Retrospectiva da Superfinal da Liga Europeia: Parte I
Desta vez, o troféu permaneceu em solo transalpino, atendendo às quatro vitórias muito sofridas, mas igualmente merecidas de uma selecção italiana de alma renascida, capaz de explorar plenamente o imenso valor do seu plantel e corresponder da melhor maneira ao apoio entusiástico do público nas bancadas. Na segunda posição ficou a grande sensação da época: a Espanha, equipa que contabilizou por vitórias todos os jogos da Liga Europeia até à final.
No jogo decisivo, porém, a magia do MVP Llorenç Gomez foi insuficiente para evitar umas grandes penalidades que se revelariam amargas para o conjunto espanhol. Portugal, por seu turno, pareceu regressar à sua melhor forma em Alghero, ficando porém arredado da final nesta ocasião, ainda que tenha logrado assegurar o 3º lugar do pódio perante a Rússia. Os czares acabaram mesmo por ser a grande desilusão da prova, apesar de a sua disciplina táctica e organização colectiva serem próprias de um colosso europeu e mundial.
Itália vence 13 anos depois
A selecção italiana quebrou um enguiço que já durava há 13 anos: desde 2005 que a Squadra Azzurra não conquistava a Liga Europeia, tratando-se da única conquista continental do futebol de praia italiano até à data. Sendo uma equipa irregular, capaz de grandes prestações nos momentos mais inesperados, mas também das maiores desilusões em grandes torneios, a Itália sempre foi uma equipa que integrou o leque exclusivo das melhores equipas do continente, nunca falhando uma Superfinal e apurando-se para todos os mundiais excepto 2013 (quando Portugal e Suíça também não se qualificaram para o mundial do Taiti).
A irregularidade italiana explicava-se por alguma desorganização defensiva e indefinição táctica, frequentemente colmatadas pela disponibilidade física e primazia técnica dos seus jogadores. Se a era de Maximiliano Esposito trouxera uma Itália mais disciplinada em diversos momentos, onde o talento dos seus executantes vinha ao de cima, o curto reinado de Massimo Agostini (que lhe sucedeu em 2017) pareceu trazer de volta um pouco da anarquia verificada em anos anteriores.
Porém, desta feita, a liderança de Del Duca em 2018 trouxe ao de cima o melhor do futebol de praia italiano, sabendo tirar partido da qualidade fenomenal de um plantel de luxo e traçando um modelo de jogo simples, mas eficaz, que se provou letal quando posto em prática pela vontade e crença transalpinas.
É verdade que a Itália nem sempre manteve os índices de concentração quando deveria tê-lo feito, nem sempre revelou a consistência defensiva porventura recomendável para um campeão europeu e perdeu vantagens importantes durante as partidas contra Ucrânia e Bielorrússia que poderiam ter colocado em causa o seu acesso à final. No entanto, é sempre importante realçar o mérito das outras selecções numa Superfinal que reúne a fina flor do futebol de praia continental e, acima de tudo, a prontidão da resposta italiana, cujos voluntariosos jogadores mostravam sempre possuir uma energia adicional para buscar a vitória mesmo quando o cronómetro se aproximava do final da partida.
As grandes vitórias também se constituem assim: coesão de grupo, espírito de entreajuda e crença até ao último segundo, pelo que o título europeu fica entregue em boas mãos. Sem dúvida devemos realça a forma extraordinária de Gabriele Gori e Dario Ramacciotti, porventura os elementos mais desequilibradores dos Azzurri. No entanto, o equilíbrio do plantel complementado por jogadores com menor andamento internacional, como Chiavaro e Palazzolo, representou igualmente um ponto chave no sucesso desta Itália, onde os golos decisivos provieram de todos os atletas.
Uma equipa que partia do 3:1 clássico, tirando partido do poder de pivôs como Gori e Zurlo, mas também da velocidade e acutilância dos alas, à boa maneira do futebol de praia de outros tempos. Inclusivamente o 2:2 italiano, empregue com frequência mas sem exageros, mostrava-se bem oleado, conferindo maior profundidade e largura de jogo ao ataque italiano, com os passes a saírem com a rapidez e precisão necessárias para o sistema se revelar desequilibrador.
Na final, um jogo muito tenso frente à equipa espanhola seria decidido nas grandes penalidades, onde a defesa final de Del Mestre coroaria uma excelente prestação na prova (tal como a do seu colega de posição Carpita).
Se é certo que, como um todo, nenhuma das equipas se superiorizou à sua congénere e nenhuma das duas merecia perder, não é menos verdadeiro que a Itália se mostrou uma equipa colectivamente mais equilibrada e não tão dependente do talento de um só jogador, caso de Llorenç na Espanha. No fim de contas, a entrega, a solidariedade e a magia do futebol de praia espectáculo levaram os comandados de Del Duca a sagrar-se campeões europeus. Quando assim acontece, a modalidade agradece.