5 jogadores de rugby que mereciam uma (maior) carreira internacional
Quantos jogadores foi extraordinários pelos seus clubes, mas que a nível selecção não tiveram uma franca dose de oportunidades apesar do seu talento, dinamismo e dimensão? Escolhemos 5 jogadores que tiveram experiências diferentes pelos países que representaram no contexto internacional, uns com uma mão cheia de internacionalizações, outros com títulos até conquistados mas sem ter tido uma expressão minimamente impactante para a história da modalidade.
THOMAS WALDROM
Considerado um dos melhores n.º8 a passar por Inglaterra, com cerca de 70 ensaios marcados em 88 jogos, conseguindo levantar dois títulos de campeão da Premiership acabou por só realizar somente 5 jogos pela Inglaterra, seu país de adopção já que nasceu na Nova Zelândia e chegou a ser um dos nomes mais importantes dos Hurricanes e Crusaders (2004-2008 pelos ‘Canes e 2009-2010 por os ‘Saders). Waldrom era daqueles 3ªs linhas centro que assustava qualquer potencial placador ou linha-de-defesa, já que imprimia uma velocidade extraordinária combinado com um poder de choque que arremessava os seus opositores para o lado ou ficavam estendidos no chão, assumindo-se como uma das referências dos Exeter Chiefs.
Apesar da Inglaterra só ter conseguido encontrar um verdadeiro n.º8 a partir de 2014 com a ascensão de Billy Vunipola, Waldrom merecia ter sido visto por Stuart Lancaster como uma potencial solução durante aqueles anos de maior caos na Rosa. Nenhum 3ª linha somou tantos ensaios como Waldrom na história da primeira divisão inglesa – nem o extraordinário Lawrence Dallaglio – e é de estranhar que só teve oportunidade para alinhar pela sua selecção adoptiva nos anos de 2012 e 2013, isto quando a sua fase mais prolífera surgiu logo a partir dessa última aparição. É só ver os vídeos de Thomas Waldrom para perceber que era um avançado completo, genial na forma como lia o jogo e no papel de líder que assumia sem qualquer problema.
CHRISTIAN WADE
Podia não ser o ponta mais consistente a nível defensivo ou de leitura táctica, mas Christian Wade era simplesmente mágico com a bola nas suas mãos e acabou constantemente preterido por todos os seleccionadores da Inglaterra entre os anos de 2011 e 2018. Wade acabou por não conquistar qualquer título pelos Wasps RFC, mas foi autor de 497 pontos, podendo assumir o papel de chutador quando necessário, um dos vários pormenores de alto nível do ponta que mesmo tendo sido overlooked por Stuart Lancaster logo a partir de 2013, Warren Gatland viu algo de especial no “pequeno” atleta (1,71 de altura) e chegou a convocá-lo como suplente de recurso para os British and Irish Lions na visita à Austrália, alinhando contra os Brumbies. Foram passando os anos e a situação de Wade não só não mudou, como piorou com Lancaster a convocar jogadores de qualidade minimamente questionável para o lugar de titulares e suplentes nas pontas.
Com Eddie Jones, a situação foi praticamente igual, questionando-se o porquê de Marlan Yarde ter tido diversas oportunidades para singrar pela Rosa, quando Christian Wade ia enchendo os Wasps não só com ensaios mas também com quebras-de-linha estonteantes, perseguições aos pontapés dignas de um filme e uma técnica individual sem paralelo. Em 2018 pôs fim à sua carreira no rugby e agora está na NFL, ao serviço dos Buffalo Bills… tem 28 anos de idade. Poderia ter tido outra sorte?
SCHALK BRITS
Campeão do Mundo em 2019, mas que esteve durante largos anos afastado dos Springboks, aparecendo em três períodos diferentes: 2012, 2015 e 2019. Conquistou 15 internacionalizações pela selecção da África do Sul, impondo sempre aquele estilo característico de um talonador que facilmente poderia vestir a camisola de asa ou até n.º8, como aconteceu no Campeonato do Mundo passado, mostrando ímpeto, intensidade e inteligências em todas as suas acções, para além de conferir uma experiência importante nos períodos de jogo mais difíceis, com Rassie Erasmus a evocá-lo como uma das peças-chave da campanha vitoriosa de 2019.
Brits levantou títulos por quase todos os clubes que passou, mas foi nos Saracens onde atingiu o seu apogeu com multiplas Premierships e Heyneken Cup’s, sendo aquele típico enforcer munido de uma placagem lendária e uma forma de correr com a oval dominante e, por vezes, artísitca. Foi um talonador que marcou uma era no rugby de clubes do Hemisfério Norte e um atleta que merecia ter recebido o mesmo tratamento por parte dos Springboks, que constantemente recusaram ver utilidade na sua chamada, ao contrário do que fizeram com François Louw.
GARETH STEENSON
Sabem quantas aparições tem Gareth Steenson pela Irlanda em toda a sua carreira? Zero. Este número pode ser explicado pelo facto de ter abandonado o território da Irlanda (em específico da Irlanda do Norte) com 22 anos de idade, sem nunca ter tido a oportunidade para jogar por qualquer uma das franquias que compõem o ramalhete do rugby profissional irlandês. Esteve alguns anos na segunda divisão inglesa, tanto ao serviço dos Titans, Cornish Pirates e Exeter Chiefs, e foi precisamente pela equipa da região de Dover que ascendeu a um nível de lenda em Inglaterra… ajudou o clube a conquistar tanto esta divisão como depois a Premiership, isto já no ano de 2017 num repleto estádio de Twickenham, tendo sido votado como o Man of the Match desse encontro frente aos Wasps – tinha perdido o pai algumas horas antes.
Nunca foi convidado durante estes anos de “exílio” para voltar à Irlanda, com o Connacht e Ulster a receberem várias críticas de alguns antigos jogadores, que viam em Steenson uma solução para a Irlanda, caso Jonathan Sexton sofresse alguma lesão e ficasse assim impossibilitado de jogar. Não aconteceu e nem vai acontecer esse regresso ao seu país de origem, já que tanto o abertura tem 36 anos e está completamente imerso e apaixonado pelos Exeter Chiefs, ocupando o 5º lugar de melhor marcar de pontos de sempre da Premiership, com 1606 com a possibilidade de chegar ao pódio desta lista lendária de jogadores da liga inglesa… será que o vai conseguir?
COLIN SLADE
Como Schalk Brits, Collin Slade conseguiu levantar títulos pela sua selecção apesar de ter só realizado 21 jogos (a larga maioria como suplente), mas faz parte daquela restrita ala de jogadores que conquistaram dois campeonatos do Mundo. Fez parte dos elencos vencedores dos All Blacks de 2011 e 2015 (nessa edição da competição jogou em apenas um jogo, frente à Namíbia) e merecia ter sido visto com outros “olhos” muito pelo brilhantismo com que passeava dentro das quatro-linhas. Verdade que em 2015 saiu da Nova Zelândia para alinhar pelo Pau do TOP14 e essa situação aconteceu não só pelo bom salário que aufere mas também porque nunca seria visto como uma escolha minimamente interessante por parte dos selectors neozelandês.
Sim, havia Ben Smith, Damian McKenzie, David Havili para o lugar de defesa, e Beauden Barrett, Richie Mo’unga para a camisola 10, mas não merecia uma oportunidade mais lúcida na posição de ponta? Conhecido pela versatilidade e compromisso táctico, Colin Slade foi sempre visto como um dos jogadores mais virtuosos da sua geração, especialmente pela forma como facilmente acelerava e passava por um potencial placador, metendo em jogo aquela dança de pés rica em pormenores e detalhes. Em 21 internacionalizações pelos All Blacks só perdeu 2 jogos na sua emblemática carreira – ambos frente aos Springboks – e apesar de ter conquistado um bicampeonato mundial, podia ter sido visto de forma diferente no rugby neozelandês até porque a riqueza exibicional ainda é relembrada na sua passagem pelos Crusaders ou Highlanders.