A renovação dos votos do bom desportivismo nos Jogos Olímpicos
Os Jogos Olímpicos 2024 tiveram os seus problemas, com o Rio Sena a ser um dos principais, mas, no geral, tivemos duas semanas e quatro dias de intensa emoção, companheirismo, paixão e fair play que marcaram toda a competição. Estes momentos deram um contraste mais forte para a festa que foi Paris 2024, demonstrando como o multiculturismo social e desportivo elevam qualquer sociedade para um patamar mais positivo, alegre e consciente que é possível ultrapassar diferenças quando há vontade.
Veja-se o momento em que Rebeca Andrade subiu ao pódio como a grande vencedora do solo na ginástica artística, ultrapassando a fenomenal e GOAT Simone Biles e a impressionante e apaixonante Jordan Chiles. As duas ginastas dos Estados Unidos da América prestaram uma vénia à vencedora, numa acção sensacional e que se tornou rapidamente viral pela forma genuína e positiva como duas das melhores de sempre prestaram uma homenagem a uma lenda da ginástica mundial. Este pódio não foi só fenomenal pelas três que subiram para receber as medalhas, como pelo facto de ter sido a 1ª vez que tivemos um pódio com três mulheres negras pela primeira vez na ginástica.
By winning floor final medals, Rebeca Andrade 🥇Simone Biles 🥈& Jordan Chiles 🥉together are the first all-Black podium in Olympic gymnastics history pic.twitter.com/qWGUK3JKhS
— Blind Landing Podcast (@BlindLandingPod) August 5, 2024
Mas não foi o único momento de total companheirismo e reconhecimento de talento, já que quando Armand “Mondo” Duplantis decidiu ir para as tentativas do 6.25 metros no salto com vara todo o estádio parou para assistir a estes ensaios, assim como os seus adversários deram-lhe força com palavras de força e apoio. Quando o 2º, Sam Kendricks, abraçou Duplantis antes da 1ª de três tentativas, percebeu-se que mesmo sendo uma luta pelas medalhas, há um respeito mútuo que nunca pode ser esquecido.
E por falar em respeito, o que dizer quando Giancarlo Tamberi correu na direcção de Mutaz Barshim para perceber em que estado estava o seu colega do salto em altura? Ambos foram os vencedores desta disciplina em Tóquio 2021 – um dos momentos marcantes desses Jogos Olímpicos realizados no Japão – e sabiam que iriam se encontrar novamente na Cidade das Luzes, levantando um novo desafio emocionante entre ambos. O atleta do Qatar antes de um dos seus saltos sentiu uma pontada no gémeo e, num primeiro momento, parecia que iria ter de abandonar a competição. Com tudo em suspenso, Tamberi correu na direcção de Barshim e trocou umas quantas palavras para além de ter prestado apoio, voltando a esboçar um episódio de companheirismo e entreajuda que demonstra o verdadeiro espírito Olímpico.
Há outra componente que marca qualquer Jogos Olímpicos: o momento surpresa. Quantas lendas são criadas neste expoente máximo do desporto mundial? O jamaicano Rojé Stona foi um dos exemplos máximos nessa linha de pensamento, com o jamaicano a conquistar o ouro no lançamento do disco, com uma marca de 70 metros para o choque de todos que estavam na bancada a assistir à prova. Entrou como o 8º melhor nesta disciplina dos lançamentos, e não estava previsto sequer acabar dentro dos cinco melhores, quanto mais conquistar uma medalha. Porém, à 3ª tentativa, o jamaicano lá pegou no disco e, do nada, arremessou-o com total vigor e técnica, acertando na marca de 70 metros, marca essa que nenhum outro adversário foi capaz de alcançar. Imprevisível e inesquecível.
Também tivemos histórias de superação, como o da tenista-de-mesa Bruna Alexandre, que foi a primeira atleta olímpica brasileira a ter disputado uns Jogos Olímpicos e Paralímpicos, numa clara prova que praticamente tudo é possível quando há vontade para sonhar. O Brasil pode não ter conseguido derrotar a Coreia do Sul, mas a história desta atleta de 29 deve inspirar tudo e todos, especialmente quem desistiu de viver e de chegar mais longe.
Bruna Alexandre tornou-se na primeira atleta de sempre a disputar Jogos Olímpicos e Jogos Paralímpicos 🙌pic.twitter.com/J5AW1lNVUg
— bwin_pt (@bwin_portugal) August 6, 2024
Ainda não falámos da comunhão entre adeptos e atletas, e nada melhor que esta situação entre Quan Hongchan, vencedora da medalha de ouro de mergulho em 10 metros, e quem estava a marcar presença junto às piscinas do Aquatics Centre de Paris. A campeã Olímpica é uma colecionadora acérrima de peluches e nunca diz não a uma oferta, tendo já recebido dezenas, senão centenas, de peluches nas várias competições que participa. Mas em Paris, e para o divertimento de todos, mal terminou as suas provas, mais de uma centena de fãs atiraram vários peluches na direção da mergulhadora chinesa que simplesmente os recolheu e colocou na mochila, agradecendo a todos pelo gesto.
Apparently she's known to collect plushies so fans in the crowd threw dozens at her and now her backpack is completely covered in them https://t.co/lerXj3znqY pic.twitter.com/qkjbJBArkY
— Orikron 🇵🇹 (@orikron) August 7, 2024
Estes foram só alguns dos vários momentos que marcaram estes Jogos Olímpicos 2024, ficando bem patente que Paris voltou a reunir os adeptos com os atletas, para além de ter proporcionado tudo aquilo que o COVID tirou a Tóquio 2020 (realizado em 2021), lembrando o papel deste evento desportivo na nossa vida: acreditar que podemos sonhar com algo melhor.