Portugal no Mundial de futsal com noções para o futuro?

Fair PlayAgosto 9, 20216min0

Portugal no Mundial de futsal com noções para o futuro?

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Jorge Braz já convocou os 16 jogadores portugueses que vão estar no Mundial de futsal, mas Maria Jorge lança algumas dúvidas à convocatória

Artigo de Maria Pinto Jorge sobre a convocatória de Portugal para o Mundial de futsal 2021.

Portugal já conheceu os 16 “bons rapazes” de Rio Maior, versão 2.0, que irão tentar a tentativa da conquista do título mundial de futsal de seleções. As escolhas de Jorge Braz, apesar de não terem surpreendido, não são – de todo – consensuais.

Foi no final do mês de julho que os amantes de futsal ficaram a conhecer a convocatória portuguesa para o Campeonato do Mundo da modalidade, que irá decorrer entre 12 de setembro e 3 de outubro, na Lituânia. Jorge Braz anunciou os 16 nomes que irão lutar pelo título máximo de seleções, optando mesmo por levar o número total de jogadores permitidos – recorde-se que este ano a FIFA aumentou para 16 os atletas que podiam ser convocados, sendo que é exigido que três deles sejam guarda-redes, devido à Covid-19, mas apenas 14 poderão constar na lista de cada jogo.

Primeiro, vamos relembrar os convocados, apenas depois analisá-los…

Guarda-redes: Edu, Bebé e Vítor Hugo;
Fixos: André Coelho, João Matos e Tomás Paçó;
Fixo/Ala: Afonso Jesus;
Alas: Pany Varela, Bruno Coelho Miguel Ângelo, Pauleta, Ricardinho e Tiago Brito;
Universais: Erick Mendonça e Fábio Cecílio;
Pivôs: Zicky.

Guarda-redes: três opções, nenhuma com garantias de GR subido

Edu, Bebé e Vítor Hugo são as opções portuguesas para a baliza. Se a mesma, por alguma lógica de estado de forma, deverá estar entregue a Edu (Viña Valdepeñas). Recorde-se que o atleta participou em 40 jogos da LNF, sendo o pilar do emblema espanhol durante a última temporada.

Ainda que com grande segurança entre os postes, com um jogador de sangue fresco e outros dois que oferecem maior experiência (Bebé e Vítor Hugo), Jorge Braz acaba sem qualquer opção caso necessite de apostar numa situação de guarda-redes subido. Os três atletas em questão não o têm como caraterística de destaque e, por isso, a necessidade de renovar esta secção acaba por se tornar urgente.

Uma das opções bastante faladas é André Sousa, por oferecer algumas vantagens nesta questão. Ainda assim, o pico de forma do guarda-redes do Benfica atualmente, não é, de todo, caso para garantias para um Mundial. Aliás, neste momento, qualquer das opções para esta ideia de ‘renovação’ acaba por ter escassos minutos na Liga, uma vez que a outra – e talvez o nome que pode ingressar o lote do Europeu, no início do próximo ano – é Bernardo Paçó. Mais seguro, com menos experiência, mas com um jogo de pés superior, que a curto-médio prazo poderá ser uma das maiores vantagens para esta formação.

Fixos com ‘fartura’: só importa a defesa?

Um dos temas mais badalados desde que surgiram os nomes dos novos ‘bons rapazes de Rio Maior’, foi a quantidade de fixos chamada por Jorge Braz. O selecionador nacional optou por levar para a Lituânia três fixos de origem (João Matos, André Coelho e Tomás Paçó) e ainda mais três que podem fazer a mesma posição (Afonso Jesus, Erick Mendonça e Fábio Cecílio). Analisando friamente, Erick e Cecílio deverão ser utilizados para ‘tapar’ o buraco da falta de pivôs que a comitiva das quinas leva para o mundial. No entanto, não são os ‘homens-golo’ que poderão fazer falta nos momentos decisivos, podendo, no entanto, ajudar nas duas frentes. Ainda assim, a conjuntura que Portugal poderá apresentar será, na sua maioria, defensiva, pelo menos por aquilo que conseguimos depreender destes nomes.

Um pivô = um estilo de jogo em 3×1

Como podemos perceber a partir da lista de convocados, Zicky (Sporting) é o único pivô português a pisar as quadras do Mundial. Jorge Braz deixa de fora João Miguel (ex-Candoso, atual Ribera Navarra) – o melhor marcador da última Liga Placard – optando por levar apenas o jovem de 19 anos, com uma postura mais móvel, para jogos que terão, cada um deles, carizes diferentes. A necessidade de levar um pivô móvel e um pivô mais estático (como é o caso de João Miguel), oferecia, como se torna óbvio, mais soluções ao jogo de Portugal, sobretudo em partidas diante de formações que podem deter fixos e defesas mais desconstruídas e sem a opção de marcação a homem.

Nomes que ficaram (injustamente) de fora

Já falámos aqui de João Miguel, mas, a ele, juntam-se outros jogadores que ficam em casa, do sofá, a ver Portugal jogar no Mundial, enquanto poderiam dar bastante a esta Seleção. Aqui incluímos, por exemplo, de Mário Freitas (Fundão), Silvestre (Benfica) e Júnior (Portimonense).

No caso do primeiro, o ala fundanense é, sem sombra de dúvidas, a ausência mais sonante – e incompreensível – deste lote de convocados. Além de ser um completo cérebro dentro de quadra, o português de 31 anos vem de uma época imaculada, sendo novamente uma das peças fundamentais da sua equipa. Os números não mentem: 27 golos em 36 jogos; o que lhe valeu o título de melhor jogador português da época na Liga Placard (menção dada pelo site Zona Técnica).

Silvestre, por sua vez, também ele da mesma posição, ofereceu ao Benfica novas opções ao longo de toda a temporada desportiva, respondendo também assertivamente às chamadas de Jorge Braz em jogos de preparação. Com apenas 22 anos, o ala encarnado foi regular ao longo de 39 encontros, mostrando-se decisivo em muitos deles.

João Miguel já foi referido como opção para a posição de pivô, mas, no caso de o míster português necessitar de outra, Júnior, jogador do Portimonense, foi provavelmente a maior revelação da Liga fora dos dois grandes emblemas que lideram a mesma. Foram 27 golos, divididos entre duas equipas (Portimonense e Quinta dos Lombos – este último onde iniciou a época), nos quais demonstrou, sempre, a sua irreverência.

Resumindo, com factos…

Na realidade, são nove os repetentes desde o título europeu conquistado por Portugal que vão estar no Mundial: Bebé, Vítor Hugo, André Coelho, João Matos, Pany Varela, Bruno Coelho, Ricardinho, Tiago Brito e Fábio Cecílio; e apenas sete que não passaram por esse triunfo: Edu, Tomás Paçó, Erick Mendonça, Afonso Jesus, Pauleta, Miguel Ângelo e Zicky.

Não chegam a ser sequer metade o número de novidades três anos depois da conquista. Mantém-se, antes da qualidade, a escolha por estatuto e experiência. Se a ideia de ‘estatuto’ se torna retrógrada, a experiência é, claro, relevante, mas quando a mesma se vê aliada com o pico de forma e qualidade apresentada na atualidade, não ao longo da carreira. Falta frescura, algo que provavelmente veremos no europeu.


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