Primeiras impressões da LBF 2024

Lucas PachecoAbril 5, 20246min0

Primeiras impressões da LBF 2024

Lucas PachecoAbril 5, 20246min0
Lucas Pacheco tenta perceber o desenvolvimento da LBF 2024, olhando para os destaques e os principais choques dentro da quadra

Com pouco mais de um mês do início da LBF 2024, temos bastante a comemorar. Muitas jovens com tempo de quadra, mais equipes e muito equilíbrio. Apenas o Sampaio correspondeu às expectativas iniciais e, com 7 partidas disputadas, segue invicto; abaixo disso, um perde e ganha generalizado. O atual campeão Sesi Araraquara contabiliza duas derrotas, uma delas para o Unined Campinas, que por sua vez perdeu para Catanduva, vitória isolada da equipe do interior paulista.

O Corinthians perdeu para São José, Santo André foi a Mesquita e venceu as anfitriãs, mesmo com rotação curta. Ainda mais relevante que os resultados, vimos partidas equilibradas, com ajustes técnicos e táticos no decorrer dos jogos. A ampliação da liga proporcionou uma zona nebulosa, onde qualquer equipe pode vencer sua adversária em um bom dia. Vamos nos ater a algumas histórias para descrever melhor o promissor início da competição.

Bipolaridade

Sob comando do técnico Dyego Maranini, estreante na LBF 2024, tendo como única experiência no adulto o Paulista de 2021, quando dirigiu Guarulhos, Campinas viveu uma montanha russa. Após a derrota na estreia para o Ituano, uma surpreendente vitória sobre o Sesi Araraquara, com triplo duplo da armadora Babi. O ímpeto mostrou-se mera ilusão e a derrota para Catanduva expôs problemas mais profundos.

Sequer a sequência de 3 triunfos consecutivos (sobre as lanternas da competição) amenizou a situação, agravada com uma derrota em casa para Santo André. Foi a gota d’água: ato contínuo, o técnico pediu demissão.

Sabe aquelas histórias que, por qual lado seja observada, deixa algo no ar? Dyego assumiu há menos de dois meses, aceitando um elenco dividido entre jogadoras experientes e metade de novatas; as condições de trabalho não sofreram alteração, assim como a vida pessoal do técnico. E ele pede demissão ainda no meio do turno?

Como o basquete feminino no Brasil flerta com o amadorismo, não há cobertura jornalística que esmiuçe a saída de Dyego. Os fãs têm que se contentar com as notas oficiais e com as impressões durante as partidas. De fato, a relação com o elenco parecia estremecida; nos tempos técnicos, parte das atletas conversava enquanto as orientações eram dadas; reações corporais de descontentamento das mais experientes; rotações estranhas, alteradas radicalmente de um jogo para o outro.

A jovem pivô Gabriellem começou a temporada esquecida no fundo do banco, em detrimento de Tay; Iza Arnoni começou de titular para logo depois ser relegada a poucos minutos. Ajustes em começo de campeonato são normais; o time sofria miseravelmente na defesa e era necessária uma mexida. O que ninguém esperava era que o projeto, construído antes da temporada, seria abortado com menos de um mês de ação.

Na partida seguinte à demissão, uma vitória de muita superação na casa do Corinthians, com grande atuação de Gabriellem. A equipe foi comandada pelo assistente técnico Bernardo, que segue no comando de forma interina. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

A precoce disputa pelo MVP

Inevitável falar de Gabi Guimarães: o grande destaque individual da liga até o momento largou na frente na luta pelo prêmio. Sem a pivô, dificilmente o Ituano estaria com campanha de 5v e 2d. Gabi lidera as estatísticas de eficiência (27,4), pontuação (22 pots por jogo) e rebotes (12,3). Nada mal!

Sua importância é tamanha que o rígido técnico Antonio Carlos Barbosa moldou sua equipe à gravidade de Gabi. O Ituano abre 4 jogadoras no perímetro (3 armadoras e a “falsa” pivô Lê Lisboa), permitindo que Gabi trabalhe no jogo de pick and roll a partir da cabeça do garrafão. Com espaço e linhas de infiltração abertas, ela vem se aproveitando; se as adversárias fecham, sobram chutadoras espalhadas na linha de 3. A dinâmica deve mudar com a chegada de Monique, na fase de playoffs do campoenato português; mas, enquanto isso não acontece, Gabi deu várias passos à frente na luta pelo MVP.

Logo atrás, com menos destaque estatístico, a ala Tássia de Santo André faz um início de temporada animador. Os números não traduzem sua importância para o time, com rotação curta, com algumas novatas, e tendo perdido a espinha dorsal das últimas campanhas. Para compensar, Tássia retornou aos tempos de domínio, em que seu drible não encontra resistência. Se Santo André mantiver sua campanha positiva (5v e 2d), será em grande parte pela liderança da ala.

Extremos da tabela

Não podemos deixar de comentar sobre o Sampaio Correa; reformulado, com técnico novo (Bruno Guidorizzi), aguardando duas estrangeiras se apresentarem, as maranhenses simplesmente passaram por cima de quem ousou passar na frente. O início titubeante foi respondido com muita intensidade nos dois lados da quadra, ainda que prescinda de uma pivô dominante.

Cada jogadora conhece seu papel dentro do time e o desempenho vem surpreendendo. Alana voltou a orquestrar o time dentro de quadra (impressionante como Bruno extrai o melhor da armadora); Luana marca as principais adversárias e ainda soma bom aproveitamento da linha de três; Cacá e Iza Sangalli se encarregam do trabalho sujo defensivo e em manter a movimentação no ataque; Sassá e Lays sobem de produção a cada jogo. Um desempenho muito bom para um elenco que se juntou às vésperas da competição. A chegada das estadunidenses Chrislyn Carr e Trinity Baptiste deve acrescentar novos sabores a um prato já delicioso. Detalhe: o ginásio Castelinho voltou a sediar a LBF 2024, após anos de reforma.

No outro extremo da tabela, Ponta Grossa segue como a única equipe sem vitórias na liga. Não chega a surpreender, uma vez que o time estreia na liga e não conta com o investimento que outros estreantes possuem. Para piorar, a estrela da companhia, a experiente pivô Nádia Colhado, machucou-se no primeiro jogo e segue fora desde então. O time sobrevive como pode e fez partidas duras contra Sampaio, Santo André e Campinas, desempenhos que mostram onde Ponta Grossa pode chegar.

A armadora colombiana Manuela Rios lidera o time e as melhores exibições ocorreram quando o elenco de apoio colaborou de forma consistente e regular. Bruna Costa possui um arremesso eficiente, Zaza chegou para dar mais profundidade no garrafão, Wanessa oscila muito mas faz o trabalho sujo necessário para qualquer time. O caminho é a evolução do grupo, em busca da primeira vitória na LBF 2024, que pode chegar a qualquer momento.


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