Kickboxing como fonte de saúde
O presente artigo é da autoria de Rui Soares, Assistente Graduado Hospitalar de Cardiologia, do Hospital do Espírito Santo E.P.E.; Docente convidado do Mestrado em Exercício e Saúde, organizado em conjunto pela Universidade de Évora e pela Universidade da Extremadura (Espanha); praticante de kickboxing do Sporting Clube de Portugal.
O movimento representa mais do que uma simples conveniência; é fundamental para o nosso desenvolvimento evolutivo – não é menos importante que as complexidades do intelecto e da emoção (1).
A prática de desportos contribui de forma significativa para o desenvolvimento da criança e do jovem, não só físico, mas também mental. A prática de artes marciais, em especial o kickboxing, sob orientação de professores qualificados, traz benefícios inestimáveis à criança e ao adolescente, em especial no que se refere ao desenvolvimento do autoconhecimento, da autoconfiança, da disciplina, do espírito solidário, do respeito ao próximo e da harmonização com ambiente (2).
No caso dos adultos, a prática de artes marciais e desportos de combate relaciona-se, principalmente, com o aumento do bem-estar físico e/ou psicológico, a disciplina, o aumento da concentração e o prazer inerente à prática (3). A autoestima, a perda de peso, a autodefesa, o convívio com praticantes mais jovens, entre outros fatores, levam aqueles que se iniciam mais tarde a obter muito prazer de um desporto de combate (4).
No âmbito do bem-estar físico e da saúde, vários estudos demonstram que os indivíduos que mantêm os seus corpos em forma têm o benefício adicional de prolongar a vida e aumentar as reservas corporais necessárias ao enfrentamento de eventuais doenças. A prática desportiva contribui para reduzir os riscos de doenças coronárias, neurológicas e renais.Exercícios e bom condicionamento físico total reduzem o risco de muitos distúrbios metabólicos crónicos associados à obesidade, tais como resistência à insulina e diabetes tipo II. Reduzem, também, o risco de vários tipos de cancro, incluindo o da mama, da próstata e do cólon (5).
Para a prática de qualquer desporto é recomendável no início quer a avaliação da capacidade física para o instrutor traçar o programa de treino mais adequado, como a avaliação médica. Da avaliação médica deve constar a história clinica e familiar, o exame clínico e a análise de exames auxiliares de diagnóstico.
Os exames auxiliares de diagnóstico que se consideram basilares para se ser criterioso no apoio e prevenção do candidato à prática desportiva são: o eletrocardiograma e a prova de esforço. Em circunstância de dúvida clínica ou de inclusão no estadio de atleta federado é recomendável associar o ecocardiograma.
Desafios essenciais em estabelecer planos saudáveis para a actividade física incluem (6):
- Compreender a “dose” de actividade física (frequência, intensidade, duração e tipo) necessária para atingir um ganho em saúde;
- Influências psicossociais que actuam como barreiras ou estímulos para a participação das pessoas.
O técnico treinador tem papel essencial no enfrentamento desses desafios, pois é ele quem cuida da integridade física do atleta, dá preparação, treina a sua concentração, cuida do seu corpo e mente, oferece a ele uma confiança inestimável na prática desportiva, o que faz com que o atleta seja capaz de mostrar o seu melhor (2). Se o ambiente social da actividade é agradável e proporciona confiança, aumenta a saúde mental, o bem-estar e a motivação (6).
No estabelecimento dos planos para a actividade física alguns fatores mostram-se essenciais para os resultados efectivos.
Está confirmado que a frequência de actividade necessita de ser mais do que duas vezes por semana para um ganho em saúde, seja para desenvolver a capacidade cardiorrespiratória, seja para manter e atingir o nível de preparação competitiva adequado (6).
Assegurar que o atleta faz aquecimento antes do treino, da prática e das competições é fundamental. O adequado é um exercício de rotina que prepare o corpo para uma actividade física rigorosa. A duração deve ser de 15 minutos, pelo menos, sugerindo-se a seguinte sequência (7):
- Aquecimento geral do corpo: a intensidade deve provocar ligeiro aumento da frequência cardíaca e respiratória. Deve, também, causar uma sudorese ligeira. Isso ajuda a preparar o coração, pulmões, músculos e tendões para uma actividade vigorosa. Previne, também, lesões e aumenta a performance;
- Exercícios ligeiros para aquecimento de áreas específicas;
- Movimentos específicos da modalidade.
Após a prática da modalidade, deve haver um desacelerar progressivo do corpo, uma vez que a suspensão abrupta do exercício inibe a recuperação adequada da actividade. Assim, deve-se reduzir, progressivamente a intensidade de sua actividade até que as frequências cardíaca e respiratória desçam até próximo dos níveis em repouso.
O arrefecimento pode incluir andar ou jogging ligeiro durante 5 a 10 minutos. Os atletas devem concluir o arrefecimento com alongamentos, de cada grupo muscular, adequados ao seu desporto, durante 2 a 3 minutos. Este período de relaxamento é essencial para atingir melhoramento na sua flexibilidade a longo prazo (7).
As refeições devem ser equilibradas e incluir os nutrientes necessários de acordo com o peso, o género, a idade e o nível de actividade. Os atletas devem ser incitados a beber líquidos para manter uma hidratação adequada. Para actividades com duração superior a 60 minutos, os atletas beneficiam de bebidas desportivas, as quais são em geral uma combinação de água, carboidratos, e eletrólitos potássio e sódio (7).
Na sua preparação, os atletas de kickboxing devem incorporar ainda os seguintes elementos essenciais para melhorar seu desempenho atlético e alcançar sucesso nas competições de nível mundial (8): skill (habilidade); speed (velocidade); stamina (vigor); strenght (força); spirit (disposição mental).
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Referências
- McArdle, William D., Katch, Frank I. e Katch, Victor L.Fundamentos de Fisiologia do Exercício. 2ª. Rio de Janeiro : Editora Guanabara Koogan S.A., 2002.
- Serginho, Professor.Kick Boxing: a arte de ensinar. 1ª. São Paulo : Phorte Editora Ltda., 2011. ISBN 978-85-7655-306-9.
- Valadas Rosa, Vítor Alberto. Estudo Sociológico sobre as Artes Marciais e Desportos de Combate em Portugal. Centro de Artes Orientais. [Online] 23 de Setembro de 2008. http://www.cao.nossacultura.org/surya/vr_38_2.pdf.
- Lima, João Paulo.Kickboxing – Uma Arte de Combate. s.l. : Livro de autor, 2015.
- Hall, John E. e Guyton, Arthur C.Tratado de Fisiologia Médica. 12ª. Rio de Janeiro : Elsivier Editora Ltda., 2011. ISBN 978-85-352-3735-1.
- White, Gregory P., Harries, Mark e Williams, Clyde, [ed.].ABC of Sports and Exercise Medicine. 3rd. Oxford : Blackwell Publishing Ltd., 2005. ISBN-13 978-0-7279-1813-0.
- Flegel, Melinda.Sport First Aid. 12st. Champaign : Human Kinetics, 2014. ISBN 13 978-1-4504-6890-9.
- Thiboutot, Frank.O Melhor do Kickboxing. 1ª. São Paulo : Madras Editora Ltda., 2011. ISBN 978-85-370-0701-3.