A redenção de Marc Márquez
“Estou em paz comigo mesmo”. Este foi o final feliz de uma série protagonizada por Marc Márquez, estreada a 19 de julho de 2020. Ou será que ainda não foi o final?
1897 dias separam o horror de um acidente que quase lhe terminou a carreira no primeiro Grande Prémio da temporada de 2020, em Jérez, e o dia 28 de setembro de 2025, dia em que confirmou a conquista do nono título mundial, sétimo da categoria rainha.
Tinha 27 anos, seis títulos e uma grande garantia de que o sétimo viria nesse ano, mas uma saída de pista na volta 22, quando seguia em 2º, levando a que tenha rolado de forma desamparada trouxe a pior das notícias: quebrou o úmero direito. Foi operado dois dias e tentou participar na semana seguinte, na mesma pista, mas a frescura da ferida não permitiu.
Perdeu todas as restantes provas desse ano, e o início de 2021, voltando apenas na terceira prova da temporada, nunca estando a 100%, e fez o inacreditável: venceu três corridas. Mas desistiu das duas últimas rondas, porque ainda precisava de recuperar.
Em 2022 era esperado voltar em grande, mas mais uma lesão, provocada por um high-side na Indonésia. Desta vez, foi diagnosticado com visão dupla, mas não foi isso que o tirou da maior parte da temporada. Foi mais uma cirurgia ao úmero que o obrigou a perder seis grandes prémios. Era a quarta operação ao úmero em cerca de dois anos para Marc Márquez.
Nesta altura, já percebia que a Honda havia entrado em crise, que era incapaz de lutar pelo título, e em 2023, anunciou que não renovaria o contrato com a construtora nipónica e que se juntaria à Ducati com as cores da Gresini. O objetivo, segundo o próprio assumiu, era perceber se tinha capacidade de lutar.
E tinha, em 2024, andar com a moto do ano anterior não lhe complicou minimamente a capacidade de vencer. Fê-lo por três vezes, sendo que em Aragão foi com mestria total, e terminou o campeonato em terceiro, apenas atrás dos dois que lutaram pelo título. Estava comprovado que poderia lutar.
Por isso, Domenico Tardozzi e Gigi Dall’Igna chamaram-no a Borgo Panigale, firmando um contrato de dois anos. Tinha a tarefa difícil de bater Pecco Bagnaia, mas o italiano nunca chegou a ter ritmo para bater o catalão. Ao 17º grande prémio da época, Marc Márquez fez o Championship point que desperdiçou em Misano, e igualou os recordes de títulos de Valentino Rossi, o seu grande rival. Leva 11 vitórias esta temporada e promete ganhar mais nas cinco rondas que tem pela frente. 541 pontos já conquistados que já são o recorde absoluto de uma temporada. Ainda há 185 por disputar e eu deixo as minhas apostas que, pelo menos, 100 serão dele.
“Mais que um número”, escrevia a conta oficial do MotoGP nas redes sociais. Mas os números não importam nestes casos. Mais que um título é de certeza, quiçá o título com maior significado da sua carreira, devido a todas as circunstâncias do passado recente.
Será que é o fim? Eu não acredito, nem a possibilidade de constituir uma família retirará o espírito de animal competitivo que existe nele.
Se é o maior de sempre? Deixemos a conversa para o final de 2026. Se levar mais um mundial para casa, não sei que argumentos contra existirão.
— Marc Márquez (@marcmarquez93) September 29, 2025