Fever fatura o título da Comissioner’s Cup
A criação da Comissioner’s Cup na WNBA remonta a 2021, quando a liga se viu na obrigação de ampliar a premiação para as jogadoras enquanto lidava com restrições orçamentárias. Eram os primeiros sinais do boom que aconteceria alguns anos depois, responsáveis pela ampliação da liga, com cinco franquias novas prestes a estrear na liga.
A competição seguiu o modelo em voga nas ligas nacionais europeias, criando um micro-torneio no meio da temporada regular. Nas primeiras edições, o estímulo foi a premiação em dinheiro, alta para as referências da liga, direcionada às jogadoras. Era, ainda, uma forma de valorizar a organização pelas conferências leste e oeste, em queda depois da alteração nas regras de classificação aos playoffs.
FOTO – INDIANA
O campeão inaugural foi o Seattle Storm, em 2021, seguido dos títulos de Las Vegas Aces (2022), New York Liberty (2023) e Minnesota Lynx (2024). A competição cresceu em importância e resgatou a rivalidade entre as conferências, cumprindo com seus objetivos iniciais. Nenhuma equipe conseguiu o bi-campeonato, tendência parecida à temporada completa, onde a exceção do Aces (22 e 23) confirma a regra da alternância extrema de forças na WNBA. Outra curiosidade diz respeito ao cotejo dos resultados da Comissioner’s com o título anual: novamente, o Aces aparece como a exceção, pois em 2022 conquistou os dois troféus. De mais, nenhuma outra franquia conseguiu dobrar sua conquista em um mesmo ano.
A bem da verdade, a Comissioner’s sinaliza sucesso futuro. Favorito ao título em 23, o Aces perdeu a Copa para o NY Liberty, campeão apenas na temporada seguinte. O Lynx faturou a Copa em 2024 e, tal qual o Liberty um ano antes, perdeu na finalíssima da temporada. Se a tendência se mantiver, o Lynx subiu um degrau no rol dos favoritos para 2025, seguindo o roteiro do Liberty.
Minnesota chegou à final da Comissioner’s em 2025, sem dificuldade de liderar a conferência oeste. O time manteve seu quinteto titular e o basquete altruísta, centrado na grande protagonista Napheesa Collier. Comandada por uma das grandes técnicas da história, a exigente Cheryl Reeve, o Lynx entrou na final como franco favorito perante o Indiana Fever, representante do Leste.
O desempenho de Indiana na primeira parte da temporada regular (justamente a fase que conta para classificar à Comissioner’s) não correspondeu às expectativas. As contratações da offseason mostraram-se insuficientes para elevar o patamar da equipe, levando à mudança de direção durante a temporada. DeWanna Bonner foi dispensada, Natasha Howard e Sophie Cunningham demoraram a engatar e mesmo a técnica Stephanie White demorou a imprimir seu estilo a um elenco muito talentoso, porém descompensado entre os dois lados da quadra.
Por um lado, o time voou no ataque em 2024; por outro, fracassou em criar uma defesa minimamente eficiente. White chegou, junto com seus reforços, para mudar esse desequilíbrio; não foi o que vimos no início da temporada. A contusão e o desfalque de Caitlin Clark tampouco colaboraram – de forma que fica difícil explicar como o Fever superou o campeão New York Liberty para chegar à Copa. A bem da verdade, Fever, Liberty e o Atlanta Dream lutaram até a rodada final, restando a vaga devido ao critério desempate.
O Indiana disputaria um título ainda que com campanha zerada (8 vitórias e 8 derrotas). Para piorar, Clark não disputaria a final contra o Lynx, em mais uma ausência devido à contusão. O confronto teria como sede o ginásio do Minnesota. Tudo jogava contra Indiana.
A final ocorreu em 01 de julho, com claro favoritismo à mandante. Um Lynx completo contra um Indiana Fever sem sua grande estrela: o roteiro parecia pré-definido e o 1Q confirmou as previsões. Depois de um começo equilibrado, o Lynx abriu vantagem, impondo sérias dificuldades à pontuação das adversárias. Quando as segundas unidades foram chamadas, a inusitada reviravolta teve largada: enquanto Indiana gradativamente acertava seu ataque, o Lynx se desarranjou. A virada foi lenta, culminando no fim do 2Q, após Minnesota passar os 8 minutos finais antes do intervalo sem pontuar.
Indiana ressentiu-se, no começo, da ausência de Clark, perdendo além da sua própria pontuação, o jogo de dupla com a pivô Aliyah Boston (jogo de dupla que evolui a cada jogo, causando medo no resto da liga devido ao potencial que ambas podem destravar). Boston chamava o jogo para si mas falhava nas finalizações; ela passou a movimentar mais a bola e logo encontrou desafogo em Cunningham (da linha de três) e Natasha Howard (com liberdade para jogar no 1×1). Aos poucos, Indiana cresceu enquanto sua defesa tirava as troca de passe típicas de Minnesota.
Napheesa retornou à quadra para nunca mais encontrar seu melhor ritmo; Kayla McBride não teve nenhuma bola livre e permaneceu fora do jogo durante a partida toda; os bloqueios em Courtney Williams foram muito bem marcados por Indiana, sem trocas e com recuperação rápida da defensora principal. O desarranjo foi tão grande que Reeve experimentou, no jogo do título, uma formação com três ‘altas’ (Collier, Allana Smith e Jessica Shepard). A partir da queda no 2Q, nada mais funcionou.
O Indiana estabeleceu-se devido à forte defesa, reduzindo o Lynx a meros 59 pontos. No segundo tempo, a despeito de alguns espasmos do Lynx, o Indiana manteve-se à frente, ditando o ritmo do jogo. Com pontuação equilibrada, o time de White superou a ausência de sua armadora e dominou o jogo, vencido por 74 x 59. Howard acabou eleita MVP da final (16 pts e 12 reb), com destaque ainda para Aliyah Boston, cadeado na defesa e com alternância de talentos no ataque (ora distribuindo, ora atacando mismatches favoráveis). Mais dominante a cada jogo, Boston evoluiu em estabelecer posição no garrafão, fator decisivo para liberar as demais armas ofensivas do Fever. Ela terminou com 12 pts, 11 reb e 6 ast, mesmo com aproveitamento baixo (5/15, 33%).
Acompanhemos o desenrolar da temporada para Indiana. Por certo o título não recoloca o time entre os favoritos e a campanha segue na parte de baixo da tabela; porém, o título demonstrou o talento disponível nas mãos de Stephanie White. Todas as outras equipes irão fugir de um duelo contra Indiana na primeira rodada dos playoffs. Antes de pensar nesse prazo, entretanto, convem comemorar um troféu que não vinha a mais de 10 anos. Já o Lynx precisa estudar esse jogo, analisar o que não funcionou, sem desesperar – o time segue na liderança da tabela e tem chances de brigar pelo título da temporada.