Miguel Oliveira e a falácia das suas quedas
Na principal categoria do mundial desde 2019, Miguel Oliveira segue para a sétima temporada ao mais alto nível e numa nova máquina, na Yamaha. Com ele, seguirá a fama que lhe foi imposta pelo público português: que é um piloto que cai muito.
Ora, vamos aos dados: o português caiu por 59 vezes no MotoGP nos 99 Grandes Prémios que disputou, ou seja, o piloto precisa de praticamente dois GP´s para cair uma vez. Uma única vez. E repare-se, os dados referem-se às quedas em todas as sessões do fim de semana, desde o treino à corrida.
2023 foi o ano em que o piloto contou com mais quedas, 15, mas também com mais lesões, aquelas três que o tiraram de quatro eventos, sendo que nos casos de Portimão e Jerez, os acidentes provocados por Marc Márquez e Fabio Quartararo, tiraram o nosso ´Falcão´ da eventual luta por pódios.
Não só estas duas quedas são momentos de puro azar para Oliveira. No ano passado, em Mandalika, um problema na parte elétrica da Aprilia do 88 levou a que o controlo de tração fosse desativado, com isso, o português sofreu um brutal high-side que provocou uma fratura no pulso. Antes em Misano, o piloto sofreu com mais avarias nas duas motos – mota principal e de reserva – que o atirou ao chão. Aliás, se voltarmos atrás, até 2020, lembramo-nos das disputas além do limite de Pol Espargaró com o então piloto da Tech3, numa altura em que o português ameaçava o lugar do espanhol na KTM de fábrica.
Com isto, não quero dizer que o português não cometeu nenhum erro em nenhuma das quedas. Nada disso. Aliás, vimos em Aragão 2024 e Mugello 2023, em que numa o então piloto da Trackhouse caiu e noutra forçou a ultrapassagem em Quartararo, acabando por cair e provocar a queda do piloto da Yahama. Nessas situações, o piloto reconheceu a culpa pelos mesmos.
Miguel Oliveira um “pouco mal tratado“ mas sem lesão após queda https://t.co/STCBlfJPpA
— Renascença (@Renascenca) August 4, 2024
Mas também podemos ver a questão das quedas por outra perspetiva. Cair muito, por si só, não é sinónimo de ser mau piloto. Vejamos o exemplo de Pedro Acosta, que foi o piloto que mais caiu na temporada (28), tendo uma dessas quedas custado a vitória no GP do Japão. Essa quantidade de quedas não desmereceu nem um pouco a qualidade absurda que o piloto de 20 anos tem. Por outro lado, Luca Marini, piloto que caiu menos vezes (4), fez um campeonato terrível, não só pela falta de competitividade da sua Honda, mas também por falta de vontade em querer trabalhar por mais.
O objetivo deste artigo não é passar paninhos quentes na cabeça dos pilotos, ou dizer que Miguel Oliveira é o piloto perfeito. O objetivo é fazer perceber que cair, por si só não é negativo, e que até pode significar a procura por mais.
Miguel Oliveira é o nosso primeiro e único piloto no MotoGP, e não há nenhum outro português na calha para entrar no Mundial. Merece maior consideração dos portugueses, mas antevejo que seja difícil, uma vez que a falta de cultura desportiva em Portugal é visível em todos os desportos, a começar pelo futebol.
Nota: as estatísticas que apresento sobre as quedas não incluí os pilotos ‘wildcard’.