Euroliga se aproxima da etapa decisiva

Lucas PachecoJaneiro 26, 20257min0

Euroliga se aproxima da etapa decisiva

Lucas PachecoJaneiro 26, 20257min0
Prontos para a fase decisiva da Euroliga feminina? Lucas Pacheco diz-te quem são os super candidatos e o que esperar até ao fim

Aproximamo-nos da fase aguda e decisiva da Euroliga. Após as qualificatórias e as duas fases de grupo subsequentes, estamos na iminência dos duelos eliminatórios, etapa imediatamente anterior ao Final Six. Bem verdade que há uma rodada restante da segunda fase de grupos, a qual servirá para definição das colocações finais e do emparelhamento, a ser disputada na próxima semana. A esta altura, porém, Avenida (Espanha) e Zaniby Brno (Tchéquia) no grupo E e Umana Reyer Veneza (Itália) estão eliminadas.

O Final Six substitui o tradicional Final Four e acarreta mudanças importantes (e um tanto quanto confusas) para o espectador. O cruzamento entre os grupos dar-se-á de modo distinto, assegurando às duas primeiras colocadas de cada grupo vaga direta no Final Six – ainda que disputem vaga direta na semi-final (semi final play-in). A líder do grupo E (Çukurova Mersin) enfrentará a segunda do F (Valencia), enquanto a líder do F (Fenerbahçe) aguarda a definição do outro grupo (Schio e Bourges jogam na última rodada, a vencedora garante a segunda posição e o confronto contra a potência turca).

Formato (Foto: Euroleague)
Formato (Foto: Euroleague)

Já as terceiras e quartas colocadas de cada grupo cruzam entre si (3ª x 4ª), estes confrontos sim valendo as duas últimas duas vagas no Final Six (quarter final play-in). Quem perder, estará eliminada da atual temporada. Nesta parte do chaveamento, nenhum duelo está definido, pois Casademont Zaragoza e USK Praga jogarão na última rodada em busca da terceira posição do grupo F (as tchecas precisam vencer por +6). A última rodada da fase de grupos pode impactar os anseios de título de algumas equipes.

Tanto as semi final play-in quanto as quarter final play-in serão disputadas em duas partidas, a primeira na casa da equipe de pior campanha. Em ida e volta, o saldo de pontos servirá como critério desempate.

Todos dávamos como certa a presença das equipes turcas no Final Six, assim como a do Valencia. Além de atual bi-campeão, o Fenerbahçe segue invicto, contando com a sempre excelente (perene candidata a MVP) Emma Meesseman e uma rotação de pivôs digna de causar inveja em muitos times da WNBA. O elenco ressente-se de mais poder de fogo no perímetro, fator que pode pesar em jogos decisivos, mas segue como grande favorito à vaga direta na semi-final, independente da adversária no play-in.

Mersin e Valencia eram outras apostas garantidas nos prognósticos antes da temporada, devido ao poder de investimento e à consolidação dos projetos no palco continental, que se enfrentam agora em busca da vaga direta na semi. Quem perder, terá um jogo extra no caminho do título. Ambas confirmaram as expectativas, porém com trajetórias diferentes. O Mersin repetiu a fórmula das últimas edições: após contratar um técnico de renome e elenco numeroso e estrangeiro, fez diversas trocas durante a temporada. Victor Lapeña não resistiu aos maus resultados na liga turca e foi rifado na virada para 2025; do elenco que impressionou na rodada final de 2024, várias jogadoras deixaram o clube. Difícil saber qual versão do Mersin veremos daqui em diante – o clube sempre contrata jogadoras renomadas para as fases finais, sem se preocupar com entrosamento ou padrão tático.

A péssima gestão refletiu em quadra nesta semana, quando enfim a equipe sofreu seu primeiro revés, para o Schio. As equipes enfrentaram-se duas vezes no período de um mês: no final de dezembro, o Mersin fez sua melhor exibição (86 x 52), com defesa sufocante e limitando os chutes exteriores das italianas, além de atacar a esforçada-ainda-que-ruim-defensora Kitija Laksa no ataque. Um mês depois da vitória tranquila por 30 pontos, uma derrota em que as mudanças na comissão e no elenco (além de desfalques pontuais) apareceram: na última quarta-feira, Laksa deu o troco e conduziu o Schio à vitória, 83 x 71, com 25 pontos e 77% de aproveitamento.

As italianas, quando impõem seu estilo de jogo de pick-and-roll aliado ao espaçamento das alas e velocidade das pivôs, tornam-se contenders. Ainda não assegurado no Final Six, o time disputa contra o perigoso e bem armado Bourges a vaga. Schio pode até perder por 4 pontos que ainda garantirá a segunda posição do grupo E – partida para ser colocada na agenda. No primeiro duelo, as francesas dominaram por três quartos, ditando o ritmo e restringindo o Schio a turnovers e erros; nos dez minutos finais, porém, após corrigir a defesa e fluir seu dinâmico padrão ofensivo, as italianas viraram e venceram por 67 x 62.

Já o Valencia, em rota contrária ao Mersin, cresce no momento mais agônico da competição. Verdade que as espanholas tiveram poucos sobressaltos, devido à profundidade do elenco, que compensa o ataque preguiçoso e previsível; porém, a chegada da ala alemã Leonie Fiebich muda totalmente o cenário. Estamos falando de uma das melhores europeias atuais (em minha humilde opinião, atrás apenas de Meesseman), uma das melhores defensoras do mundo, com tamanho e força para defender pivôs, além de mobilidade para trafegar por bloqueios; vindo de boa campanha pela seleção, título na WNBA (em papel essencial) e excelente campanha na última Euroliga. Quer mais? Fiebich converte arremessos de três com incrível facilidade, sem demandar a bola para produzir.

Fiebich (Foto: FBS)
Fiebich (Foto: FBS)

Obviamente que uma andorinha não faz verão, mas a chegada de Fiebich parece ter mexido com o técnico Ruben Burgos. Se ele vinha insistindo numa armação de pouco talento ofensivo para focar na defesa, a versatilidade de Fiebich permitiu uma substituição que poderá render bons frutos na reta final da Euroliga. No clássico espanhol da última quarta-feira, enfim Burgos sacou Yvonne Turner do quinteto titular e promoveu Leticia Romero; o time ganhou em poder de finalização (Romero acabou como cestinha, com 19 pontos) sem perder no lado defensivo. Afinal, as alas eram preenchidas pelas versáteis, rápidas e com envergadura Alina Iagupova e Fiebich.

O conjunto carece de entrosamento e tampouco a alemã encontra-se em plena forma física. Ainda assim, da vitória na prorrogação contra Zaragoza, um mês atrás, vimos evolução no triunfo tranquilo, fora de casa, por 64 x 79. O time encorpou e, caso acerte detalhes da rotação, pode surpreender as equipes turcas. Faltava uma peça do perímetro – ela chegou e com vontade de conquistar o inédito título europeu. Quis o destino que Fiebich, em sua segunda partida na competição, encarasse seu antigo time, de onde saiu como ídola e ovacionada.

Zaragoza e Valencia tornou-se um clássico instantâneo e propiciaram dois dos melhores jogos do torneio até aqui. Zaragoza dominou o primeiro tempo, explorando o jogo de dupla entre Mariona Ortiz e Markeisha Gaitling; na volta do intervalo, entretanto, as valencianas fecharam o garrafão. Esgotada essa alternativa, aquela que poderia ser o desafogo (a ala japonesa Stephenie Mawuli, responsável por 25 pontos no primeiro duelo) estava marcada por Fiebich: Mawuli finalizou o jogo com 11 pontos e míseros 27% de aproveitamento.

Resta ao Zaragoza a última partida contra o Praga, valendo a terceira colocação do grupo F. Praga perdeu peça essencial do time, quando a ala Maria Conde se lesionou, e terá pouco tempo para substituir uma formação mais leve por uma mais pesada (Ezi Magbegor entrou em seu lugar). De qualquer maneira, é equipe tradicional na Euroliga, adversária temida por quem cair em sua frente.

A rodada final dos grupos ocorre na próxima terça-feira; os play-ins estão marcados para os dias 19 e 26 de fevereiro.


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