O descanso dos guerreiros na corrida para os Jogos Olímpicos de 2022

João CamachoAgosto 8, 20227min0

O descanso dos guerreiros na corrida para os Jogos Olímpicos de 2022

João CamachoAgosto 8, 20227min0
João Camacho conta-nos o que se passou em Julho no judo nacional e internacional, com os olhos já postos nos Jogos Olímpicos 2024

Com a janela de qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris a decorrer, tivemos mais duas etapas do circuito, Budapeste e Zagreb, onde a boa notícia foi o primeiro pódio, no circuito mundial, de João Fernando, que conquistou o bronze em Zagreb, na categoria dos 81Kg.

Grand Slam Budapeste e Grand Prix de Zagreb

Antes da merecida interrupção, para recarregar baterias e iniciar a preparação para os campeonatos do mundo de Tachkent, que terão lugar na capital do Uzbequistão no início de outubro, tivemos mais duas etapas do circuito mundial, desde o último artigo.

O Grand Slam de Budapeste, no que respeita à participação portuguesa, ficou marcado pela participação de só uma atleta, a campeã Telma Monteiro. Catarina Costa, que estava inscrita nesta etapa, acabou retida em Portugal, depois de um teste positivo à covid. Telma voltou a mostrar que “está aí para as curvas” e terminou num honroso 5.º lugar, perdendo o combate para o bronze, com a líder do ranking mundial da categoria dos 57Kg, a Israelita Timna Nelson Levy.

Esta etapa marcou também o regresso do colosso francês dos +100Kg, Teddy Riner, que aposta em mais uma presença Olímpica, nos jogos que no verão de 2024 irão “visitar” a capital do seu país. Riner venceu e, confesso, convenceu. Visivelmente mais leve, terá perdido algum peso, ganhou mais mobilidade, e foi evidente que consegue pôr em prática um judo mais consistente e eficaz.

Ainda que longe da hegemonia que demonstrou no período entre os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, indiscutivelmente Teddy Riner assume a candidatura a mais um pódio olímpico. Será o seu 5.º Jogos Olímpicos, depois do bronze em Pequim e Tóquio, e o ouro em Londres e no Rio de Janeiro.

No fim-de-semana seguinte, o circuito visitou a capital da Croácia, onde decorreu o Grand Prix de Zagreb. Portugal apresentou 5 judocas, com natural destaque para o líder do ranking mundial dos 100Kg, Jorge Fonseca. Infelizmente a participação ficou muito aquém das expectativas e do potencial destes judocas.

A única atleta feminina, Catarina Costa, que era a cabeça de série número 1 do sorteio (atleta com posição mais alta no ranking mundial em prova), acabou surpreendentemente derrotada frente a uma atleta pouco cotada, (posição 42 do ranking mundial) a Norte-Americana Maria Laborde.

Foi sem dúvida um tropeção, a evitar em competições futuras, mas acredito que Catarina, pela atitude e compromisso que lhe reconhecemos, irá aprender com o erro que cometeu e regressará mais forte e consistente.

No que respeita aos judocas masculinos, a surpresa, pela negativa, foi a precoce derrota do bicampeão do mundo, logo na segunda ronda, frente ao Polaco Piotr Kuczera, que já tinha cometido a proeza de derrotar Jorge Fonseca nos campeonatos da Europa de Sofia.

As características físicas do polaco e os problemas evidentes em se adaptar ao estilo de judo do seu adversário, resultaram numa derrota já no golden score, quando Jorge dominava o combate. Jorge tem o desafio de ter de inovar, surpreender os seus adversários. Tendo em conta que é um dos atletas mais estudados, com o seu judo analisado ao detalhe, a sua missão será cada vez mais difícil caso não introduza elementos inovadores na sua estratégia de condução do combate.

Nos 60Kg tivemos Francisco Mendes e Rodrigo Lopes em ação, mas também estes dois judocas portugueses acabaram eliminados precocemente. Se Francisco tinha uma tarefa muito complicada no 2.º combate, frente a um dos atletas mais fortes na categoria, e cabeça de série, o mongol Enkhtaivan, já Rodrigo Lopes, apesar do seu estatuto de cabeça de série, acabou derrotado, imobilização, frente a um judoca menos cotado, o espanhol Bernabéu. Estes dois judocas portugueses, que lutam por uma qualificação olímpica nos 60Kg, continuam com evidentes problemas em se afirmarem, em demonstrarem o seu potencial e, notoriamente, há um longo caminho a percorrer para que qualquer um deles possa alcançar um lugar nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Por último – e deixei o melhor para o fim- o merecido destaque para o João Fernando. O atleta do Sporting Clube de Portugal, prestes a terminar o curso de engenharia aeroespacial no IST, conquistou o seu primeiro pódio numa etapa do circuito mundial. O bronze na categoria dos 81Kg, provavelmente a mais competitiva categoria de peso da atualidade, teve sabor a ouro. No último artigo abordei exatamente o facto do João, apesar do seu potencial e reconhecida qualidade, necessitar de um resultado desta magnitude para dar o salto, livrar-se do aparente “bloqueio”, e afirmar-se como um nome a ter em conta para os próximos Jogos Olímpicos.

Em Zagreb, já o seu desempenho foi muito consistente, sendo apenas derrotado na meia-final pelo vencedor, o Francês Djalo, naquela que foi a categoria de peso com maior número de atletas, 46, e que contou com a presença de judocas com títulos mundiais no currículo, bem como, o atual líder do ranking mundial. Parabéns, João!

João Fernando no pódio (Foto: IJF)

Um agosto atípico

O mês de agosto de 2022, ao contrário da “norma”, fica marcado por ter uma agenda muito preenchida. Vamos ter os Campeonatos do Mundo de Cadetes, em Sarajevo, Bósnia Herzegovina, Campeonatos do Mundo de Juniores, em Guayaquil, Equador, e um Open Europeu Sénior em Coimbra, a atual “capital” do judo português…

Este conjunto de competições permitirá, no final do mês de agosto, fazer um balanço, bastante realista e factual, do atual panorama da formação e das segundas linhas da equipa sénior Portuguesa. Se é verdade que temos conquistado alguns resultados de destaque nos escalões de cadetes e juniores, o facto é que a transição para o escalão de séniores, no que respeita aos resultados, não tem decorrido com a naturalidade e consistência que seria expectável.

Dou como exemplo a prestação do judo nos Jogos do Mediterrâneo, evento que celebra o encontro desportivo entre os países “banhados” pelo Mar Mediterrâneo, que decorreu no final de Junho em Oran, na Argélia. O nível competitivo deste evento não é comparável a uma prova do circuito mundial, ou mesmo a uma competição do circuito europeu e o facto é que Portugal terminou sem qualquer medalha no judo.

Portugal levou uma equipa com muitos jovens, que procuram ganhar experiência e traquejo, e alguns judocas mais experientes, alguns com experiência no circuito mundial. Os judocas portugueses presentes em Oran foram: Manuel Rodrigues, Joana Crisóstomo, Wilsa Gomes, Raquel Brito, Ricardo Pires, Diogo Brites, Teresa Santos e Bernardo Tralhão Fernandes. Só Manuel Rodrigues, atleta que competiu na categoria dos 81Kg, conseguiu chegar ao combate pela disputa da medalha de bronze, terminado em 5.º lugar.

Do que tenho observado, e não estou a defender rigorosamente ninguém, não tenho qualquer ligação à Federação, e relembro os mais desatentos que cheguei a fazer parte de uma lista opositora ao atual elenco federativo, creio que há condições de trabalho (treinadores com conhecimento e experiência, corpo clínico experiente, instalações e equipamentos dignos e bem equipados) suficientes e de qualidade, que permitirão aos judocas portugueses crescer e garantir a continuidade dos brilhantes resultados conquistados nos últimos anos pela elite do judo português.

Agora os judocas terão de ter vontade, muita vontade, terão de estar dispostos a muitos sacrifícios e a dedicarem-se com compromisso, porque só assim será possível brilhar e chegar longe numa modalidade cada vez mais difícil e competitiva. Haja vontade….

Centro de Treinos de Cernache (Foto: Arquivo)

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