Dois jogos decisivos na Euroliga 25/26
A mudança no formato da Euroliga, com a cisão da fase de grupos e a criação de uma fase adicional, trouxe dinamismo à competição. Implantada na edição passada, a alteração acelerou a eliminação das equipes menos competitivas, aquelas cujos destinos ficavam evidentes logo nas estreias.
Três dos quatro grupos da atual temporada refletem a disparidade reinante na Europa, um ranking de forças bem consolidado e quase imutável. No grupo A, era previsível a eliminação precoce do polonês VBW Gdynia, time que retornou à principal competição continental de clubes, oriundo de um centro com investimento mediano. Sua menor derrota teve diferença de 15 pontos, refletindo o desnível em relação às demais equipes. Não esperado era o domínio do Spar Girona, outro clube que retornou à Euroliga, porém dono de investimento bom, que manteve o técnico e algumas peças chave do elenco da temporada anterior. As espanholas acumulam 5 vitórias e permanecem invictas, no grupo em que as atuais campeãs foram alocadas.

Tampouco se esperava tamanha queda do ZVVZ USK Praga. Cotado para a liderança do grupo, o time avança à próxima fase de grupos apenas na terceira colocação do A, tendo sofrido uma vexatória derrota (43 x 78) contra seu principal oponente, o francês Tango Bourges, jogando em casa! As dores da reformulação vieram mais fortes; a aposentadoria da lendária técnica Natalia Hejkova surtiu efeito imediato e, embora seu sucessor (Martin Basta) tente manter a estrutura do elenco e da proposta de jogo, o desempenho descendeu bastante. Nunca é fácil substituir uma lenda do esporte. As tchecas têm plenas possibilidades de se restabelecer, principalmente se a pivô estadunidense Brionna Jones retornar a Praga; o tempo, porém, joga contra.
No grupo B, a mesma fórmula, com a eliminação precoce do húngaro Sopron, outra equipe que voltou à Euroliga após alguns anos de ausência, com investimento muito inferior. Sem vitória até aqui, seu destino será a Eurocopa. Tal qual no A, o domínio no B recaiu sobre o Galatasaray; as turcas ainda carecem de um teste de fogo. Em uma disputa eterna contra seus arqui-rivais turcos, o Galatasaray montou um elenco menos profundo, mas cuja trajetória inicial desperta esperanças em sua torcida.
A disputa pela segunda colocação permanece aberta: na última rodada, Beretta Famila Schio recebe o Flammes Carolo, com vantagem de 2 pontos devido à vitória no primeiro duelo (79 x 81). Às francesas, resta vencer por diferença maior de 3 pontos. Embora envolva duas equipes já classificadas, a partida será carregada à fase seguinte. De um lado, um Schio renovado, sob a batuta de Victor Lapeña, com maior profundidade e coesão no elenco; do outro, as francesas apresentam um conjunto de estreantes na Euroliga, mesclando juventude e um sistema ofensivo fluido. Um dos dois jogos imperdíveis da última rodada dos grupos atuais, vale anotar na agenda: 26 de novembro.
A configuração (sorteio) dos grupos favoreceu ainda mais dois dos principais favoritos ao título; o todo poderoso Fenerbahçe e o Valencia caíram no mesmo grupo C, ao lado de duas equipes bem mais fracas. A disparidade refletiu nas campanhas, criando uma divisão interna dentro do grupo – o Fenerbahçe venceu as duas sobre as espanholas e, na luta pela terceira posição, DVTK Huntherm Miskolc e Olympiacos travaram uma boa batalha, com um triunfo para cada lado. As húngaras garantiram a classificação graças ao saldo de pontos.
Todo equilíbrio e competitividade da primeira fase de grupos concentrou-se no grupo D (O retorno da temporada europeia de clubes: Euroliga e Eurocopa). No grupo mais animado da Euroliga, reinou o ‘perde-e-ganha’, com a maior margem de diferença de 14 pts (Cimsa CBK Mersin 83 x 69 Umana Reyer Veneza); apenas 3 (em um universo até aqui de 10) jogos tiveram diferença em dígitos duplos. O francês Landes conseguiu sobrepor-se ao caos, assim como o italiano Veneza: ambos estão classificados e brigam pela primeira posição do grupo. Como levarão os resultados à próxima fase, a partida vale bastante. Landes faz uma campanha acima do esperado, mesmo que repita o padrão tático de temporadas anteriores. A técnica Julia Barennes extrai o melhor de seu sistema defensivo, figurando no topo das estatísticas defensivas da Euroliga; o problema é o balanço com o ataque, onde a equipe se aproxima da rabeira.

A combo guard (joga nas posições 1 e 2) Leila Lacan continua o dínamo defensivo que a catapultou na estreia da WNBA; ela segue com estatísticas ofensivas pobres, com dificuldade para finalizar no estouro do cronômetro e ser a jogadora decisiva que sua técnica espera dela. A outra classificada possui uma proposta diferente, com ênfase ofensiva; Veneza rodeia armadoras boas no jogo de pick and roll (bloqueio direto, na jogadora de posse da bola) com espaçamento e chutadoras. Se Ivana Dojkic não conclui, Joyner Holmes arremessará; em última instância, Stephanie Mavunga briga por posição no poste baixo, restando a ala Kaila Charles para buscar uma infiltração e explorar sua fisicalidade. As muitas opções ofensivas garantiram a classificação de um elenco não mais que mediano.
O grande jogo da última rodada, em 26 de novembro, vale a terceira posição do grupo D e a última vaga na próxima fase. Para surpresa geral, envolve duas equipes bem cotadas antes do início do torneio. Zaragoza voou nas temporadas passadas e a presença constante e barulhenta do público espantaram a Fiba, que fixou a cidade como palco do Final Six; o técnico Carlos Morales e sua extensão na quadra, a armadora Mariona Ortiz, seguem ditando o ritmo. Do outro lado, Mersin lidera no ranking de decepção da Euroliga: a finalista da edição anterior mudou tudo (como sempre), do comando técnico ao elenco, e os resultados despencaram.
O técnico Georgios Dikaioulakos começou a temporada disposto a introduzir as jogadoras turcas do elenco na rotação, projeto encerrado após as duas derrotas iniciais. Seu núcleo de confiança, formado por estrangeiras (europeias e extra-comunitárias), não possui nenhuma grande estrela, além de ser reduzido (rotação curta) e ter sofrido com desfalques. Desempenho abaixo das expectativas.
Longe das condições ideais e do entrosamento do ano passado, Mersin afundou de tal maneira que até mesmo a sorte jogou contra. Na estreia, um jogo duro que culminou em cansaço e pontuação zerada na reta final – derrota para Veneza; na sequência, derrota por 1 ponto para Landes. No segundo duelo contra as francesas, novamente o time cansou e sofreu a virada no segundo tempo. O time chegou à rodada derradeira precisando de uma vitória por 8 pontos, jogando fora de casa, em um dos ginásios mais ocupados da Europa.
Há tempo para a recuperação da pivô alemã Luisa Geiselsoder, desfalque na última derrota e presença essencial em um garrafão carente. Até aqui, a oscilação do Mersin coincidiu com o desempenho da armadora belga Julie Vanloo, outra que não pode descansar quase nada devido a ausência de reposição. Quando Vanloo engrenou seu arremesso longo, o time foi bem; quando ela sofreu para impor seu ritmo, o time foi mal e saiu derrotado.
Kennedy Burke não brilhou como em anos anteriores e as alas Tiffany Hayes e Laura Juskaite tampouco pontuaram conforme as necessidades do time. Agora, é tudo ou nada; uma eliminação nessa altura seria um fracasso retumbante para um clube com investimento e ambição altos.
Mersin e Zaragoza jogarão pela vaga, para afugentar as sombras do fracasso. As espanholas têm uma margem maior, pois podem perder por até 6 pontos. No primeiro jogo entre as equipes, na Turquia, as visitantes viraram nos últimos 10 minutos, com direito a cesta de três no estouro do cronômetro. A cesta fechou o placar em 72 x 79; àquela altura era inimaginável que a conversão de Helena Pueyo fosse tão importante para o futuro. Hoje, esses 3 pontos fazem toda a diferença. Zaragoza sofreu na etapa preliminar da Euroliga e sofre novamente na primeira fase de grupos – Mariona conseguiu o feito na primeira vez e, da segunda, dependerá dela.
Do lado do Mersin, o duelo particular das armadoras pode trazer boas energias: Vanloo e Ortiz enfrentaram-se na final do Eurobasket (continental de seleções), em julho, quando Ortiz errou um passe e deu a vitória e o título para a Bélgica. Façam suas apostas e circulem o dia 26 no calendário.
Após a definição da última rodada, os três classificados do grupo A juntam-se aos três do B e formam um novo grupo. Os resultados anteriores são carregados e cada time enfrentará os times egressos do outro grupo, em casa e fora. Os grupos C e D mesclam-se e seguem a mesma dinâmica.


