rever detalhes defensivos e fomentar um maior equilíbrio no seio do plantel, bem como um aumento do ritmo de jogo que poderia passar pelo regresso ao 3:1, com eventuais inovações a partir daí.

Por último, aplaudimos a continuação da chamada de jogadores como Ricardinho, João Gonçalves e André Lourenço, que deixaram boas indicações ao longo da temporada, mas consideramos que esta aposta na juventude deve ser ainda mais firme, por forma a preparar da melhor forma estes e outros jogadores com qualidade no campeonato nacional (Pedro Vasconcelos Silva, André Félix, Bruno Henriques, Filipe Oliveira, Fábio Costa, entre outros) para ajudarem a selecção a permanecer na senda do sucesso futuramente. A convocatória e utilização efectiva destes jogadores nesta fase é crucial para não desperdiçar o contributo destes novos valores, para evitar que os anos passem sem chegarem a desenvolver o seu potencial e sem oferecerem à selecção nacional aquilo de que Portugal precisa para lutar por títulos, conforme é apanágio de uma selecção com um palmarés recente tão rico.


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