Destaques da LBF 2023: os destaques do 1º turno
O turno da fase de classificação da LBF (Liga de Basquete Feminino) brasileiro chega ao fim neste final de semana. Com 8 equipes na disputa, todas avançam aos playoffs, restando a definição das posições, confrontos e mando de quadra. Não houve surpresas no turno, reiterando as expectativas antes do início do torneio: Sesi Araraquara e Sampaio destacados à frente, seguidos por Santo André; a lanterna é ocupada pelo Ituano, sem nenhuma vitória até o momento.
Vamos a alguns destaques do turno.
Novamente no topo
Sesi Araraquara e Sampaio compartilham a liderança da fase de classificação, do mesmo modo que temporada passada. Sem nenhuma surpresa, ambas passaram sem dificuldades por todos os demais rivais e decidiram a liderança no confronto direto, disputado em São Luís. A equipe paulista reforçou seu papel de algoz das maranhenses e, sem se incomodar com a apaixonada torcida rival, venceu por 55 x 58 – caso se mantenham os favoritismos, a primeira posição será decidida na segunda partida entre ambas, em Araraquara, com o Sampaio precisando vencer por diferença mínima de 4 pontos.
O Sampaio tem todas as condições de atingir esse objetivo, uma vez que receberá reforços oriundos da Europa (Érika, Rapha Monteiro, Meli Gretter, Manu) ao longo do returno. Um verdadeiro esquadrão disponível para o técnico Cristian Santander.
Enquanto seu arqui-rival monta e remonta times a cada temporada, com investimento pesado, o Sesi Araraquara mantem o elenco do Campeonato Paulista, reforçado por peças pontuais que encorpam o exitoso padrão tático do técnico João Camargo. Maila e Bia Aneas na armação; Sossô, Vitória e Let Lopes na ala; Iza, Aline Moura, Jeanne e Tati Castro no pivô: esse conjunto joga junto desde pelo menos outubro de 2022.
O resultado é visto pelos resultados e pela facilidade com que derrota seus adversários. Única equipe a atingir marca centenária, melhor ataque (7 pontos acima do segundo colocado), melhor defesa, com um estilo moderno de basquete, centrado nos arremessos no garrafão ou nas bolas de três. Por ora, ninguém foi capaz de brecar o time.
Final: 44% de três, para 38 arremessos (32 de dois)
Sesi não perde quando faz esses números https://t.co/zd9Qd7yja6
— lucas (@filetlpf) April 15, 2023
A semi-final da temporada passada, quando Campinas executou à perfeição seu plano de jogo e restringiu o poderoso ataque araraquarense, segue viva na lembrança dos torcedores. Porém, o caminho do Sesi rumo à final parece ainda mais certo que ano passado.
Ausência presente
Aos poucos, vemos os frutos do Brasileiro sub-23 e a quantidade de atletas alçadas do campeonato de base à LBF salta aos olhos. Praticamente todos os elencos incorporaram ao menos uma atleta. Se as equipes encontram dificuldade de assegurar condições financeiras de disputar a liga, ao menos suas jogadoras têm encontrado abrigo na liga adulta.
Talvez nenhuma outra equipe se faça tão presente, ainda que sem disputar a LBF, quanto Pindamonhangaba. Quase a totalidade do elenco do Campeonato Paulista disputa a liga, sem distinção entre nomes mais conhecidos no cenário profissional, como a armadora cubana Ineidis Casanova (em Catanduva) e a pivô Thamires (em Blumenau), ou novatas. A ala Lua mantem a intensidade defensiva no 1×1 do Sodiê Mesquita, além de abrir mais a quadra com seus 32% de chutes de três. Stefane encontra dificuldade em se consolidar na rotação de Catanduva, o que não impediu que entrasse como titular em seu último jogo; a pivô Thai não repetiu suas boas atuações, porém segue com oportunidades em Mesquita. Sem contar a armadora Parro, titular em Campinas.
Nenhuma estrela, nenhuma líder em pontuação, mas ótimas peças de elenco, desenvolvidas gradativamente pelo técnico Luiz Bondioli em Pindamonhangaba. A oscilação é normal para atletas estreantes, ou em segunda temporada na liga; elas vem demonstrando, entretanto, a importância de trabalhos de médio prazo com jovens atletas.
Seria um sonho que o time disputasse a LBF e conseguisse aprimorar o conjunto todo. Enquanto não atingimos esse estágio, as jogadoras vão cavando seu espaço no cenário adulto, apesar da concorrência e do comodismo imperantes na maioria dos clubes brasileiros.
Os desafios de Bruna Rodrigues
Blumenau encantou em 2021, quando perdeu na final para o Ituano. Retrospectivamente, era um baita time, muito organizado taticamente, com opções no banco, talentos individuais capazes de desequilibrar e defesa forte. A ótima campanha, porém, gabaritou o técnico João Camargo, logo contratado pelo Sesi Araraquara; em seu lugar, assumiu sua assistente Bruna Rodrigues.
Além da mudança no comando técnico, para 2022 o elenco perdeu a armadora Cacá, reposta por Maria Paula Albiero, e a então reserva Leila Zabani assumiu o protagonismo. A equipe manteve a identidade do ano anterior e as substituições pontuais resultaram em outra boa campanha, interrompida nas quartas por Campinas e pelas contusões. Uma bela estreia da técnica Bruna.
Para 2023, Blumenau sofreu outra importante baixa e Vitória Marcelino partiu de encontro ao ex-técnico em Araraquara. Leila e Mari Camargo, reservas no vice-campeonato de dois anos atrás, assumiram a titularidade, reduzindo a profundidade do elenco; as pivôs foram trocadas e somente Kaw permanece no time. A penúltima posição marca uma piora na campanha, ressentindo-se da alternativa do poste abaixo (jogada cuja incumbência recaía sobre as jogadoras que partiram).
PONTOS | 2021 | 2022 | 2023
convertidos | 71,16 | 71,14 | 65
sofridos |70,47 | 67 | 72,67
Um turno curto, com 7 jogos, é uma amostragem pequena, mas algo está acontecendo, para pior. O time continua insistindo nos tiros longos, sem porém alternar com jogadas de força para as pivôs; o esquema parece mais viciado, com as marcações concentradas nas jogadas individuais de poucas jogadoras. Com menos passe, e menos desafogo no garrafão, a carga aumentou para as alas e até para a armadora Albiero, cuja carreira universitária foi marcada pelos raros arremessos e pontuação pequena.
Vale ficar de olho no desenrolar do returno para Blumenau e monitorar o desempenho da equipe. Parte das causas recai na montagem do elenco, parte na proposta de jogo. Não foi incomum, por exemplo, ver a ala Luana operando no poste baixo, a partir do drible (com resultados terríveis), ou Albiero resolvendo o ataque depois de um corta-luz na bola, também a partir do drible. Escasso o jogo de garrafão, a não ser as infiltrações de Leila.
A incômoda posição na classificação não deixa dúvidas quanto ao sinal de alerta; a equipe blumenauense tem o returno para reverter e diversificar seu jogo. Ajudaria a contratação de uma pivô mais dominante, capaz de defender o aro e impor um jogo de costas pra cesta. Mas há outros ajustes que a promissora técnica precisará fazer.
Cartão de boas vindas de Brenda Bleidão
Quem acompanha esta coluna, sabe o carinho e a curiosidade deste escriba pela ala Brenda Bleidão. Com 19 anos, ela finalmente chegou à LBF e, enquanto a tropa de choque não desembarca em São Luís, Brenda tem chances de mostrar seu basquete. Os números são tímidos e sua minutagem deve despencar no returno.
Nada que ofusque seu talento e sua destemida personalidade.
Tá na mão ? pic.twitter.com/Ua59TSGH8N
— Clauber Oliveira (@vinni_clauber) April 15, 2023