Playoffs definidos na LBF
Chegámos no ápice da temporada 2025 da Liga de Basquete Feminino (LBF). Ainda sem data de início, a primeira fase foi definida e o chaveamento está desenhado rumo ao sonhado título. Antes de dissecar os duelos das quartas de finais, disputados em formato ‘melhor de 3’ (quem vencer duas partidas, avança às semis), uma breve passada sobre as três eliminadas.
Maringá estreou na liga com o mérito de manter um representante do estado do Paraná na principal competição nacional de basquete feminino. O Paraná abriga um dos poucos circuitos de base no Brasil e seu representante em 2025 (Ponta Grossa em 2024) deu espaço para um elenco jovem e majoritariamente estreante. A campanha com 1 vitória (logo na estréia) e 19 derrotas fala por si; ao menos, Geovana Thainá (migrando para a posição de armadora) e Thailane (pivô) puderam jogar e demonstrar seu potencial. Santo André seguia nessa mesma toada; a redução no investimento, que já era contado, conduziu a um elenco jovem. O técnico Choco não repetiu o bom trabalho dos anos anteriores e a equipe viu poucas razões para comemorar, ficando de fora dos playoffs pela primeira vez na história da LBF. A pivô Giovanna, na primeira temporada com minutagem relevante (27 min de média), mostrou o erro em adiar a estreia dos destaques da base: ela foi a grande revelação do torneio e provou que precisa de mais atenção, passando por cima de quem quer que a tentasse impedir no jogo interno (13,0 pts, com 59% de aproveitamento de dois pontos, e 8,2 reb). Giovanna liderou a equipe em pontos, rebotes, % de dois e de três pontos, além do menor plus minus da rotação. Olho nela, único destaque positivo do Santo André.
Blumenau confirmou sua participação no torneio apenas no frigir dos ovos. Representante de outro importante estado (Santa Catarina) no circuito de base, o clube teve seus parcos investimentos reduzidos ainda mais, o que quase inviabilizou sua participação. Com isso, o elenco foi montado de última hora, com muitas jovens. As duas vitórias e 18 derrotas atestam as fragilidades técnicas de um elenco que, ao menos, buscou um padrão tático sob as orientações do técnico estreante André Soares. Acima de tudo, está em jogo a continuidade de um projeto já consolidado na liga.
Dito isso, passemos aos duelos das quartas de finais.
Sampaio (1) x (8) Cerrado
O Sampaio passou por verdadeiras revoluções desde o início da LBF, primeiro com a chegada dos reforços que estavam na Europa, passando pela perda em casa da Copa LBF e a consequente demissão do técnico David Pelosini. Todas essas mudanças jogam às sombras a vitória sobre o Cerrado logo na estréia das equipes, por largos 92 x 52; mesmo o segundo confronto, com nova vitória da mandante (Cerrado 85 x 84 Sampaio), foi disputada antes do retorno do técnico Rodrigo Galego, campeão em 2022. As poucas partidas comandadas por Galego deram uma cara nova ao time, muito mais intenso e comunicativo na defesa, com ataque bem trabalhado e menos afoito. O afã desesperado por bolas rápidas de três deu lugar a um trabalho coletivo mais fino e diversificado.
Já o estreante Cerrado foi uma metamorfose ambulante, com muitas contratações chegando durante o torneio (praticamente um time inteiro). Inclusive na reta final, com a chegada da pivô estadunidense Dayna Rouse, que em cinco jogos se estabeleceu como referência técnica no garrafão. Sua gravidade abre espaços para as alas-pivôs Iza, Letícia Lisboa, Nany e Tati Pacheco espaçarem e dispararem seus chutes de três. O time brasiliense gosta das bolas longas e a experiência pode pesar.
Sampaio é franco favorito e tem obrigação para avançar, mas não convem duvidar do Cerrado. Em momentos decisivos, a experiência pode pesar e, se os arremessos longos caírem, o time torna-se altamente perigoso.
Palpite: Sampaio 2 x 1 Cerrado
Sesi Araraquara (2) x (7) Sodiê Mesquita
O Sesi é o time a ser batido e tem todo o favoritismo para varrer a série. Atuais bi-campeãs da liga e da Copa, a equipe trocou de técnico (o vitorioso João Camargo cedeu lugar a Fábio Appolinário) mas não de roupagem. O time segue apostando em espaçamento, chutes de três e isolamentos, com Vitória, Aline e Manu atacando todo e qualquer mismatch. A campanha com 15 vitórias e 5 derrotas não condiz com o momento atual do time, em declínio técnico, tático e físico depois da conquista da Copa LBF. Manjado o padrão tático e a proposta de jogo, o time precisará diversificar se sonha com o tri-campeonato.
A mudança de chave sequer precisará aparecer nas quartas, dado o nível técnico da adversária. O basquete praticado até aqui produziu duas vitórias fáceis sobre o Sodiê Mesquita (76 x 57 em Araraquara e 47 x 64 em Mesquita), resultados esperados para as quartas (palpite: Sesi 2 x 0).
Apesar da perda das suas principais referências técnicas das temporadas anteriores (Thayná e Mayara partiram para novos desafios), o técnico Raphael Zaremba conseguiu reproduzir a identidade tática, com muita intensidade defensiva, movimentações sem muitos bloqueios no ataque e suor, muito suor. A colombiana Maira Caicedo ocupou a liderança do elenco, mas o time ainda se ressente de outras opções confiáveis de pontuação. Outro time montado com jogadoras jovens, a digna campanha de 10 vitórias e 10 derrotas deve ser comemorada, mesmo com a temporada perto de seu final.
Corinthians (3) x (6) Unimed Campinas
Aqui, temos um confronto inesperado, que todos os prognósticos anteviam para as semis finais. Não por causa do Corinthians, que em sua segunda temporada na LBF ampliou o investimento e montou um elenco amplo e experiente. A começar pelo técnico Bruno Guidorizzi, campeão em 2021, responsável por estruturar um elenco antes disperso em vários clubes. O time evoluiu bastante durante a competição, com mais opções a cada rodada. A equipe igualou a campanha do Sesi e ficou em terceiro devido ao confronto direto; no caminho, venceu o poderoso Sampaio (em São Luís) e beliscou a Copa LBF, quando teve a oportunidade de despachar o Sesi na final mas falhou na hora de fechar o jogo.
Não se engane: o Corinthians sonha com título e possui material para isso. Terá pela frente um Campinas perigoso (devido à experiência) porém oscilante, que fez jogos duros contra o terço inferior da tabela e acumulou derrotas insuspeitas. A sexta posição jogou a tradicional equipe para um duelo bem difícil; Iza Sangalli desponta como destaque absoluto e, para permanecer vivo na competição, precisará de toda a ajuda das experientes amadoras Babi e Meli Gretter. E, ainda assim, o favoritismo é todo do Corinthians: na fase regular, vitórias em SP (63 x 54) e em Campinas (47 x 52).
Palpite: Corinthians 2 x 0 Campinas
Ourinhos (4) x (5) São José
O confronto do interior paulista colocará duas equipes com campanhas surpreendentes e positivas, sob quaisquer critérios que utilizemos. Ourinhos retornou ao cenário adulto após décadas de sumiço, justificando as previsões humildes para o time. Mesmo sem grande poder de investimento, o time montou um elenco balanceado, com opções em todas as posições, dosando experiência e juventude. Sob o comando da dupla Márcio Pereira e Lisdeivi Pompa, o duovirato estabeleceu um basquete cadenciado, com muitas movimentações e sem o ímpeto das bolas longas.
É um time que joga com poste baixo (raro na LBF), trabalhando o tempo de posse e rodízio amplo. Um estilo mais parecido ao dos anos 90 e início dos anos 2000; quando bem praticado, desmonta estratégias mais voluntaristas e individualistas. As 12 vitórias e 8 derrotas deram o mando de quadra à equipe, que venceu as duas partidas da fase regular contra seu adversário: 70 x 74 fora de casa e 66 x 62 como mandante.
Os dois triunfos apertados, com diferença mínima nos placares, comprovam tanto o favoritismo de Ourinhos quanto as dificuldades que terão pela frente. São José (O despontar de São José) soube se reestruturar após a contusão da pivô Juliana (grande destaque individual até então) e remontou seu estilo de jogo após as chegadas da ala Maíra Horford e da pivô Bárbara. Duas atletas experientes, inteligentes para manter a bola girando e boas arremessadoras, recurso que abre linhas de infiltração para a fogosa armadora colombiana Manu Rios. São José vive sua melhor fase na competição, daí a expectativa por uma série equilibrada.
Palpite: Ourinhos 2 x 1 São José