Programas de apoio aos jovens jogadores: o calcanhar de Aquiles da NFL

Fair PlayJunho 8, 20215min0

Programas de apoio aos jovens jogadores: o calcanhar de Aquiles da NFL

Fair PlayJunho 8, 20215min0
A NFL tem revelado problemas em produzir bons programas de apoio para os mais "pequenos" mas o momento de viragem pode estar perto

O desporto nos EUA: o abismo entre classes sociais

O sistema desportivo dos EUA enfrenta problemas graves, embora não sejam óbvios à primeira vista – e quem o afirma é Tom Farrey, diretor do Sport and Society Program do Aspen Institute. Um estudo mais aprofundado revela que os atletas de comunidades mais pobres podem deparar-se com problemas como a nutrição deficiente, equipamento inadequado e falta de educação. E isto é apenas uma parte de um problema de financiamento mais amplo. Em 2019, um estudo da CNN revelou que escolas em comunidades mais pobres recebem menos 23 mil milhões de dólares de financiamento anual – ou seja, menos 2.226$ por aluno!

Esta realidade é particularmente desconcertante tendo em conta que 70% dos jogadores da NFL são oriundos de comunidades pobres – será este um bom motivo para minimizar esta disparidade no financiamento? Este artigo explorará e apresentará várias formas de reduzir tal disparidade, bem como avaliar que papel relevante que pode ser desempenhado pela NFL.

Mudança profunda no sistema de financiamento

A mudança deve começar pelo topo e o governo americano deve ser a primeira entidade capaz de garantir a igualdade de oportunidades, independentemente do estatuto familiar ou local de nascimento. Não será necessária muita criatividade para implementar um novo sistema funcional e equitativo – existem exemplos de sucesso noutros países, como a Noruega ou o Reino Unido.

No Reino Unido, o programa Sport England é financiado pelo Governo Britânico e pela Lotaria Nacional, tendo injetado centenas de milhões de libras nas comunidades mais desfavorecidas. Consequentemente, o número de jovens com dependência de droga ou vício no jogo diminuiu drasticamente. Desportivamente o país registou um aumento de jovens talentosos nessas mesmas áreas intervencionadas que, de certa forma, pode ser correlacionado com o sucesso olímpico verificado.

Da forma similar, a Noruega implementou um modelo testado e comprovado que tem por base a inclusão de todas as crianças nas diversas modalidades desportivas, independentemente da origem socioeconómica. Tom Farrey elogia a eficácia deste tipo de programas que resultam em benefícios desportivos e sociais ao invés do modelo americano onde o “dinheiro procura mais dinheiro”, que são o gatilho para alguns dos problemas de base do desporto americano.

A implementação de um modelo semelhante nos EUA poderia beneficiar a NFL, permitindo a muitos jovens talentosos mostrar o seu valor.

Meios materiais e humanos

As infraestruturas desportivas são fundamentais e a solução não tem de ser complicada ou cara, nem tampouco megalómana.

Por vezes, pequenos detalhes fazem uma grande diferença na vida dos jovens jogadores:

• fornecimentos equipamentos básicos (capacetes de proteção, chuteiras de boa qualidade)
• alimentação adequada e saudável
• treinadores focados no desenvolvimento jovem

Esta soluções podem parecer simples, mas são a base do sucesso para qualquer jovem. E não custam nenhuma fortuna!

Treinadores certificados capazes de garantir que os atletas seguem programas de treino específicos é algo facilmente acessível com um investimento modesto. Na verdade, pode ser uma ótima experiência de vida tanto para os atletas como para os treinadores.

O equipamento adequado reduzirá significativamente o risco de lesões graves entre os jovens. Neste aspeto, a NFL já investiu cerca de 90 milhões de euros em 2016 para reduzir as lesões cerebrais.

O papel da NFL

Como já mencionado neste artigo, uma grande fatia dos atletas da NFL têm origem e famílias pobres. Todas as estatísticas mais recentes mostram que esta tendência está a aumentar, ao invés de diminuir.

Se a Liga beneficia cada vez mais de jogadores de tais comunidades, não seria do seu interesse retribuir? Imagine que, em vez de ter que superar obstáculos tremendos para trilhar o seu próprio caminho, os jogadores de futebol de famílias desfavorecidas eram apoiados em termos materiais e ensinados a alimentarem-se corretamente. E, acima de tudo, seriam educados de forma a serem capazes de trilhar um caminho alternativo caso não fossem bem-sucedidos no desporto.

Desta forma, não apenas as crianças pobres estariam mais protegidas, como também o nível de competitividade dos atletas tenderia a subir – algo que beneficiaria a NFL diretamente.

Inverter o paradigma de décadas

O tipo de investimento mencionado anteriormente está perfeitamente ao alcance da NFL, cuja riqueza foi estimada pela Bloomberg em 15 mil milhões de dólares na temporada de 2018. O comissário Roger Goodell estima que as receitas superem os 25 mil milhões de dólares até 2027.

Ao analisarmos o investimento em programas e instituições de caridade para jovens declarado pela NFL, constatamos que foi investida a ‘módica’ quantia de 370 milhões de dólares desde 1973. Um valor irrisório, tendo em conta os números da NFL.

Mais vale tarde do que nunca

As iniciativas do governo e da NFL mostraram não ser suficientes. Para mudar o paradigma são necessárias medidas e curto, médio e longo prazo. À medida que as lacunas de financiamento se prolongam no tempo aumenta o número de atletas pobres em risco e sujeitos a lesões graves. Embora já as autoridades norte americanas já tenham perdido muito tempo, mais vale mudar tarde do que nunca.


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