A última dança da LBF em 2023

Lucas PachecoAgosto 30, 20238min0

A última dança da LBF em 2023

Lucas PachecoAgosto 30, 20238min0
Entramos nos últimos jogos da LBF 2023 e Lucas Pacheco faz a antevisão ao momento que estão todos à espera

A temporada de 2023 da Liga de Basquete Feminino (LBF) brasileira terá sua dança derradeira na quinta-feira, 31 de agosto. A série final envolve as duas principais equipes da competição, cotadas para disputarem o título antes mesmo de seu início, em março; Sesi Araraquara e Sampaio Basquete possuem os maiores investimentos do campeonato e reúnem os melhores conjuntos do país.

Longe de ser uma surpresa, a final coroa uma temporada irregular, com redução das participantes em relação a 2022. Com apenas 8 equipes, a disputa na fase regular restringe-se às posições e mando de quadra, uma vez que todos avançam aos playoffs; parece pequena, mas a redução acarreta ao menos 4 partidas a menos por equipe, sem contar os 22 postos de trabalho a menos (para ficarmos somente nos elencos, sem considerar comissões técnicas). Para piorar, a liga distanciou-se mais uma vez de sua pequena base de fãs; o acompanhamento deu-se apesar dos problemas rotineiros de cronômetro nas transmissões, da ausência de relógio de posse, das lacunas no site oficial da competição (como as várias partidas sem estatísticas disponíveis).

Se os fãs fieis sentiram a mudança, o que dirá de atrair de novo público? O aporte de um canal de TV fechada para as finais (Sportv) ameniza o problema, assim como o retorno da patrocinadora máster (Caixa) traz alento e expectativa de mudança. Porém, a modalidade anda tão combalida no Brasil que qualquer acerto tende a cair no vazio após não reverberar para outras questões estruturais.

Fora das quadras, sem atenção pela Federação Internacional (Fiba), com desprezo pela confederação nacional (CBB), com circuito de formação e base cada vez menor, não há muito para onde correr. Os problemas estruturais se recolocam após surtos de melhora e esse buraco negro em que o basquete brasileiro (especialmente o feminino) se encontra apenas expande seus limites.

Ao adentrar nas quadras, impossível não notar os efeitos da desestruturação. Ituano, campeão em 2021, desmontou-se e fez uma temporada de re-formatação; Sodiê Mesquita e Catanduva mudam o elenco sem alterar o pilar tático; Blumenau montou um elenco desconexo e carente de posições chave; Santo André construiu uma identidade tática e aferra-se a ela com uma rotação minúscula; Campinas obteve patrocínio às vésperas da competição e sua mera presença deve ser comemorada. Sobraram para a final as duas equipes mais fortes.

O Sesi Araraquara passou desfilando pela fase regular; a única equipe que contrata as atletas com carteira assinada fez prevalecer a organização e continuidade de seu projeto, fatores desembocados em um elenco vasto, com substitutas à altura, e padrão tático invejável para a realidade brasileira atual. É uma equipe com quatro jogadoras abertas, liberando espaço para a pivô Aline Moura trabalhar no 1×1 interno; o espaçamento e ajuda atraída por Aline destrava os chutes de três – o Sesi chuta preferencialmente de longe. No lado defensivo, armadilhas para roubar a bola e sair no contra-ataque, alternando defesa individual com zona, ambas pressionadas. O técnico José Camargo implantou sua filosofia de trabalho com sucesso em Araraquara.

Já o Sampaio manteve sua filosofia de contratar em peso para a LBF, dispensando todo mundo após a final (normalmente alcançada). Presenciamos uma equipe menos entrosada em 2023, com adaptação dificultada pela chegada dos reforços vindos da Europa. Ao invés de crescer, o time regrediu e desde então alterna momentos encorajadores com outros lamentáveis. O poderio individual está lá, o que mantem as chances de título.

Título em disputa e decidido após quinta-feira. A última dança da temporada terá como palco o ginásio Gigantão, em Araraquara, com a série empatada em 2 a 2. A série final canaliza toda a inconsistência vista durante o torneio: após um jogo 1 vencido pelo Sesi (62 x 57), graças aos 26 turnovers do Sampaio, as maranhenses entraram diferente na segunda partida e conquistaram a vitória fora de casa, 51 x 59. Os placares baixos falam por si, sem mencionar a prevalência de turnovers sobre as assistências (72 turnovers para 47 assistências combinadas) e os 34,6% de aproveitamento. Nas duas primeiras partidas da final, nenhum time atingiu a marca de 65 pontos.

A série migrou para o Maranhão, porém manteve a dinâmica, com a única diferença de que as vitórias foram mais largas: 56 x 70 para o Sesi no jogo 3 (com atuações de gala do trio Sossô, Aline e Vitória) e 80 x 52 para o Sampaio no jogo 4. Tainá justificou o hype e mais uma vez chamou a responsabilidade e correspondeu (22 pontos, 7 rebotes e 9 assistências), auxiliada pela argentina Meli Gretter e pela pivô Gabriela. Novidade na série, a boa atuação do garrafão maranhense será peça chave na partida decisiva, tirando o peso e a defesa das jogadoras do perímetro. O Sampaio conseguiu no jogo 4, pela primeira vez na série final, superar as assistências aos turnovers. Os rebotes têm sido outro fundamento essencial na série – quem venceu a batalha nas tábuas acabou com a vitória.

A essa altura, as equipes já se conhecem e os planos de jogo estão preparados. Mais que ajustes táticos e finos, a reviravolta após cada partida originou-se mais na disposição, intensidade e concentração com que cada time entrou. Nas quatro partidas, quem abriu vantagem no 1Q segurou-a e garantiu a vitória – ou seja, fundamental entrar desde a bola ao alto com toda a atenção.

Para o Sesi, está em jogo seu primeiro título na LBF. A equipe do interior paulista jogará em casa, com apoio da torcida, e o troféu consolidará um projeto iniciado em 2019, que cresceu gradativamente até se tornar um caso de sucesso. O time tem encontrado dificuldade para fechar as séries de playoff (como nas quartas, contra Ituano, e semis, contra Santo André, vencidas no último jogo), mas ainda assim encontra forças para superar suas adversidades e limitações. Quando encaixa seu jogo de movimentação de bola ofensiva, ninguém é capaz de vencê-las.

Por outro lado, quando as adversárias brecam os passes e forçam Araraquara a individualizar, a equipe não encontra meios de sair do buraco. O Sampaio apostará nessa receita, já que possui os maiores talentos individuais do confronto; sem descuidar da bola e coletando rebotes, as maranhenses mostraram-se dominantes. As previsões tendem a esmorecer perante uma série tão irregular, dificultando ajustes e tendências. O Sampaio conta com o peso de sua camisa para conquistar seu quarto título (em sete edições disputadas).

Falta apenas uma partida e tudo pode acontecer. Quem faturar o título, será com merecimento e justiça. Com 40 minutos separando as jogadoras de seu objetivo, cabe a elas não desperdiçar nenhuma oportunidade e imprimir o ritmo desejado. Que tenhamos a última dança bem coreografada e disputada.


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