O que esperar do SL Benfica para 2017/2018?
Entre Sporting CP e SL Benfica, o título de Campeão Nacional de Futsal passou os últimos 15 anos em constantes alternâncias entre as duas margens da 2.ª Circular. Contudo, os últimos anos demonstraram uma superioridade leonina que as águias parecem ser incapazes de combater. Com o título da passada época, o Sporting soma já o dobro dos títulos de Campeão Nacional dos encarnados. Onde para o SL Benfica vencedor da UEFA Futsal Cup?
Ao contrário de outras modalidades dentro da esfera encarnada, o Futsal tem sido o “parente pobre” nos últimos anos. Se, por um lado, o grande rival se reforçou com jogadores de classe mundial, almejando a conquista da UEFA Futsal Cup, o Benfica entrou numa apatia que lhe permite ser “apenas” o segundo melhor em Portugal o que, obviamente, não agrada nem satisfaz os adeptos vorazes encarnados e as vozes das bancadas, sempre famintas de títulos.
Os dois títulos da época passada (Taça de Portugal e Supertaça) não escondem nem compensam o falhanço da derrota perante o AAUM/Braga nas meias-finais do Campeonato, nem o gorar da qualificação para a UEFA Futsal Cup. Uma época desastrosa que terá de servir de lição para a estrutura encarnada.
Contudo, de acordo com as movimentações dentro da estrutura e, inclusivamente, dos reforços, a lição parece ter sido aprendida. Joel Rocha parece nunca ter sido verdadeiramente o líder do balneário (quem não se lembra do episódio da agressão com Formiga do Unidos Pinheirense?) e isso talvez possa ser explicado com algumas movimentações dentro do balneário por parte de jogadores com muitos anos de casa. O terceiro lugar da época passada fez perceber que certos jogadores estariam ultrapassados — seriam já um “empecilho” — apesar da sua elevada remuneração e preponderância dentro do balneário.
Assim, a estrutura encarnada começou por “varrer” o balneário, tendo deixado sair Bebé (agora no Leões de Porto Salvo) e tendo “promovido” Gonçalo Alves a um papel de dirigente. Por outro lado, saíram também Ré (igualmente para o Leões de Porto Salvo) após épocas de constantes altos e baixos; Fernando Wilhelm, que pareceu nunca se ter adaptado verdadeiramente ao Futsal encarnado, apesar de ter sido considerado o melhor jogador do último Campeonato do Mundo; Alessandro Patias, um jogador cujo rendimento caiu a pique desde a sua 1.ª Época em Portugal e que demonstrava já não ser o Pivot que Joel Rocha necessitaria; e Cristián e Franklin, dois tremendos erros de casting. Elisandro foi também um dos elementos que abandonaram a Luz, não por falta de qualidade, fim de ciclo ou necessidade de mudança, mas sim por uma qualidade absolutamente ímpar que lhe valeu a transferência para o Campeão Europeu e Espanhol, o InterMovistar.
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— SL Benfica (@SLBenfica) June 17, 2017
Estas profundas mudanças no plantel encarnado deixam antever duas alterações importantes: a liderança de balneário, agora recaindo mais sobre jogadores como Bruno Coelho e Chaguinha, sendo que Joel Rocha também parece sair reforçado; na forma de jogar, onde o 3×1 com Pivot deixa de o sistema preponderante, passando o ênfase para o 4×0 dinâmico.
E será esta segunda alteração que poderá ser a chave de um renascer do Benfica. Ao longo das últimas épocas encarnadas, as águias pareceram sempre muito presas a um modelo herdado dos tempos da vitória na UEFA Futsal Cup, o 3×1 com Pivot. A quadra encarnada sempre foi brindada com enormes intérpretes no jogo de Pivot, de César Paulo a Elisandro, não sendo por isso de estranhar a preferência por este modelo. Contudo, com o evoluir da dinâmica futsalística, este sistema começa a parecer algo arcaico, “parado no tempo”. Demasiado dependente de individualidades, o 3×1 com Pivot dependerá sempre da qualidade do intérprete. Esta preferência contrasta com o modelo do rival, muito mais dinâmico, muito mais criativo, que depende das movimentações do coletivo e não das suas valências individuais (apesar de existirem).
Contudo, Joel Rocha pareceu sempre um técnico muito “mandão”, pouco inclinado a abdicar das suas ordens para entregar o controlo do jogo aos seus jogadores. O técnico encarnado, vendo-se sem Pivots como Elisandro (Deives e Raúl Campos são Pivots que derivam imenso para a posição de ala, sendo quase “Falsos-Pivots”), terá de perder a obsessão pelo controlo e deixar os intérpretes assumir o seu devido papel. Jogadores como Robinho, Henmi e até Chaguinha precisam dessa liberdade para arriscar e errar, sendo que, dada a sua qualidade, serão sempre mais vezes bem-sucedidos do que mal.
Espera-se, então, uma mudança para um sistema que se aproxime do 4×0 dinâmico, um sistema já usado por Joel Rocha, especialmente na sua 2.ª época ao leme do clube encarnado, que usa e abusa da movimentação dos seus jogadores e do seu entrosamento. As contratações de Tiago Brito e André Coelho, habituados a jogar neste sistema no Braga, permitirão ao Benfica criar um modelo de jogo mais atual, mais próximo da mobilidade e dinamismo que o jogo do Futsal requer, mais do que nunca. A entrada de Roncaglio, exímio no jogo de pés, permitirá construir este modelo de jogo desde trás, escusando-se dos lançamentos longos com as mãos e as “tremideiras” nos atrasos de bola.
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— SL Benfica (@SLBenfica) June 30, 2017
Não obstante estas mudanças profundas, o SL Benfica parte atrás na corrida pelo título. Nuno Dias, técnico do Sporting CP, foi capaz de criar uma identidade e forma de jogar única em Portugal, aliando a qualidade individual absurda ao seu dispor a um modelo de jogo completo, com propostas para todos os momentos.
Joel Rocha terá de demonstrar aquilo que vem clamando há vários anos: a qualidade do Benfica, que precisa de ser mais do que uma equipa feita para ganhar ao rival, precisa de se transcender e reencontrar.