Qual a implicação do Covid-19 para o Judo e os JO de Tóquio?

João CamachoMarço 9, 20205min0

Qual a implicação do Covid-19 para o Judo e os JO de Tóquio?

João CamachoMarço 9, 20205min0
O surgimento do surto do Covid-19, levou o governo Marroquino a decretar o cancelamento do Grand Prix de Rabat, agendado para os dias 6 e 8 de Março. O que pode isto implicar para os Jogos Olímpicos de Tóquio?

Jogos Olímpicos de Tóquio

O surgimento do surto de Covid-19, atualmente epidemia, colocou em estado de alerta todo o Mundo. O cancelamento de diversos eventos, nomeadamente de várias provas do calendário da Federação Internacional de Judo na reta final da janela de qualificação Olímpica, que terminará no final de Maio, poderá originar algumas surpresas e, inclusive, desvirtuar a lista dos atletas qualificados para Tóquio.

Contudo, o ministro dos desportos da Rússia confirmou a realização do Grand Slam de Ecaterimburgo, previsto para os dias 12, 13 e 14 de Março. Constituirá uma importante etapa em que se prevê uma forte adesão em virtude do cancelamento do Grand Prix de Rabat. Como medida de segurança, foi considerada a possibilidade de colocar em quarentena, de 14 dias, os atletas oriundos das zonas mais afetadas com esta epidemia, nomeadamente, China, Irão, Itália, França, Espanha, Alemanha e Coreia do Sul.

A próxima semana será certamente muito volátil em notícias e em decisões, especialmente no que respeita ao apuramento para os Jogos Olímpicos e, numa perspetiva mais abrangente, prevê-se uma evolução sobre as questões que atualmente se colocam, inclusive, sobre a realização das Olimpíadas de Tóquio. Vamos acreditar que as medidas de contenção da Covid-19 definidas pelas autoridades de saúde terão um impacto positivo e tudo irá decorrer dentro dos cenários previstos e amplamente debatidos nos media.

Grand Slam de Dusseldórfia

Decorreu entre os dias 21 e 23 de Fevereiro o Grand Slam de Dusseldorfia. Esta importante etapa, das que mais pontos atribuem aos atletas, terminou com o 5º lugar (derrota na disputa pelo bronze) de Patricia Sampaio (78Kg) e do campeão do mundo Jorge Fonseca (100Kg).

Sobre a participação Portuguesa, ficou evidente que será muito difícil qualificar atletas masculinos nas categorias de 66Kg e 73Kg, o que poderá hipotecar a participação na competição de equipas mistas, que será introduzida pela primeira vez no programa dos jogos Olímpicos de Tóquio, e onde Portugal poderia marcar posição, depois do título de Vice-campeã da Europa, conquistado no Campeonatos da Europa/Jogos Europeus de Minsk.

Terei de destacar Sergiu Oleinic, que apesar da sua veterania derrotou um dos cabeças de série do sorteio, numero 8 do mundo da categoria dos 66KG, o judoca Israelita Shmailov. Sergiu, que participou nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Está com 34 anos, tem uma carreira repleta de grandes resultados e ambiciona, na reta final da janela de qualificação, mais um apuramento Olímpico nesta competitiva categoria dos 66Kg. Tem forte concorrência interna de João Crisóstomo, atleta que tarda em afirmar-se, apesar de ter excelentes condições físicas e técnicas, faltando, talvez, um pouco mais de confiança nas suas capacidades.

Nos 73Kg, tanto Jorge Fernandes, como Nuno Saraiva (este último esteve nos Jogos do Rio de 2016), têm vacilado em alturas críticas, quando é necessário atingir a fase da competição em que se pode aspirar a conquista de medalhas, os quartos-final. Têm ficado à porta desta fase da competição o que imediatamente os coloca fora dos lugares que mais pontos atribuem para os rankings.

De salientar que temos 5 etapas do circuito Mundial pontuáveis para o ranking de qualificação Olímpica até ao final de Maio. São elas os Grand Slams de Ecaterimburgo e Baku, os Grand Prix de Antalia e Tiblisi e o Masters de Doha, que encerra a qualificação. Estas etapas serão fundamentais para colocar mais atletas dentro da qualificação e superar a participação recorde de Judocas, alcançada em 1992, nos Jogos Olímpicos de Barcelona.

Campeonatos Nacionais de Cadetes e Juniores

O início do ano fica marcado pela realização dos principais Campeonatos Nacionais dos escalões de formação, o Campeonato Nacional Cadetes (15-17 Anos) e Juniores (18-20 Anos). Os Campeonatos realizaram-se no Multiusos de Odivelas, e contaram com um fantástico ambiente e forte adesão do público. Irei destacar neste artigo só alguns dos protagonistas do escalão de Juniores, pois acaba por ser a rampa de lançamento para uma futura participação no Circuito Mundial e, até, nuns Jogos Olímpicos. De acordo com Marco Morais, treinador da Seleção Nacional de Seniores e Juniores, o nível competitivo do Campeonato Nacional de Juniores foi bom, com muitas confirmações e algumas surpresas.

A surpresa maior terá ocorrido na categoria masculina dos 60Kg, muito disputada, talvez a mais competitiva, e onde o atleta do ACM de Coimbra, Bernardo Tralhão Fernandes, que três semanas antes tinha conquistado o título de Campeão Nacional de Cadetes desta categoria, viria a surpreender a forte concorrência, e era muita nesta categoria, acabando com o título de campeão nacional. Como referi, os principais candidatos confirmaram o favoritismo. No entanto, destaco Manuel Rodrigues do Judo clube do Pragal, que esteve afastado durante muito tempo a recuperar de uma lesão, e regressou ao melhor nível, conciliando uma recuperação com um exigente curso de engenharia aeroespacial. Manuel conquistou o título de campeão Nacional dos 81Kg, frente a um fortíssimo adversário do Judo Clube de Portugal, Damian Troianschi, que o ano passado terminou em 7º Lugar nesta categoria, nos Mundiais de Juniores de Marraquexe.

Há talento e qualidade no escalão de juniores em Portugal, idealmente seria positivo ter mais quantidade em algumas categorias, pouco competitivas, de modo a proporcionar mais opções, mas o que realmente importa é a atitude dos atletas, a capacidade de sacrifício e de trabalho, o acreditar que é possível e, acima de tudo, muita Humildade, pois o sucesso da próxima geração de Judocas de Portugueses passará, inevitavelmente, por este caminho!

Foto: FPJ

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