O que pode trazer de novo a Liberty Media?

Diogo SoaresAbril 10, 20244min0

O que pode trazer de novo a Liberty Media?

Diogo SoaresAbril 10, 20244min0
A Liberty assegurou os direitos do MotoGP e Diogo Soares tenta explicar o que isto pode mudar no futuro da compeitção

Foi no passado dia 1 de abril que o MotoGP anunciou a compra da Dorna Sports S.L. por parte da Liberty Media, dona da Fórmula 1. Quanto aos detalhes da transação, a Liberty compra 86% da empresa sediada em Madrid por uma quantia a rondar os 4,2 mil milhões de euros e é esperado que o negócio fique consumado no final de 2024.

Segundo o comunicado da entidade, o negócio não afetará a independência da Dorna e a sua tutela sobre o pináculo do motociclismo e sobre o mundial de Superbikes, assim como Carmelo Ezpeleta, atual CEO da Dorna, poderá manter o seu cargo, que ocupa desde 1994. Importante será referir que a compra apenas será consumada após aprovação da Comissão Europeia, que terá de avaliar se a aquisição viola as regras antimilionário. Se sim, a o negócio cairá. O veredito não deverá sofrer atrasos devido às eleições europeias que se realizam no próximo mês de junho.

Passando a iniciativas que a Liberty poderá adotar nos próximos anos, o primeiro poderá passar pela introdução de uma série documental que retrate os eventos da temporada, no fundo, algo como o “Drive to Survive”. Este método já é conhecido no seio do MotoGP, uma vez que em 2022, numa parceria com a Prime Video, foi publicada uma série sobre o ano 2021 da categoria, tendo sido interrompido logo de seguida, dado o fracasso da primeira e única temporada.

A esta série poderão estar alienadas algumas consequências, tais como a “criação” de uma superestrela/vedeta. Isto é, se pegarmos no exemplo do Drive to Survive, na época da sua primeira temporada, Lewis Hamilton dominava e já tinha conquistado o seu quinto título. Nesse mesmo ano, conquistou o sexto e no ano seguinte o sétimo. Neste contexto, foi relativamente fácil encontrar a superestrela. Mais recentemente, a ascensão de Max Verstappen ao domínio da categoria tornou-o na nova vedeta.

Ora, isto no MotoGP pode ser mais difícil de encontrar, uma vez que o domínio de um piloto é inexistente, apesar de Francesco Bagnaia já levar dois títulos de forma consecutiva. Mas não é impossível. Um dos grandes problemas dos tempos atuais de MotoGP prende-se pelo facto de a última vedeta, o grande embaixador do desporto, ser Valentino Rossi. O italiano abandonou em 2021, mas o seu último título foi em 2009 e, nestes 12 anos, Marc Márquez venceu seis títulos.

No entanto, a categoria não soube aproveitar o embalo deixado por Rossi. Além de Bagnaia, a categoria ainda conta com Márquez e Jorge Martín, três homens que já tem capacidade para assumir esse posto. Em ascensão há Pedro Acosta, este sim, poderá atingir o nível de Rossi. Num exemplo muito simples, podemos verificar que em 2023, Oscar Piastri – que fazia a sua estreia nesse ano- “gozou” de um maior “engagement” nas redes sociais do que o campeão do mundo de MotoGP, Bagnaia

Um outro domínio a ser explorado pela empresa norte-americana será a questão das assistências, quer nos circuitos, quer nas televisões e, possivelmente, com grande foco nos Estados Unidos da América. Nos Grande Prémio dos EUA de F1 no ano passado, no total do fim-de-semana, 432 mil pessoas assistiram às provas no Circuito das Américas. No MotoGP, apesar de não haver dados oficiais, estima-se que 100 a 120 mil pessoas tenham passado no mesmo circuito. Mas os Estados Unidos não são o único problema. Em termos comparativos, é sempre interessante perceber os exemplos de Silverstone e da Catalunha, nos quais ficam “à pinha” com a F1 e “às moscas” com o MotoGP – deixo ainda este reparo: Catalunha é a casa de alguns dos melhores pilotos da principal categoria de motociclismo. Posto isto, daqui a uns anos poderemos, com certeza, ver o MotoGP a viajar aos EUA mais de uma vez por ano, isto, se a Liberty achar público interessado. Na minha opinião, achar público interessado não será o mais complicado, será muito difícil não ter interesse em MotoGP, tudo dependerá da sua promoção.

A última temática que tenho a apresentar tem que ver com a possibilidade de vermos o fim a alguns Grandes Prémios demasiado próximos. Com destaque para a Península Ibérica. Parece-me verdadeiramente improvável que as cinco provas em território ibérico a médio-longo prazo. Quanto aos contratos, Aragão, Catalunha e Valência tem estadia garantida até, pelo menos, 2026 e em Portimão espera-se que o circuito fique garantido até ao mesmo ano. Jerez tem o dossiê mais complicado, uma vez que só está assegurado até 2025. Os contratos serão cumpridos, naturalmente, mas acredito que em 2027, pelo menos dois destes cinco circuitos não estarão presentes no calendário. Se eu tivesse que apostar, diria que Portimão e Aragão serão esses mesmos circuitos.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS