Guia para a LBF 2024: dos candidatos ao calendário

Após o fiasco da seleção brasileira em conquistar a vaga olímpica, a ressaca está perto do fim: a Liga de Basquete Feminino (LBF) inicia a disputa na próxima sexta-feira, dia 01 de março, com duração prevista de seis meses. Por pouco que seja, cada passo dado pelo basquete feminino no Brasil deve ser comemorado e a Liga terá um implemento significativo nesta temporada, com a adição de mais 3 equipes (totalizando 11 participantes), sem mencionar a trinca de patrocinadores (um máster e dois oficiais).

O resultado imediato é a expansão das vagas de mão-de-obra, com ao mesmo 30 atletas a mais do que a edição passada. O Brasileiro sub 23, organizado pela CBB (Confederação Brasileira de Basquete), visibiliza jovens valores, muitas das quais saltarão à liga profissional adulta. Com o mesmo formato, turno e returno na fase de classificação, cada equipe disputará 6 partidas a mais. Ainda tímido, esperamos que os novos ares no basquete feminino brasileiro engrossem durante a LBF 2024.

Vamos ver como cada equipe chega à competição, suas ambições e principais fortalezas. Agrupamos as equipes em blocos, com um recorte das pretensões e das expectativas.

Para quem não quer perder nenhuma movimentação dos principais clubes do nosso basquete feminino para 2024, iremos alimentar esse fio com tudo que rolar no "Mercadão LBF". pic.twitter.com/BrlrU600mR

— Rainhas do Garrafão (@RainhasGarrafao) December 14, 2023

Favoritas disparadas

As finalistas da temporada passada largam com imenso favoritismo. O Sesi Araraquara buscará o bi-campeonato com a mesma receita exitosa de 2023; um dos projetos mais estáveis no cenário nacional, com oferta de carteira de trabalho às jogadoras, divisão de base e sinergia entre gestão e comando técnico, a equipe de Araraquara manteve o técnico João Camargo e a base campeã.

Pode-se criticar a formação da equipe, caracterizada pelo excesso de chutes de três e ausência de pivôs dominantes na posição 5, porém inconteste a diferença de uma equipe entrosada e bem treinada para o restante. Raros times quebram o ritmo de jogo de Araraquara, capaz de promover substituições sem perder intensidade. Expectativa de muitas vitórias, briga no topo da tabela e, ao menos, a final da competição; as novidades residem no retorno da jovem (19 anos) ala Stephany, após grave contusão sofrida na estreia da temporada passada, e na integração de Alexia Dagba, outra promessa do basquete brasileiro (17 anos), oriunda da base e aposta da comissão técnica.

Trata-se de um time coeso e uniforme, liderado por Aline Moura (em recuperação física) e pela trinca de armadoras (Débora, Maila e Bia Aneas). O objetivo é o troféu e nada mais, assim como o perene candidato Sampaio Basquete, dono do maior investimento da liga. A equipe maranhense amargou o vice em 2023 e realizou mudanças para voltar ao título: o ex-técnico de Itu (onde se sagrou campeão em 2021) e Santo André, Bruno Guidorizzi, assume um time reformulado. Diferente dos anos anteriores, cujo elenco mudava ao longo do torneio, o Sampaio privilegiou destaques da temporada passada e se reforçou com a dupla ex-santo André Lays e Sassá, com a dupla ex-Blumenau Kawanni e Luana e com a ex-dupla de Campinas Cacá e Iza Sangalli. Quase todas conhecedoras da proposta de jogo de Guidorizzi, o elenco ainda terá a adição de duas (ou três) estrangeiras.

Alana é a principal remanescente da edição passada e teve sua melhor fase quando dirigida por Guidorizzi. Tal qual o Sesi, há carência de pivôs dominantes e a interrogação, além do tempo de amadurecimento e adaptação do novo elenco, paira em como o time conseguirá esconder essa lacuna. De qualquer forma, outro resultado que não a disputa da final poderá ser interpretado como fiasco.

Incógnitas

Abaixo das duas favoritas, reina a incerteza. Muitas mudanças nos elencos, mescla de experiência e juventude e novos técnicos (infelizmente o domínio masculino nos bancos segue a tônica) trazem indefinição às demais 9 participantes. Porém, pequenas diferenças permitem reduzir este grupo a 4 equipes: Santo André, Unimed Campinas, Corinthians e Ponta Grossa. Comecemos pela primeira campeã e time mais constante da liga.

Santo André, por um lado, perdeu sua armadora e sua (ala)pivô, os dois principais eixos do estilo acelerado de jogo proposto pelo técnico Rafael Choco. Por outro lado, manteve as alas Tássia e Yasmim e se reforçou com a armadora Bia (ex-Campinas); Choco insistirá no ritmo de alta velocidade ou se adaptará às novas peças disponíveis? Incontestável a queda na qualidade, que abre espaço para jovens valores enfim assumirem maior protagonismo. Ainda assim, difícil definir um teto para uma equipe com tantas interrogações.

Campinas passa pela mesma indefinição, com o adicional da mudança de comando técnico. Após levar o time às finais em 2022 e testemunhar a redução no investimento, Alemão dará lugar ao jovem técnico Dyego Maranini, com experiência na base e estreando no adulto. O time sofreu uma limpa após as semi-finais da liga em 2023 e se reformulou para o Paulista, com ênfase na experiência; nova guinada para a LBF 2024, com a troca de praticamente todo o elenco. Veremos se o novo técnico dará oportunidade às jovens, movimento não condizente com algumas contratações já efetuadas. Babi saiu da aposentadoria para voltar à armação, ao lado da experiente Casanova; a aposta mais certa em Campinas recai sobre a pivô Licinara, remanescente dos anos anteriores e certeza de dominância na área pintada.

Se Santo André e Campinas foram agrupadas como incógnitas devido às mudanças, Ponta Grossa e Corinthians serão estreantes na liga. O estado do Paraná, forte nas categorias formativas, enfim terá um representante na liga adulta; Ponta Grossa trouxe a “nativa” e experiente Nádia Colhado, após anos de afastamento por lesão, cuja dupla no garrafão será a também experiente Karina Jacob. Para conduzir, a ótima armadora colombiana Manuela Rios; de resto, dispomos de poucas informações (a poucos dias, o site oficial permanece com poucas informações). Julia Letty deve ganhar minutos significativos na ala e, além de sua consolidação no cenário nacional, a estruturação do projeto a médio prazo parece mais importante que qualquer resultado dentro de quadra.

Mesmo vaticínio ao gigante Corinthians, clube de forte torcida que herdou parte do projeto de base do Bradesco, extinto no final de 2023. Mais importante que o resultado, esperamos que a estreia seja o primeiro passo de um projeto a médio e longo prazo; Cristiano Cedra, o técnico, tem experiência na base e trouxe os principais nomes de Osasco (Sther Ubaka, Micaela, Sofia, Raíssa). Se elas, com idade abaixo do usual para a LBF, conseguirem cavar espaço na rotação, já terá sido exitosa a participação do Corinthians (primeira equipe do município de São Paulo na liga). Mas, por ser um gigante, a equipe deve ser reforçada durante a temporada, para se somar às pivôs Mari Dias, Kelly e Gil e às alas Tati Pacheco e Ariadna. Das poucas equipes com time no masculino e feminino, a chegada de um gigante pode trazer resultados benéficos para a liga, e ainda mais vantajosos se realmente passar a investir na base.

A monitorar: na fase final do campeonato russo, Tainá Paixão deve chegar com a LBF em andamento. Quem quer que a contrate, terá um reforço de peso.

Aposta em jovens

Soa estranho uma equipe constante na liga estar nesta categoria, porém Blumenau sofreu uma redução no seu poderio. Da equipe finalista em 2021, resta muito pouco – o suficiente, porém, para dar continuidade ao belíssimo trabalho da equipe, que promete renovação e rodagem às jogadoras reveladas e desenvolvidas no estado de Santa Catarina. A técnica Bruna Rodrigues deu belos sinais nas duas primeiras temporadas e, mais experiente, tem todas as condições de montar uma equipe competitiva. Sem grandes ambições, com os pés no chão, a chave estará com as jovens.

Outro projeto de base, que retorna à liga, é o São José. Com história na liga, o projeto sofreu intermitências nos últimos anos e conseguiu se fortalecer para retornar à LBF. O desempenho no Paulista ficou abaixo do esperado e as expectativas são de crescimento contínuo durante os seis meses de liga. O eixo do time é formado por jogadoras jovens em busca de lugar ao sol – Parro, novata do ano em 2023, trará muita defesa e intensidade; Nany deve ocupar a vaga da experiência e liderança, nada como um elenco novo para ela se recuperar de vez das lesões.

Mais do mesmo

O Ituano deve ter o melhor desempenho entre as 3 equipes deste grupo. Com poder de investimento acima da média da liga, a estrutura do elenco é boa e experiente (Joice, Leila, Larissa, Albeiro, Lê Lisboa, Gabi Guimarães, Patty). Na verdade, é elenco para chegar à semi-final e, se encontrar o melhor padrão, para brigar com as duas favoritas. O problema é a insistência em um técnico mais preocupado em manter o projeto (que cortou as divisões de base) do que em se renovar. Antonio Carlos Barbosa possui muita história na modalidade mas está distante de sua melhor fase – como demonstra o resultado no Paulista, com esse mesmo elenco. A grande esperança é a chegada da jovem ala Brenda Bleidão, destemida e talentosa (caso ela entre na rotação), a faísca necessária para qualquer equipe.

O Sodiê Mesquita manteve o núcleo de jogadoras e o comando técnico, o que deve ser suficiente para atingir os playoffs. Não podemos menosprezar uma equipe que conta com a 2x MVP, a ala Thayná, além da inteligência da pivô Brenda Barros. Com um estilo acelerado, faltou variação tática nas edições anteriores; a aposta em marcação pressão e intensidade alta não se sustenta sem um elenco coeso e numeroso, oposto à formação atual, recheada de jovens em busca de consolidação.

Por fim, Catanduva retornou ao seu padrão de costume, mediano, após um ano de oxigenação. A gestão esbarra em suas próprias limitações e mantem o técnico estimado pela gestora e armadora Natália, ainda que os resultados e o desempenho sejam abaixo da média. A tendência segue a exaustão de poucas peças e substituições pontuais; com 39 anos, Natália e a ala Thaissa (35 anos) devem jogar por muitos minutos, independente do desempenho. Chegar aos playoffs será uma vitória e tanto a um elenco cada vez mais envelhecido.

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— Liga de Basquete Feminino (@LBF_Oficial) February 21, 2024