Sporting Campeão 4 anos depois

André CoroadoOutubro 20, 20208min0

Sporting Campeão 4 anos depois

André CoroadoOutubro 20, 20208min0
Numa temporada marcada pela pandemia, o campeonato de elite realizou-se com sucesso e acabou por coroar o Sporting CP como o novo campeão nacional, 4 anos volvidos sobre a derradeira conquista. Deitamos um olhar ao que foi a principal prova do futebol de praia nacional em 2020.

Abundam os motivos de celebração da data do 5 de Outubro em Portugal, não se tratasse do feriado comemorativo da implantação do regime republicano, mas também a data da assinatura do Tratado de Zamora com a coroa de Leão e Castela em 1143, amplamente considerado como o nascimento de Portugal enquanto nação independente. Porém, este ano o 5 de Outubro reveste-se de uma importância particular para o Sporting Clube de Portugal, uma vez que, 4 anos volvidos do único título nacional até ao momento, os leões voltaram a alçar as garras ao troféu mais cobiçado do futebol de praia nacional, o de campeões da divisão de elite.

O trajecto rumo ao título não foi fácil, numa época atípica que obrigou a uma adaptação por parte de todas as equipas participantes, em função das restrições sanitárias vigentes. No caso da turma de Alvalade, o modesto 9º lugar alcançado na Euro Winners Cup, aquém do objectivo assumido por toda a equipa, mas principalmente a dúbia qualidade exibicional apresentada no primeiro torneio da época faziam duvidar a comunidade do futebol de praia (incluindo os próprios) de que o Sporting seria capaz de beliscar o domínio do tricampeão Sporting de Braga.

No entanto, numa edição particularmente bem disputada da divisão de elite em que emergiu a seriedade do trabalho das 8 equipas constituintes da divisão de elite, os comandados do ex-internacional José Maria Fonseca protagonizaram uma evolução notável ao cabo das 3 semanas de competição e acabaram por alcançar o tão desejado título de forma enfática, quebrando assim a hegemonia dos Guerreiros do Minho.

O mais equilibrado de sempre

Haveria muito a dizer sobre a forma exemplar como as equipas se apresentaram no Estádio do Viveiro – Jordan Santos, na Nazaré, praticando um futebol de praia de altísimo nível e confirmando Portugal como a capital do futebol de praia neste ano pandémico de 2020. A presença de jogadores internacionais de outros países, nomeadamente espanhóis, mas também brasileiros, uruguaios e suíços, veio valorizar a liga portuguesa, mas mantendo em geral o espaço para o jogador português poder aparecer e desenvolver-se.

Do lote de equipas que disputaram a divisão de elite, o Leixões SC e o GD Alfarim acabaram por ser os dois relegados para a divisão nacional do próximo ano, tendo perdido os embates decisivos na luta pela manutenção contra GRAP e ACD “O Sótão”. Apesar disso, ficaram na retina a combatividade e os argumentos de duas equipas que acabaram por ver chamados dois jogadores à selecção nacional: o guarda-redes Rúben Regufe do lado dos homens de Matosinhos e o ala goleador Duarte Algarvio por parte da formação de Sesimbra.

Por seu turno, as equipas da zona centro do país voltaram a apresentar índices exibicionais de grande nível, tendo o GRAP assegurado a manutenção de forma segura, ainda que na fase regular tenha acabado por não conseguir roubar pontos aos adversários que se apurariam para a final four. Já a ACD “O Sótão”, promovida à elite em 2019, realizou uma campanha 100% vitoriosa na manutenção depois de uma fase regular em que venceu a Casa do Benfica de Loures e perdeu pela margem mínima (3-2) com o Sporting de Braga, mas acabou por ser infeliz e falhar o apuramento para a final four por um ponto apenas. Os comandados de João Carlos Delgado, que não puderam contar com o internacional Rúben Brilhante, acabaram por ver o pivô espanhol Chiky ser coroado melhor marcador da competição.

Foto: FPF

Os quatro finalistas

Também recém-promovido à divisão de elite, o GD Chaves apresentou-se com uma equipa baseada em valores seguros do país vizinho, acrescentando o guardião hispano-suíço Elliot, os uruguaios Pampero e Gastón Laduche, o internacional português Jonas e outros nomes sonantes do futebol de praia nortenho. Baseando o seu jogo num sistema 2:2 bem trabalhado e num rigor defensivo assinalável, os transmontanos revelaram-se um osso duro de roer para as formações teoricamente favoritas, ainda que não tenham conseguido roubar-lhes pontos nem na fase regualr nem na fase final. Fica no entanto o registo da participação na final four logo no primeiro ano após a promoção, à semelhança do que fizera o GD Alfarim no ano passado e o CD Nacional em 2017.

Já a Casa do Benfica de Loures, que remodelou quase completamente o seu plantel à excepção dos permanentes Tiago Alves, Luís Vaz e João Silva, montou uma equipa muito competitiva com base num forte investimento, assegurando a presença do melhor jogador do mundo de 2018 Llorenç Gomez, do internacional português Duarte Vivo, da nova estrela italiana Josep Junior e do experiente atleta luso-brasileiro Bernardo Botelho, assim como do galardoado guarda-redes da selecção nacional Elinton Andrade, entre outras figuras.

A prestação dos temerários algozes de Loures valeu-lhes o segundo lugar na fase regular, num trajecto que incluiu uma vitória sobre um favorito (ainda que desfalcado) Sporting, que augurava boas perspectivas para a fase final. No entanto, Tanto o Sporting de Braga como o Sporting acabaram por se revelar ainda um nível acima do conjunto orientado por Daniel Nogueira, não obstante o rigor táctico por ele implementado e o talento evidenciado por semelhante plantel.

Por seu turno, o vice-campeonato acaba por saber a pouco para um Sporting de Braga que se propunha alcançar o quarto título consecutivo. Os pupilos do capitão-treinador Bruno Torres não ergueram o troféu desta vez, é certo, no entanto nada há a apontar a uma equipa que continua a demonstrar um futebol de praia de altíssimo nível e que se bateu até ao último grão de areia por mais um título.

As movimentações imprevisíveis do trio Jordan-Bê-Léo, transformado em quarteto pela adição de André Lourenço, continuam a constituir uma sólida alternativa à tirania do 2:2 instalada no futebol de praia moderno, tendo a qualidade técnica dos brasileiros Rafa Padilha, Filipe Silva, Bokinha e do estreante Jordan Soares ajudado a manter uma dinâmica de excelência, numa equipa onde brilharam também os jovens Fábio Costa e Miguel Pintado. 21 pontos conquistados na fase regular auguravam um novo título para os arsenalistas, mas uma derrota na partida inaugural da fase final diante do Sporting acabaria por deitar por terra as mais altas esperanças dos Guerreiros do Minho, desta vez relegados para a segunda posição.

O leão que se surpreendeu a si mesmo

Finalmente, o Sporting soube tirar as ilações de uma primeira fase de altos e baixos para corrigir alguns aspectos e levar o seu jogo ao nível seguinte nas partidas da final four. Apesar de alguns percalços na caminhada da fase regular, como a vitória sofrida nas grandes penalidades diante de um irreverente Alfarim, o deslize com a Casa do Benfica de Loures e a derrota diante do SC Braga por 5-3 na sequência de alguns erros defensivos, foi um Sporting completamente transfigurado aquele que entrou em campo no primeiro jogo da fase final diante do favorito Braga para abrir uma vantagem de 3-0 e, sobretudo, saber geri-la até ao apito final. O triunfo retumbante por 4-2 abria portas à conquista do ceptro, que se tornou possível graças à seriedade demonstrada diante do GD Chaves e da Casa do Benfica de Loures.

O sucesso dos lisboetas explica-se por um colectivo forte alicerçado num punhado de internacionais, do capitão Rui Coimbra a Belchior, passando por Von, Ricardinho, Pinhal e Petrony, no qual marcam presença jovens emergentes do futebol de praia nacional e ainda o trio espanhol formado pelo guardião Dona, pelo experiente António e pelo goleador Edu Suárez (melhor marcador do leões com 14 tentos em 10 partidas). No final, o título está bem entregue a uma equipa que se superou a si mesma, rectificou erros defensivos e utilizou eficazmente as armas de que dispunha num modelo de jogo pragmático e diversificado.

Após um ano de tantas incertezas, em que a realização do próprio campeonato era uma incógnita, o desfecho não poderia ser mais positivo, tendo o futebol de praia saído a ganhar de um evento que, além de ultrapassar qualquer registo passado de competitividade, constituiu também um verdadeiro espectáculo desportivo em tempos de covid. Haverá mais histórias para contar no próximo ano, juntando-se aos 6 repetentes de 2020 as formações do Varzim SC, um histórico do futebol de praia lusitano que regressa com campeão da divisão nacional após 2 anos de ausência da elite, e também a estreante AD Buarcos, cujo trabalho persistente na modalidade ao longo dos últimos 4 anos vem agora dar frutos de uma forma inequívoca.


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