Como é que chegámos aqui?
A época começou fria como o inverno que Portugal atravessava, em total contraste com o brasume dos desertos do Bahrain. Verstappen venceu sem deitar mais do que as gotas de suor necessárias para completar 57 voltas a um dos circuitos mais quentes do ano. Os 22.457s de vantagem foram suficientes para arrefecer o pensamento e forcar-se nas vitórias que iriam seguir. Não surpreendeu ninguém. O nível competitivo que a Red Bull trazia da época passada era uma miragem para qualquer equipa. Tudo parecia encaminhado para mais uma época de domínio.
A simbiose entre o carro mais completo e o piloto mais veloz em todos os momentos dos Grandes Prémios valeu a conquista do título de pilotos e de construtores à Red Bull em 2022 e 2023. Simbiose que nas primeiras voltas de 2024 parecia reforçada, até que, tudo se começou a desmoronar, essencialmente a dois níveis: político e desportivo.
From his first win in Spain 2016, Max Verstappen has grown into a complete legend at just the age of 27 🙌🏻#MaxVerstappen #F1 pic.twitter.com/HkIF13LIYp
— Sportskeeda F1 (@SportskeedaF1) September 30, 2024
O caso que assolou Christian Horner, quando acusado por uma funcionária da Red Bull de assédio sexual, fraturou os austríacos. Parece ter criado um mau ambiente entre os dois homens fortes da Red Bull. Por um lado, o próprio Horner. Por outro, Helmut Marko. Trabalham juntos há vários anos, foram a chave do domínio de Vettel e os impulsionadores da reconquista de Verstappen. No entanto, apesar da turbulência interna, a Red Bull foi capaz de manter a competitividade na 1ª fase da temporada, exclusivamente através de Verstappen. Pérez nunca foi capaz de andar ao ritmo do campeão do mundo, mas isso nunca foi um aspeto que incomoda-se a Red Bull. Porque haveria? O melhor piloto, no melhor carro era o pilar que sustentava o teto prestes a cair. Os grandes prémios continuavam e a Red Bull vencia sem grande contestação. Até ao grande prémio da Catalunha apenas Leclerc, Norris e Sainz estragaram os planos dos austríacos, todas estas vitórias em circunstâncias muito específicas. No entanto, a partir daí tudo mudou e a Red Bull não tornou a vencer.
O colapso desportivo surgiu quase de formas inexplicável. Há possíveis justificações, sendo a principal a saída de Newey, o responsável pelo super monolugar dos campeões em título. A sua saída é uma das causas da perda de rendimento da Red Bull, mas nada justifica tal queda. Não é só uma questão de falta de desenvolvimento, uma vez que a Red Bull está mais lenta do que no início do ano. É um retrocesso, em relação a McLaren, Ferrari e Mercedes.
BREAKING: Adrian Newey to join Aston Martin from 2025! 🚨 pic.twitter.com/qOv32JHXpE
— Sky Sports F1 (@SkySportsF1) September 10, 2024
Como é que aqui chegamos? É difícil de acreditar, quanto mais de perceber. No início da temporada, perspetivava não só em artigos como no podcast Contracurva, que iriamos assistir a uma das temporadas mais aborrecidas da Fórmula 1, mas desde lá a Red Bull perdeu-se em si própria e permitiu, a todos os fãs, tornar a sentir a incerteza de 2021. Nos construtores a McLaren ultrapassou a Red Bull e Norris mantêm a esperança de roubar o título a Max. Será mais difícil que isso aconteça, mas tudo está em aberto. Num ápice a McLaren está bem encaminhada para renascer das cinzas e ser a referência no pelotão.
Não tenho uma resposta para a questão que guiou este artigo, mas sei que até Abu Dhabi ainda muito vai acontecer. Temos que esperar para ver, quem sabe Verstappen e Norris estarão a batalhar pelo título na última volta do campeonato.