A temporada de MotoGP até à pausa de verão
O MotoGP chegou à pausa de verão, sendo, por isso, altura de fazer uma retrospetiva das equipas e pilotos nestes 12 Grandes Prémios já realizados.
Ducati
Sem surpresas absolutamente nenhumas, a construtora de Borgo Panigale tem as duas motos mais fortes da temporada, quer a GP24, quer a GP25. Prova disso é, precisamente, o facto de os seis pilotos da construtora estarem no top-10 do campeonato de pilotos, assim como as três equipas Ducati ocuparem as três primeiras posições do campeonato de equipas.
Mas é impossível não falar de pilotos da Ducati sem falar d’Ele. Permitam-me a ascensão de Márquez a Deus. Não acredito em nenhuma religião, daí ver Márquez como tal. Da mesma forma que Rossi dominou na sua era, conquistando nove campeonatos, o espanhol da Ducati Team está em vias de, oficialmente, empatar o registo do italiano, o seu grande rival.
Com 120 pontos de vantagem para Álex Márquez, arrisco-me a dizer que apenas um acidente cósmico fará o irmão mais velho perder o título que foge desde 2019.
Álex é precisamente uma excelente surpresa, ao assumir a segunda posição do campeonato, tendo já vencido uma vez e ido ao pódio noutras seis ocasiões. Os 261 pontos já conquistados são já a melhor época da carreira, confirmando, finalmente, o potencial que lhe era dado aquando da conquista do Moto2, em 2019. Dificilmente será campeão, e muito dificilmente vencerá mais corridas em que o irmão não erre, mas deverá manter a vice-liderança.
Isto porque também há um outro piloto que é de longe a deceção da temporada de MotoGP. Pecco Bagnaia de seu nome, tem vindo a ser incapaz de igualar as performances de Márquez e, pior, nem sequer em segundo consegue ficar. Aliás, foi no GP do Qatar a última vez que ficou imediatamente atrás do companheiro de equipa. O campeonato para o italiano já está perdido, dado que a diferença já é de 168 pontos, e, para vencer o título, teria de retirar 14 pontos nos 12 Grandes Prémios que faltam. Resta comprovar que ainda terá capacidade de destronar Márquez na próxima temporada.
Nas hostes da VR46, as coisas poderiam estar melhores, mas a verdade é que vivesse um ambiente saudável na equipa. Não só Valentino Rossi gere a equipa satélite oficial da Ducati, como vê dois dos seus pupilos a obter vários pódios. Pelo meio, intensificam-se os rumores de que a equipa e a Ducati estarão interessadas em Pedro Acosta, dado que a crise financeira no Grupo KTM pode levar a alterações drásticas no projeto desportivo. Se Acosta acabar mesmo com uma Ducati em mãos, não é absurdo pensar que poderá fazer o mesmo que Martín fez com a Pramac.
Aprilia
A temporada de MotoGP da Aprilia poderia ser melhor, mas Martin sofreu duas lesões, uma mais grave que a outra, e o campeão do mundo só conseguiu correr duas vezes na temporada, pontuando apenas na Chéquia. Ainda durante a temporada, o espanhol anunciou que ia ativar a clausula de performance que lhe permitia sair no final deste ano, alegando que a mota era incapaz de vencer.
Martín já voltou atrás com a ideia, tudo porque houve um rapaz a provar que pode vencer. Marco Bezzechi, que saiu do universo Ducati numa guerra interior com ele próprio, altamente desmotivado, chegou à equipa de Noale e venceu. Venceu apenas uma vez, certo, mas já foi outras vezes ao pódio, provando que sim, aquela RS-GP25 ainda pode vencer mais.
Na Trackhouse, o ambiente vivido também é de positividade. Raul Fernandez começou finalmente a ter resultados de destaque no MotoGP, com cinco términos no top-10 e duas pontuações nas sprints. Ai Ogura também já demonstrou que é um piloto-algodão, não engana. A lesão em Silverstone provocou um corte no bom momento que vivia o rookie, mas dificilmente não voltará à competitividade rapidamente.
KTM
As dificuldades financeiras no grupo KTM têm posto em causa o desenvolvimento da RC16, num ano em que as quatro motas contas com pilotos muito bons. Pedro Acosta destaca-se, é o único que tem conseguido dar luta mais constantemente, chegando ao seu primeiro pódio da temporada na Chéquia, onde também chegou na sprint. Brad Binder parece perdido, a consistência das últimas temporadas parece ter desvanecido e agora o sul-africano parece mesmo ter dificuldades em ser rápido com a moto, ao ponto de nem ter estado no top-5 em nenhuma ocasião.
Maverick Viñales é um piloto que costuma adaptar-se bem às novas motos e na Tech3 não foi exceção. Apesar do começo algo difícil, o piloto já lutou por pódios, até à queda no Sachsenring ter provocado uma fratura na clavícula. Segue sendo o segundo melhor piloto da construtora austríaca na temporada e procura vencer uma corrida pela quarta construtora na carreira. Se não conseguir, duvido que seja por culpa própria.
Enea Bastianini é o pior piloto classificado, com apenas 49 pontos. Muito por culpa das más qualificações que o obrigam a começar do fundo da grelha. Lesionou-se na Alemanha, mas voltou em força em Brno, ao fazer pódio na sprint e caindo na corrida principal quando seguia no terceiro posto. Parece estar na forma que a KTM quer, ainda vai a tempo de ser uma grande mais-valia para a marca, principalmente, considerando o futuro de Acosta e de Binder em Munderfing.
Honda
Considero a Honda a surpresa da temporada. Para quem estava muito longe das outras quatro no ano passado, parece estar a encontrar-se cada vez mais. Para melhorar, Zarco protagonizou uma masterclass em Le Mans, vencendo à chuva. Aliás, a insistência da construtora de Asaka em manter o seu melhor piloto na equipa satélite é gritante. Mas seguindo, Marini parece que quer competir, depois de um 2024 absolutamente dececionante, e a queda nos testes para as 8h de Suzuka, que provocou grandes lesões, não parece ter mexido com a forma e a confiança do piloto, que conquistou o seu melhor resultado no retorno à competição. Por outro lado, é Mir que não consegue competir. Caiu em oito das 12 corridas principais, quedas, essas, muitas vezes provocadas por outros pilotos. É muito azar, certamente, mas não pode ser justificação para tudo.
Há ainda o caso de Somkiat Chantra, que deixa no ar a pergunta sobre o que fez a marca optar pelo tailandês. Um único ponto conquistado na época, em Assen, quando apenas 16 pilotos terminaram a prova. E o piloto que ficou atrás dele era Aleix Espargaró, que serve apenas como piloto de testes. Ficou atrás do rookie a pouco mais de uma décima. Tenho dificuldades em assumir que estará no MotoGP em 2026.
Yamaha
Uma construtora em que só um piloto consegue extrair resultados. Fabio Quartararo parece um deus grego de Iwata. Já fez quatro poles positions, mas não venceu nenhuma vez, a mota parece ser boa numa volta, mas tem dificuldades nos 120km que percorre aos circuitos. Ele podia ter vencido em Silverstone, mas a YZR-M1 decidiu avariar quando seguia na liderança com uma eternidade de vantagem. Foi traído. Salva-se por isso o pódio em Jerez.
Quanto aos outros três, é difícil de explicar. Rins, Miller e Oliveira não extraem os resultados que a marca precisa, com uma agravante de Oliveira, que voltou a lesionar-se no início da temporada, perdeu uma série de provas e leva apenas seis pontos. Com Toprak a assumir um dos lugares da Pramac, parece difícil que o português se mantenha no universo do MotoGP.
O MotoGP retoma atividades no fim de semana de 15 a 17 de agosto para o GP da Áustria.