Euroliga 2022/2023: O efeito Breanna Stewart

Lucas PachecoMaio 10, 20236min0

Euroliga 2022/2023: O efeito Breanna Stewart

Lucas PachecoMaio 10, 20236min0
O Fenerbahçe e Breanna Stewart foi fulcral para a conquista do título nesta Euroliga 2022/2023 e Lucas Pacheco analisa o que se passou na final

Pairava uma sina sobre o basquete feminino do Fenerbahçe, que já assumia tons trágicos. Depois dos embargos impostos à Rússia, em função da guerra contra a Ucrânia, o fluxo de investimento nos clubes europeus de basquete feminino migrou para outras praças; Dynamo Kursk e UMMC Ekaterinburg acabaram punidos e excluídos das competições organizadas pela Fiba, como a Euroliga. Para mensurar o impacto da decisão, ambos concentraram os títulos entre 2016 e 21, sendo coroado uma nova campeã somente após a guerra.

As norte-americanas de primeiro escalão, antes contratadas pelas potências russas, procuraram novos clubes e o cenário continental passou por nova equalização das forças. As equipes turcas assumiram a dianteira dos investimentos e atraíram os principais nomes do mercado. Embora o poderio turco não seja novo, o país esbarrava nos times russos, mais consolidados; sem essa barreira, o Fenerbahçe passou à categoria de “bicho papão” da Europa.

 

Na temporada 2021-22, a equipe ainda conseguiu sediar o Final Four, contando com o apoio da fanática torcida. O fantasma da derrota apareceu mais uma vez e, a despeito de todos os prognósticos, o húngaro Sopron levou a melhor na final, conquistando o inédito título. Ao Fenerbahçe, sobraram o vice-campeonato e a decepção; sequer o esquadrão comandado pelo técnico Victor Lapeña foi capaz de igualar o feito do clube arqui-rival Galatasaray.

É quase impossível mencionar um clube sem remeter à rivalidade com o outro; seja no futebol, seja no basquete, ou em qualquer outra modalidade, Fenerbahçe e Galatasaray ocupam pólos opostos. No basquete feminino, acirra a rivalidade o título da Euroliga conquistada pelo Galatasaray em 2014, sobre… o Fenerbahçe. Às “lanternas” turcas, a falta da conquista continental era acrescida pelo fato dos rivais possuírem o troféu em seu currículo. Toda a torcida esperava o título em 2022, que escapou no jogo derradeiro.

Foto: GG Images
Foto: GG Images

O trauma surtiu efeito e o clube decidiu pela troca de técnico – o excelente Lapeña cedeu lugar à incrível sérvia Marina Maljkovic, detentora de triunfos históricos junto à sua seleção natal. A diretoria manteve as principais estrelas do elenco vice-campeão europeu (Satou Sabally, Alina Iagupova e Kayla McBride) e adicionou a armadora Courtney Vandersloot e as pivôs Emma Meesseman e Breanna Stewart, todas disponíveis no mercado após deixarem o russo Ekaterinburg.

O time formado disputaria o título na liga mais forte do mundo (WNBA) e na temporada 2022-23 da Euroliga demonstrou toda sua força. Uma vez reunida – os reforços mais importantes incorporaram-se a partir de janeiro deste ano – a equipe simplesmente não perdeu; sem elas, o Fenerbahçe sofreu no início da competição, acumulando derrotas inesperadas e que causaram dúvida acerca da continuidade de Maljkovic. Para sorte do clube, deram sequência no trabalho.

Vandersloot foi utilizada como a primeira reserva, sem mexer na armação estabelecida; Emma Meesseman fez de tudo em quadra, como usual, defendendo como poucas, utilizando sua inteligência acima da média e produzindo com eficiência absurda. Porém, a grande responsável por romper a sina do Fenerbahçe não poderia ser outra que a estrela mundial Breanna Stewart.

Em basquete, nomes e favoritismo não valem de nada até a bola subir. Se essa afirmação não é incontestável, é por conta de jogadoras como a pivô norte-americana. Onde ela joga, sua equipe vira automaticamente favorita. Na etapa universitária, Breanna Stewart inseriu seu nome na história, ao vencer os 4 títulos da NCAA por ela disputados entre 2013 e 16; o grande nome da universidade de Connecticut passou à WNBA e logo na terceira temporada reconduziu o Seattle Storm ao topo. Quando ela está saudável, é praticamente impossível derrotá-la. Essa fome por vitórias manifestou-se também na Europa, após uma passagem pela China. Sua primeira campanha na Euroliga ocorreu com o uniforme do russo Dynamo Kursk, tendo como desfecho o MVP da competição e o vice-campeonato.

Foto: Getty Images
Foto: Getty Images

Essa final deixou marcas na carreira de Breanna Stewart, menos pela derrota para o potente Ekaterinburg, e mais pela série contusão sofrida na final, que a retirou da quadra por um largo período. Nem a grave contusão diminuiu o interesse dos clubes europeus por seu talento e o Ekaterinburg a contratou já na temporada seguinte, assegurando um casamento ideal que lhes valeu o título de 2021.

Breanna Stewart, hoje, chega cada vez mais perto de lendas da modalidade, como Sue Bird, Diana Taurasi, Lauren Jackson, Brittney Griner e Maya Moore, vencedoras por onde passaram e multicampeãs da Euroliga. Com esse currículo, era de se esperar que sua chegada ao Fenerbahçe subisse ainda mais o favoritismo do time – poderia a pivô superar a sina do Fenerbahçe?

A resposta veio no Final Four da Euroliga, disputado nos dias 14 e 16 de abril na cidade de Praga (Tchéquia). Na semi-final, em um confronto muito parelho contra o italiano Familla Schio, vencido por 77 x 70, Stewart saiu como a cestinha e mais eficiente: 24 pontos, 11 rebotes (duplo-duplo) e 29 de eficiência. Sem mencionar os 2 roubos e 3 tocos distribuídos contra as italianas – a pequena diferença atesta a importância de todas as posses defensivas.

A final, contra as conterrâneas do Mersin Çukurova (outro destino dos investimentos e talentos dispersos após o embargo aos times russos), começou equilibrada, com os times trocando a liderança nos 5 minutos iniciais, quando começou o baile de Breanna Stewart.

A atuação histórica resultou na tranquila vitória por 99 x 60, com Stewart assinalando a maior pontuação da história nas finais da Euroliga: 35 pontos, 6 rebotes e 58% de aproveitamento de quadra! EM UMA FINAL CONTINENTAL! CONTRA UMA SINA DO CLUBE!

Enfim o Fenerbahçe pôde comemorar o tão aguardado troféu, igualando seu arquirrival e conquistando a Europa. Grande parte disso deve-se à pivô norte-americano; seu perfil introspectivo e tímido condiz com seu talento inesgotável e imparável. Breanna é como uma máquina de jogar basquete – e de empilhar conquistas. Podemos acrescentar outro epíteto à jogadora, de destruidora de tabus; nem o destino consegue brecar Breanna Stewart.


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