Celtics vs Cavs ou Stevens vs Lebron?

João PortugalMaio 13, 20187min0
Que estratagemas usará Brad Stevens para tentar travar o percurso imaculado de Lebron James para uma oitava final da NBA consecutiva? Será suficiente? Continuará Terry Rozier a ser o rei do 4º período? Analisamos os pontos-chave de uma Final que promete rivalizar com o maior estrelato do Oeste.

Uns dias antes de começarem os playoffs questionei-me aqui até onde poderia a magia de Brad Stevens levar estes Celtics, sem dois dos três melhores jogadores. Falhei em não acreditar que passassem por Philadelphia. Contudo o coaching de Boston foi demais para a menor experiência dos 76ers. Do outro lado do quadro, acertei na mouche quando expliquei as limitações do treinador dos Raptors, Dwayne Casey, acabadinho de despedir, que sempre se mostrou incapaz de montar uma estratégia para parar o lebroning dos Cavs.

Posto isto, porque o importante é mesmo a Final da Conferência Este, vamos procurar juntar os pontos mais importantes deste embate e tentar perceber se algum destes franchises entra em court com uma grande vantagem em relação ao outro. Temos obrigatoriamente que começar por Lebron James, o jogador mais dominador dos playoffs até ao momento. Lidera a liga na post season em Player Efficiency Rating (PER) com 35,4! É um valor extraordinário e a maior prova disso é que a sua média de carreira nos playoffs é de 28,2 (que já é um número excelente).

O que a série com os Raptors provou é que não há ciência que trave James, já que a certa altura no segundo jogo transformou o Air Canada Center no seu campo de treinos, lançando e marcando de qualquer lado, com defensores em cima, em fade, com uma perna no ar, com o tempo de ataque nos segundos finais. Foi um show, contudo, também é preciso considerar essa performance ao nível do lançamento  como um outlier.  Os Celtics certamente trarão a lição totalmente estudada, evitar ao máximo os ataques ao cesto, atirar vários jogadores diferentes para cima dele para tentar que não entre num ritmo imparável.

Quantos triplos de Korver a passe de James acontecerão nesta Final? [USAToday]
Os Cavs são a equipa em prova que mais gasta o shot clock e têm vencido dessa forma, porém é óbvio que quanto mais Boston forçar a bola nas mãos de Lebron e conseguir estagnar o ataque de Cleveland, maior é a probabilidade de sucesso. E o ataque de Cleveland tem uma mega tendência a estagnar até Lebron lebronizar um pass que atravesse o court e encontre Kevin Love no canto com o defesa mais próximo ainda a chegar vindo debaixo do cesto. Onde eu quero chegar é o seguinte: há maneiras mais e menos eficientes de tentar parar Lebron James, sendo mesmo possível que a melhor forma de o fazer nem resulte. O importante para Boston é não mudar para uma pior estratégia caso o melhor que consigam não seja suficiente, porque há uma probabilidade bem razoável de tal acontecer.

É aqui que há mais diferenças, a meu ver, entre os Celtics e os Raptors, que ficaram extramente afectados pelo show de lançamentos longos de James na segunda parte do jogo 2, quando na realidade ele só está a lançar 28,8% de 3pt, estando em contrapartida a chegar com mais facilidade ao cesto e com mais frequência também (79% dos lançamentos de 2 são ataques ao cesto e está a concretizar uns incríveis 77,5%). Se há algo que os Verdes não deveriam ter permitido era que Marcus Morris tivesse esta saída

Será que Lebron deixará Morris a ver navios? [SportingNews]
Lebron James não joga sozinho e o treinador Tyron Lue finalmente encontrou um 5 capaz de ser competitivo por períodos mais largos dos jogos. Sem surpresas, acompanhado por George Hill, Kyle Korver, JR Smith e Kevin Love, este line up junta James aos 4 melhores atiradores da equipa, ao melhor ball handler para que Lebron possa jogar um pouco sem bola e desgastar-se menos, o melhor big e os menos maus na defesa. Marcam 126 pontos por 100 posses de bola o que é sensacional. Acho que nesta altura já não vale a pena pedir grande sucesso defensivo aos Cavs, já deu para perceber que nem têm pessoal para isso, mas continuam a ter grande sucesso no capítulo do ressalto, que faz parte de bem defender, tirar ataques ao adversário e conquistar mais posses de bola.

Individualmente em Boston é necessário que Al Horford mantenha o nível fantástico com que jogou toda a eliminatória frente aos 76ers, principalmente na protecção do cesto, sabendo claro que defrontará o melhor do Mundo a atacá-lo. Precisam também bastante de que Jaylen Brown esteja a 100% fisicamente, o que não aconteceu nos jogos anteriores até porque ele é um dos elementos da equipa, apesar de ser dos mais novos, que melhor pode explorar um dos pontos fracos de Cleveland, que o treinador Brad Stevens com toda a certeza tentará massacrar ao máximo, as trocas defensivas.

Possivelmente, a maneira mais efectiva para os Celtics atacarem será utilizando a capacidade de Brown e Tatum explodirem com a bola enfrentando mismatches, ou seja, adversários de menor dimensão física, ou mais lentos. Isto permite-lhes depois, ou criar o seu próprio lançamento, ou atacar o cesto, ou forçar ajuda extra que desiquilibre o resto da defesa e liberte atiradores. Os Cavs, porque contornam as deficiências defensivas com entrega e esforço redobrados, dão por si inúmeras vezes a ajudarem demasiado, principalmente para afunilar o garrafão e distraem-se muitas vezes dos seus defensores directos.

Já mencionei o tal 5 de Cleveland que tem dominado os jogos, o que ainda não disse é que o combinado dos restantes line ups usados por Tyron Lue têm um saldo negativo de pontos (-25). O grande desafio de Brad Stevens será, acima de tudo, provocar Lue a limitar a utilização dos seus melhores jogadores em simultâneo. Como é que os Celtics podem conseguir isto? Por exemplo, expondo as debilidades defensivas do super atirador Kyle Korver, atacando-o em muitas posses de bola sucessivamente. Pode também ter sempre em court dois do trio Al Horford-Aron Baynes- Marcus Morris para estar constantemente a martelar a área pintada e, ou fazer Kevin Love cair no engodo de cometer demasiadas faltas, ou tentar Tyron Lue a jogar com mais tamanho e piores jogadores ofensivos, como Jeff Green ou Tristan Thompson.

Lebron vs Rozier no Clutch? Yes please! [Celtics Blog]
Os Celtics ainda não perderam em casa nos playoffs, 7-0. Voltarão a ter home court advantage, ou seja, se a série se extender, serão mais quatro partidas caseiras. Ninguém tem enlouquecido mais o TD Garden do que Terry “Who’s that” Rozier. O ano passado Isaiah Thomas era o “rei do 4º período” na NBA e Rozier está a suplantar essa marca com distinção. É o jogador da liga mais eficaz no derradeiro período e só marcou menos 4 pontos (32 vs 28) que Lebron James no clutch (últimos minutos do 4º período + possíveis prolongamentos, com o resultado em 5 ou menos pontos de diferença). Depois de Victor Oladipo ter disputado o estrelato com Lebron na primeira ronda, será que Rozier terá o mesmo sucesso?

Mesmo que não tenha o impacto blockbuster da Final do Oeste, será um duelo interessantíssimo que eu não tenho grandes convicções quanto ao vencedor, e é isto mesmo que se quer. resultados difíceis de prever. Vou apostar nos 7 jogos, que Boston não conseguirá o pleno (11-0 em casa) mas que mesmo assim triunfará no final. A NBA merece que tenhamos um jogo 7 no TD Garden, é daquelas atmosferas irreplicáveis, é o tipo de adversidade para que Lebron James foi feito. Cada vez mais se debate se Brad Stevens é o melhor treinador da liga, se conseguisse impedir James da sua oitava final consecutiva, era provável que isso ajudasse nesse debate.


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