O Estranho Caso de Jimmer Fredette
À semelhança da personagem de um dos mais ilustres contos de F. Scott Fitzgerald, Benjamin Button, também a vida de Jimo Dashen, basketballisticamente falando, anunciava um começo bem mais maduro que o seu desfecho. Fredette atingiu o seu pico nos tempos de universidade, tornando-se num dos prospects mais aguardados pelas equipas da lottery da NBA em 2011. Uma década depois, uma última passagem pela liga chinesa profetizava qualquer cenário menos o de uma convocatória para representar a seleção norte-americana nos Olímpicos de Paris de 2024. O twist? Jimmer Fredette não disputará o torneio de 5×5.
De facto, se conseguíssemos que o Dr. Emmett Brown da franquia Back to the Future nos emprestasse o seu modificado DeLorean, não causaríamos nenhuma epidemia de pânico ao revelar que Jimmy seria atleta olímpico treze anos depois. De unanime jogador do ano da primeira divisão da NCAA com médias de 29 pontos e 4 assistências no seu último ano universitário até à sua eventual seleção na 11ª posição do draft pelos Sacramento Kings (escolhido pelos Bucks, mas trocado na mesma noite), a expectativa de uma carreira longa no cume do basquetebol profissional estava na lista de uma significativa parte dos envolvidos no espetáculo norte-americano de esferas laranjas. No entanto, o jogo do intitulado “melhor marcador do país”, ordem concedida pelo então presidente norte-americano Barack Obama, não viria a traduzir-se nos principais palcos das terras do Tio Sam.
A sua esguia figura numa liga de elevado atletismo, incapacidade ou, por vezes, falta de vontade em criar para os outros e as suas enormes debilidades defensivas significaram uma curtíssima carreira na NBA. Apoiando-se apenas no seu talento em lançar a bola para dentro do cesto, Fredette disputaria apenas 241 partidas ao longo de 6 temporadas – apenas 7 das quais a titular e ultrapassando os 50 jogos por época em apenas metade das épocas – com médias totais de: 13 minutos, 6 pontos, 1.4 assistências e 1 ressalto com eficácias a rondar os 40% de campo, 37% de triplo e 88% da linha de lance livre.
Here’s a pic of Kawhi Leonard laughing at Jimmer Fredette in college pic.twitter.com/GMTRbVnqz3
— JustTIM (@ReignCoates) July 2, 2019
Às passagens por Kings, Bulls, Pelicans e Knicks, seguiu-se uma primeira excursão à China, ainda antes de um brevíssimo regresso à NBA em 2019, representando os Suns em 6 partidas. Aliás, foi o domínio total de Jimmy na liga chinesa que lhe valeu a hipótese de regressar ao país de origem. Múltiplas performances de mais de 60 pontos, atingindo a marca impressionante dos 73 e 75 marcados numa só partida, um MVP e as médias de 37 pontos, 8 ressaltos e 4 assistências a lançar 47% de campo, 40% de triplo e 93% de lance livre demonstraram rapidamente que a competição asiática era demasiado fácil para o base norte-americano.
Contudo, a NBA continuava a ser demasiada areia para um camião que parecia ter encontrado na Europa a estância perfeita. Conseguindo o acesso ao muito requisitado mas sempre restrito clube dos 50-40-90 da Euroliga (referentes a percentagens de lançamento: de campo-triplo-lances livre), Jimmer Fredette e a sua exímia capacidade de atirar ao cesto (13 pontos de média em 27 partidas) foram imprescindíveis para o mais cotado dos troféus europeus acabar atribuído ao seu Panathinaikos, após a própria Euroliga interromper a competição devido à situação pandémica da Covid-19. No entanto, a passagem do atleta dos Estados Unidos pela Europa terminaria após uma só temporada, por problemas financeiros do clube grego.
Assim, e após um curto regresso aos Sharks de Shanghai, pelos quais já havia brilhado, também interrompido pelo famoso vírus dos anos 20 do nosso século, iniciou-se a aventura de Jimmer Fredette pelo jogo a meio-campo: a modalidade de 3×3. A participação em eventos regionais protagonizados pela Red Bull, aliado à sua figura bastante mediatizada, valer-lhe-iam, ainda no mesmo ano, a convocatória para a AmeriCup da FIBA, vencendo mesmo a edição de 2022. No ano seguinte, uma participação no Campeonato do Mundo, do qual sairia com uma medalha de prata e uma seleção para a equipa do torneio.
Por estes dias, em Paris (simbolicamente, uma vez que os jogos de 5×5 se têm disputado em Lille), LeBron James, Kevin Durant, Stephen Curry e outras grandes estrelas da NBA vão competindo por uma medalha de ouro. Talvez, Jimmer Fredette, e a larga maioria dos seus seguidores em 2011, esperariam que num Jogos Olímpicos em 2024, uma eventual presença do base ex-Cougar fosse ao lado das superestrelas da principal liga norte-americana. Em todo o caso, o renascimento de Fredette na modalidade de 3×3 pode ainda valer o tão ambicionado ouro ao serviço dos Estados Unidos da América.
Proudly watching Jimmer Fredette get buckets in the year 2024 is my chicken soup for the soul
— Joe Pop (@JoePops_) July 30, 2024