Quartos da Euroliga: emparelhamento e argumentos dos candidatos

Lucas PachecoMarço 2, 20238min0

Quartos da Euroliga: emparelhamento e argumentos dos candidatos

Lucas PachecoMarço 2, 20238min0
Lucas Pacheco explica quem se apurou para os quartos-de-final da Euroliga e diz-nos quem está mais perto do título

A Euroliga viveu nesta última semana as últimas partidas da fase de grupos, com a definição das oito equipes classificadas para as quartas-de-final. O equilíbrio visto no turno não se manteve no returno e o poderio dos times mais tradicionais prevaleceu. Tida como azarão no grupo A, a equipe polonesa de Polkowice não era apontada como candidata à vaga e lutou bravamente até a penúltima rodada; porém, a ausência de sua protagonista nas três rodadas finais pesou. Sem a pivô Stephanie Mavunga, o time perdeu o confronto direto contra o Bourges e acabou na honrosa quinta posição do grupo, sem atingir as quartas.

Fenômeno semelhante ocorreu com o húngaro DVTK no grupo B, que perdeu tração na etapa final e acabou eliminado. Em um grupo altamente competitivo, sem clara favorita, as espanholas do Spar Girona também lamentaram algumas derrotas no decorrer da competição e com o revés para o arquirrival Avenida na partida derradeira, findou na quinta posição, fora das quartas.

A edição atual começou cheia de surpresas e, aos poucos, principalmente a partir de janeiro, as expectativas se confirmaram. Fato comum na competição, não caracterizada por grandes mudanças de um ano para o outro, as quatro equipes do Final Four da edição passada avançaram e, coincidentemente, irão se confrontar, abrindo duas vagas de renovação na composição do Final Four.

As quartas disputar-se-ão com cruzamento dos grupos, em melhor de três jogos, com o primeiro e o eventual terceiro sediados na casa da equipe de melhor campanha. Todos os duelos acontecem nos dias 14, 17 e, se necessário, 22 de março, com transmissão no canal da FIBA no youtube. Vamos olhar com mais calma os duelos das quartas, que prometem muito equilíbrio.

Foto: Euroliga

Fenerbahçe x Sopron

Taí um confronto esperado, visto que reproduz a final do ano passado (quando o Sopron surpreendeu e levou o título), porém em data antecipada. O turco Fenerbahçe, após a derrota em casa na última final, fez mudanças e se reforçou ainda mais. O time trouxe ninguém menos que a melhor armadora da atualidade (Courtney Vandersloot) e a melhor jogadora do planeta (Breanna Stewart), as quais uniram-se a um esquadrão magnífico.

A técnica Marina Maljkovic demorou a impor seu estilo de muita defesa, para o que contribuiu a chegada tardia dos reforços, disponíveis a partir da virada de ano. O início da competição trouxe preocupação, com derrotas inesperadas, logo superadas; depois que engatou, as turcas não viram mais sombras pelo retrovisor e passaram por cima de suas adversárias na fase final. O conjunto ainda se entrosa, mas não convem apostar contra.

Até porque, do outro lado, estará um Sopron oscilante, que não manteve a constância típica do time. A diminuição no investimento impediu a renovação de Gabby Williams, fundamental na conquista do título em 2022, e tampouco possibilitou a reposição à altura. Assim, em muito tempo, o técnico David Gaspar foi obrigado a recorrer às jogadoras húngaras do elenco; some a ausência da referência no garrafão (Bernadett Hatar retornou às quadras nas duas rodadas finais) e temos a explicação para a quarta posição no grupo B, empurrando as atuais campeãs para o pior confronto possível.

Dentro de quadra, Jelena Brooks chamou a responsabilidade na pontuação, mas o time se ressentiu de uma segunda pontuadora. A experiente armadora Zsofia Fegyverneky foi deslocada para uma função menos organizadora e mais pontuadora. Os muitos ajustes repercutiram na campanha de 8 vitórias e 6 derrotas, com 3 reveses seguidos para fechar a fase de grupos.

Na teoria, é o duelo mais desigual das quartas. Na prática, o Sopron, seu técnico e o núcleo duro do elenco conhecem a fórmula para brecar o poderoso Fenerbahçe. Duas forças continentais, em momentos distintos, vindo de uma final surpreendente. As turcas desejam a vingança e formaram uma verdadeira seleção internacional na busca pela inédita conquista da Euroliga. Impossível cravar um resultado, embora todos os indícios apontem para uma varrida turca sobre as húngaras.

USK Praga x Perfumerias Avenida

Se o primeiro duelo das quartas repoduz a final da temporada passada, este recoloca frente a frente a disputa do bronze. A equipe tcheca manteve a regularidade e avançou como a segunda colocada do grupo A, com vantagem de mando de quadra. Dentro de quadra, também se mostrou como de costume, com a mesma estrutura tática e puxado pelo dinamismo de Alyssa Thomas, novamente forte candidata a MVP. A dupla com a pivô Brionna Jones é quase imparável e seu rendimento alavanca a produção coletiva.

Com uma campanha turbulenta, as espanholas de Salamanca conseguiram se recuperar após a saída do técnico Roberto Iñiguez e a chegada de José Vazquez Mougan estabilizou o conjunto, outrora inconstante. Nas quatro rodadas finais, as quatro vitórias conduziram o time às quartas.

Trata-se, porém, de um time diferente ao do ano passado, quando venceu as tchecas na disputa do terceiro lugar. As extracomunitárias contratadas não mantiveram o nível de Katie Lou Samuelson e Kahleah Copper e, despojadas das duas protagonistas, a equipe viu-se em apuros durante boa parte da competição. Gradativamente, a equipe identificou-se com uma pontuação super distribuída e aderiu às bolas de três pontos. As espanholas possuem o melhor aproveitamento (39,7%); como efeito secundário, o espaçamento abriu o garrafão para o belíssimo jogo de pés da pivô grega Mara Fasoula, que assumiu a titularidade e se tornou essencial.

Há um leve favoritismo para o USK Praga, pelo mando de quadra e pela constância. Além do retrospecto, as tchecas possuem armas para brecar Fasoula e podem acelerar o jogo para evitar a forte defesa espanhola. O Avenida cresceu demais durante a reta final da fase de grupos e pode surpreender. Difícil apostar em varrida nesta série.

Beretta Famila Schio x Valencia

Mais um confronto equilibradíssimo, que opõe as italianas (segundas no grupo B desta Euroliga) frente as espanholas (terceiras no A). Schio possui mais tradição no continente e possui um conjunto muito equilibrado: no perímetro, Rhyne Howard e Marina Mabrey formam um dupla complementar, além da pivô Astou Ndour-Fall. Qualquer uma pode protagonizar nas quartas, o que torna difícil a estratégia defensiva adversária. Se bem que as espanholas possuem o melhor perímetro defensivo da competição.

Cristina Ouviña e Queralt Casas são exímias defensoras e a equipe possui um plantel longo e diversificado. Embora o ataque às vezes estanque, o Valencia possui armas vindas do banco para mudar a dinâmica de um jogo. Valencia representa a novidade na Euroliga, com um projeto de longo prazo, mesclando experiência e juventude; nesta edição, o time ultrapassou uma fase e buscará estabelecer-se no topo do continente.

Um fator importante nas quartas serão as contusões no Valencia: Ouviña machucou-se no último jogo e Alba Torrens, acostumada a vencer e disputar títulos, segue fora. Sem sua principal jogadora, o conjunto precisará se desdobrar e seus jovens talentos terão que arcar com o peso. Se tivesse que apostar nesse duelo, diria (sem nenhuma convicção) que o Valencia vence a série em três partidas.

Mersin Çukurova x Tango Bourges

Duelo de opostos, seja pelas posições em seus grupos, seja pelas mudanças vividas durante o torneio. As francesas de Bourges avançaram em quarto no grupo A da Euroliga, conduzidas pela armadora sérvia Yvonne Anderson; as turcas de Mersin lideraram o grupo B, mesmo tendo passado por mudanças profundas desde o início da Euroliga.

Foram três técnicos diferentes até a chegada de Roberto Içniguez; Jonquel Jones e Briann Januray largaram o barco após poucas partidas; Aleksandra Crvendakic, Laura Cornelius e Elizabeth Williams chegaram com o torneio em andamento. O alto poder de investimento favorece a contratação e, para alcançar o Final Four, o time não poupa dinheiro. Bourges pode apresentar mais coesão e estabilidade, porém o talento individual pende a favor do Mersin. DeWanna Bonner e Chelsea Gray são jogadoras clutch e Tiffany Hayes cresce quando comandada por Iñiguez.

Mersin montou um projeto de curtíssimo prazo, com objetivos imediatos, receita essa que normalmente não funciona contra projetos mais duradouros, ainda que mais modestos. Vejamos se prevalece o poderio financeiro, ancorado em valores individuais, ou a tradição e continuidade de um plano tático.


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