Lesões desportivas: o papel da radiologia

Fernando FernandesOutubro 30, 20176min0

Lesões desportivas: o papel da radiologia

Fernando FernandesOutubro 30, 20176min0
Fernando Fernandes fala-nos sobre a medicina desportiva adaptada à realidade do kickboxing

A actividade física e o desporto são fundamentais para um estilo de vida saudável, com benefícios físicos e psicológicos comprovados, constituindo também uma fonte de prevenção de doenças.

Se a prática desportiva tem inúmeras vantagens bem documentadas e do conhecimento geral da população, a prática de Kickboxing promove um trabalho corporal completo, que aumenta a flexibilidade, o equilíbrio, a coordenação e a tonificação muscular. A adicionar a estas vantagens, constitui também um bom exercício de defesa pessoal, fonte de divertimento e eleva a auto-estima.

Infelizmente, as lesões relacionadas com a prática desportiva são uma complicação desafortunada, mas presente neste estilo de vida saudável.

As lesões desportivas podem ser agudas, mas mais frequentemente são provocadas pela sobrecarga (1). Ambas têm um impacto significativo e após uma avaliação clínica inicial, a realização de exames complementares de diagnóstico, quando necessários, é importante para um diagnóstico preciso e implementação de medidas terapêuticas adequadas. A imagiologia é a especialidade médica que permite a obtenção de imagens de corpo, utilizando diferentes técnicas, como a radiologia convencional, a ecografia, a tomografia computorizada ou a ressonância magnética (RM).

A radiologia convencional está indicada quando há uma suspeita de lesão óssea. No caso de discrepância entre os achados radiográficos e os achados clínicos, é necessária uma investigação adicional (2).

A ecografia é a técnica indicada para a avaliação de lesões dos tecidos moles superficiais, como os ligamentos, os tendões e os músculos. Tem a vantagem de ser uma técnica rápida, não invasiva, económica e de fácil acesso à população. A oportunidade de realizar uma avaliação dinâmica é outra vantagem adicional. Contudo, depende muito da experiência do observador, pelo que deve ser realizada por médicos radiologistas com experiência em patologia músculo-esquelética.

Além do seu papel diagnóstico na patologia músculo-esquelética, a ecografia é também utilizada para guiar a introdução de diferentes substâncias injectáveis (3), utilizadas para patologia tendinosa, ligamentar ou muscular específica, como por exemplo anestésicos, costicoesteróides, ácido hialurónico, plasma rico em plaquetas, agentes esclerosantes, entre outros. A ecografia permite a visualização directa da agulha e o seu trajecto até a estrutura pretendida e em algumas articulações pode substituir a fluoroscopia (4).

A tomografia computorizada mostra detalhadamente o osso, quer na avaliação da patologia aguda, como as fraturas, quer na caracterização das alterações degenerativas.

A RM despista lesões dos tecidos moles, mas também das estruturas ósseas e é excelente para o estudo de lesões intra-articulares. É a técnica gold-standard nas lesões desportivas e pode confirmar um diagnóstico clínico, mas também revelar achados inesperados, como por exemplo uma fratura oculta, não revelada numa radiografia. Tendinite, tenossinovite, tendinose (degeneração do tendão), ruturas parciais ou completas de tendões ou ligamentos podem ser facilmente detectadas pela RM. O conhecimento da história clínica do paciente, as circunstâncias do trauma e o mecanismo da lesão auxiliam na obtenção de um correcto diagnóstico.

Muitas unidades hospitalares apresentam já equipas dedicadas à Medicina Desportiva. As lesões desportivas podem ser complexas e cada modalidade apresenta, adicionalmente, especificidades que condicionam o tipo de lesão mais frequente e até mesmo a recuperação das mesmas. Uma colaboração estreita entre a equipa clínica e o radiologista permite optimizar a escolha da técnica de imagem adequada para confirmar um diagnóstico, definir prognósticos, elaborar um plano de tratamento ou caracterizar a severidade de uma lesão antes de uma cirurgia (2).

O Kickboxing, como desporto de combate que permite o contacto interpessoal,  pode dar origem a lesões variáveis. As articulações mais frequentemente afectadas são o ombro, o punho, o joelho e o tornozelo.

Por exemplo, no ombro, situações de tendinose, rutura da coifa dos rotadores, bursite subacromial e inflamação da articulaçãoo acrómio-clavicular são rapidamente diagnosticadas por RM. Contudo, mais do que em qualquer outra articulação, a ecografia do ombro apresenta elevada sensibilidade em mãos experientes.

O punho também é melhor documentado com RM, que revela as lesões mais frequentes, como ruturas ligamentares, patologia da fibrocartilagem triangular ou fraturas ocultas do escafóide.

O joelho é particularmente vulnerável nos desportos de contacto, principalmente devido aos movimentos de rotação. As lesões do joelho são melhor documentadas por RM, que mostra detalhadamente os meniscos, ligamentos e tendões, principalmente em caso de rutura. A actividade desportiva também pode acelerar a degeneração da cartilagem articular e a RM diagnostica a presença de lesões da cartilagem, a sua extensão e a presença de corpos livres intra-articulares. A ecografia no joelho é um pouco mais limitada, apesar de a patologia do tendão rotuliano ser bem demostrada.

As lesões agudas do tornozelo resultam de mecanismos de rotação, que lesam os ligamentos. Ruturas ligamentares são rapidamente diagnosticadas por RM, que também revela a presença síncrona de contusão óssea. Ambas, RM e ecografia, são utilizadas para a avaliação do Tendão de Aquiles, demonstrando a presença de tendinose ou de ruturas agudas.

O objectivo final de qualquer exame de imagem realizado no contexto de lesões desportivas será sempre fornecer o diagnóstico ou informação que auxilie na planificação de um tratamento adequado, com vista a um rápido retorno à actividade desportiva (5).

Contudo, uma advertência: um exame de imagem não deve ser efectuado se não afectar a decisão clínica e nas lesões desportivas, como em qualquer outra área da medicina, a prevenção é a melhor cura.

 

Referências:
(1) Imaging of sports injuries, Mintz DN. Phys Med Rehabil Clin N Am. 2000 May;11(2):435-69.
(2) Imaging techniques in sports medicine. Maas M, Pluim BM, de Jonge MC, Heijboer MP. Ned Tijdschr Geneeskd. 2009;153:B409.
(3) Guided interventions in musculoskeletal ultrasound: what’s the evidence?.J Davison. Clinical Radiology, February 2011Volume 66, Issue 2, Pages 140–152
(4) Radiological interventions for soft tissue injuries in sport. R S D Campbell and A J Dunn, Br J Radiol. 2012 Aug; 85(1016): 1186–1193.
(5) Imaging in sport and exercise medicine: “a sports physician’s outlook and needs”. I McCurdie, Br J Radiol. 2012 Aug; 85(1016): 1198–1200.
Dados:
Ana Beatriz Ramos
Assistente Hospitalar de Radiologia do Centro Hospitalar do Porto.

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