Retrospectiva da Superfinal da Liga Europeia: Parte I

André CoroadoSetembro 14, 20184min0
Terminou no passado fim-de-semana a Superfinal da Liga Europeia de Futebol de Praia 2018 com a realização da Superfinal em Alghero, na ilha italiana da Sardenha, evento que colocou um ponto final na temporada europeia deste ano. Do triunfo dos homens da casa ao 3º lugar da selecção das quinas, o Fair Play aborda alguns dos temas chave do evento que encerrou a época no panorama internacional.

Desta vez, o troféu permaneceu em solo transalpino, atendendo às quatro vitórias muito sofridas, mas igualmente merecidas de uma selecção italiana de alma renascida, capaz de explorar plenamente o imenso valor do seu plantel e corresponder da melhor maneira ao apoio entusiástico do público nas bancadas. Na segunda posição ficou a grande sensação da época: a Espanha, equipa que contabilizou por vitórias todos os jogos da Liga Europeia até à final.

No jogo decisivo, porém, a magia do MVP Llorenç Gomez foi insuficiente para evitar umas grandes penalidades que se revelariam amargas para o conjunto espanhol. Portugal, por seu turno, pareceu regressar à sua melhor forma em Alghero, ficando porém arredado da final nesta ocasião, ainda que tenha logrado assegurar o 3º lugar do pódio perante a Rússia. Os czares acabaram mesmo por ser a grande desilusão da prova, apesar de a sua disciplina táctica e organização colectiva serem próprias de um colosso europeu e mundial.

Itália vence 13 anos depois

A selecção italiana quebrou um enguiço que já durava há 13 anos: desde 2005 que a Squadra Azzurra não conquistava a Liga Europeia, tratando-se da única conquista continental do futebol de praia italiano até à data. Sendo uma equipa irregular, capaz de grandes prestações nos momentos mais inesperados, mas também das maiores desilusões em grandes torneios, a Itália sempre foi uma equipa que integrou o leque exclusivo das melhores equipas do continente, nunca falhando uma Superfinal e apurando-se para todos os mundiais excepto 2013 (quando Portugal e Suíça também não se qualificaram para o mundial do Taiti).

A irregularidade italiana explicava-se por alguma desorganização defensiva e indefinição táctica, frequentemente colmatadas pela disponibilidade física e primazia técnica dos seus jogadores. Se a era de Maximiliano Esposito trouxera uma Itália mais disciplinada em diversos momentos, onde o talento dos seus executantes vinha ao de cima, o curto reinado de Massimo Agostini (que lhe sucedeu em 2017) pareceu trazer de volta um pouco da anarquia verificada em anos anteriores.

Porém, desta feita, a liderança de Del Duca em 2018 trouxe ao de cima o melhor do futebol de praia italiano, sabendo tirar partido da qualidade fenomenal de um plantel de luxo e traçando um modelo de jogo simples, mas eficaz, que se provou letal quando posto em prática pela vontade e crença transalpinas.

É verdade que a Itália nem sempre manteve os índices de concentração quando deveria tê-lo feito, nem sempre revelou a consistência defensiva porventura recomendável para um campeão europeu e perdeu vantagens importantes durante as partidas contra Ucrânia e Bielorrússia que poderiam ter colocado em causa o seu acesso à final. No entanto, é sempre importante realçar o mérito das outras selecções numa Superfinal que reúne a fina flor do futebol de praia continental e, acima de tudo, a prontidão da resposta italiana, cujos voluntariosos jogadores mostravam sempre possuir uma energia adicional para buscar a vitória mesmo quando o cronómetro se aproximava do final da partida.

As grandes vitórias também se constituem assim: coesão de grupo, espírito de entreajuda e crença até ao último segundo, pelo que o título europeu fica entregue em boas mãos. Sem dúvida devemos realça a forma extraordinária de Gabriele Gori e Dario Ramacciotti, porventura os elementos mais desequilibradores dos Azzurri. No entanto, o equilíbrio do plantel complementado por jogadores com menor andamento internacional, como Chiavaro e Palazzolo, representou igualmente um ponto chave no sucesso desta Itália, onde os golos decisivos provieram de todos os atletas.

Uma equipa que partia do 3:1 clássico, tirando partido do poder de pivôs como Gori e Zurlo, mas também da velocidade e acutilância dos alas, à boa maneira do futebol de praia de outros tempos. Inclusivamente o 2:2 italiano, empregue com frequência mas sem exageros, mostrava-se bem oleado, conferindo maior profundidade e largura de jogo ao ataque italiano, com os passes a saírem com a rapidez e precisão necessárias para o sistema se revelar desequilibrador.

Na final, um jogo muito tenso frente à equipa espanhola seria decidido nas grandes penalidades, onde a defesa final de Del Mestre coroaria uma excelente prestação na prova (tal como a do seu colega de posição Carpita).

Se é certo que, como um todo, nenhuma das equipas se superiorizou à sua congénere e nenhuma das duas merecia perder, não é menos verdadeiro que a Itália se mostrou uma equipa colectivamente mais equilibrada e não tão dependente do talento de um só jogador, caso de Llorenç na Espanha. No fim de contas, a entrega, a solidariedade e a magia do futebol de praia espectáculo levaram os comandados de Del Duca a sagrar-se campeões europeus. Quando assim acontece, a modalidade agradece.


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