Dinastia caipira: o Sesi é campeão da LBF 2025!

Lucas PachecoSetembro 5, 20256min0

Dinastia caipira: o Sesi é campeão da LBF 2025!

Lucas PachecoSetembro 5, 20256min0
O Sesi volta a levantar a LBF e Lucas Pacheco conta-te as principais incidências da série final que opôs as campeãs ao Sampaio

No terceiro ato, o resultado dos anteriores acabou repetindo-se. Assim como nas finais da LBF de 2023 e 2024, bem como nas duas edições da Copa LBF, o Sesi Araraquara sagrou-se campeão da temporada 2025 ao derrotar o Sampaio Basquete. O troféu permanece no interior paulista graças ao inédito tri-campeonato consecutivo.

Com roteiro pré-definido desde a largada da competição em março, a disputa final não poderia deixar de ser entre Sesi e Sampaio, os dois projetos mais consolidados do basquete feminino brasileiro, aqueles com as melhores condições de trabalho às atletas e comissões técnicas (a despeito da distância de parâmetros profissionais mínimos). Juntando os dois elencos, temos a base da seleção brasileira. Ambas sofreram mais que o esperado, mas culminaram com a vaga na final.

Tal qual nas edições anteriores, não foi uma série propriamente bonita e bem jogada. Uma equipe conhece as minúcias de sua adversária, o que explica o equilíbrio visto nos dois primeiros confrontos, ambos em São Luís. Na abertura, no dia 10 de agosto, o Sesi precisou da ajuda valiosíssima do Sampaio para abrir vantagem; a sucessão de erros nos minutos finais é digna dos anais do esporte, a ponto do público se perguntar se alguma equipe desejava de fato a vitória.

O Sampaio tinha a vantagem no placar a menos de 15 segundos do fim, com dois lances livres para ampliar e restar pouco tempo para um difícil chute de longe. Pois a pivô cubana Isabela Jourdain fez a proeza de errar os dois; para piorar, três jogadoras do Sampaio foram para o rebote ofensivo. O Sesi dominou a bola e saiu em um contra-ataque (única alternativa para pontuar em velocidade) – com a bandeija, sozinha, da ala Manu, o Sesi virou: 56 x 57. Resumimos as trapalhadas ao lance decisivo, pois se remontarmos no 4Q inteiro, teremos uma sucessão de equívocos, leituras ruins de jogo e desperdícios bobos. O quarto foi vencido por 6 x 11, placar baixíssimo para uma final. E os erros não se resumiram ao time maranhense; venceu quem errou menos.

As alas paulistas tiveram papel essencial na vitória, pois a pivô Aline viu-se bem marcada e cercada durante os 40 minutos. O desempenho abaixo no garrafão refletiu-se no Sampaio, que não conseguiu ativar a pontuação de Gabi Guimarães. Somadas as estatísticas, a partida teve 18 turnovers a mais que assistências, com aproveitamento de arremessos abaixo dos 40%.

Após tanta emoção e equilíbrio no jogo 1, esperávamos mais qualidade técnica. Pois recebemos uma cópia do jogo anterior, com o diferencial da prorrogação. Quem buscou o empate nas posses finais foi o Sampaio, que acabou gastando seus últimos sopros no tempo regulamentar. O Sesi manteve a atitude e viu uma rara noite de pontuação da armadora Débora (16 pontos) para abocanhar a vitória por 63 x 64. Pelo lado maranhense, Thayná tentou se redimir dos erros infantis no desenrolar do jogo 1 e contribuiu com defesa forte em Vitória e colaboração para fechar o garrafão. Mas faltou uma segunda válvula de escape ofensiva capaz de romper a defesa araraquarense, que mesclou individual com a zona 2-3.

O Sesi voltou para São Paulo com uma mão na taça; com mando de quadra nas duas próximas partidas, tinha a chance de fazer história em seus domínios. Sendo mais preciso, o time viu-se na obrigação de sediar os jogos na capital do estado, onde não disputara nenhuma partida na liga ainda, devido à capacidade do ginásio. Não era campo neutro porque o patrocinador promoveu a partida e, assim, havia mais público do que se fosse jogado em Araraquara. No dia 17 de agosto, Sesi e Sampaio fizeram o melhor jogo da final com ginásio lotado, bateria presente e muito barulho.

Quem enfim deu as cartas e determinou o ritmo do jogo foi o Sampaio, que entrou mais concentrado e intenso. Pela única vez na série, o time de Galego manteve a compostura durante os 40 minutos; abriu vantagem no 1Q e soube controlar o Sesi, abafado após cada tentativa de encostar. O Sampaio evitou turnovers com melhor controle da bola, centralizada na armadora Lays – pela primeira vez na final uma equipe teve mais assistências que desperdícios. Ela e Gabi exploraram o jogo de dupla com bloqueios centralizados, espaçando as demais. Na defesa, além de fechar o garrafão (Aline pontuou em dígitos duplos, porém com aproveitamento baixo), a equipe mesclou zonas diferentes, com Lays postada próxima ao aro, movimentando-se conforme o ataque e dobrando quando o poste baixo era acionado.

Foi um belo jogo, em que Fábio Appolinário viu-se encurralado por Galego. O Sampaio controlou do início ao fim e conseguiu prorrogar a série com a vitória por 62 x 70. O Sesi esteve muito dependente de Vitória, que começou voando e foi diminuindo sua intensidade, ao ponto de ser eliminada por faltas.

O que é adiado não é negado; dois dias depois, em 19 de agosto, o Sesi faria história. Sem repetir a concentração e a intensidade do jogo 3, o Sampaio voltou a oscilar. Gabi saiu zerada em pontos, Lays e Tainá não repuseram os pontos, a defesa desmantelou-se diante do volume do Sesi. Dessa vez, nem mesmo o garrafão foi fechado e, pela primeira vez na final, Aline bailou, com 23 pontos e 14 rebotes.

O resultado de 65 x 57 marcou a única vitória da equipe mandante nessa final, repetindo o título das duas edições anteriores. Mesmo com comando técnico renovado, o Sesi Araraquara repetiu o feito e faturou uma inédita conquista (o tri consecutivo), coroando a estabilidade do projeto. Ao Sampaio, resta a costumeira reformulação – promover as categorias de base e a formação no estado poderiam dar sobrevida ao projeto tão rico e com tanto investimento, opção sempre deixada para segundo plano mediante a ânsia por resultados em curta tempo.

Assim, chega ao fim mais uma edição da LBF. Com poucas novidades, a edição repetiu o número de participantes de 2024, derrapando porém em propiciar condições para a manutenção das equipes. Para 2026, ainda longe do radar, Sesi e Sampaio devem monopolizar novamente os principais nomes do restrito mercado brasileiro; a cada ano, os resultados internacionais escasseiam mais, a base de praticantes da modalidade diminui e o nível técnico no adulto enfraquece. O basquete visto nas finais traduz com clareza essa tendência, que, sem nenhuma ação de calibre e estruturante, seguirá na mesma linha.

Ao Sesi, os parabéns por mais uma merecida conquista; uma das poucas equipes com formação e base, o time do interior paulista  colocou seu nome na história do basquete feminino e tentará repetir o sucesso em 2026.


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