Chega ao fim o primeiro turno da fase regular da LBF

Lucas PachecoAbril 30, 20257min0

Chega ao fim o primeiro turno da fase regular da LBF

Lucas PachecoAbril 30, 20257min0
Lucas Pacheco esteve atento a esta primeira volta da LBF 2025 e diz-te tudo o que há para saber do melhor do basquetebol feminino brasileiro

A Liga de Basquete Feminino (LBF) está em modo turbo, mal começou no começo de março e, no final de abril, já finalizou o primeiro turno. Com todo o segundo turno pela frente e devido ao término das ligas européias devemos presenciar muitas mudanças; muitos reforços chegarão e alterarão a configuração de forças, até aqui bem delimitada. Um elenco completo (junto formaria um conjunto candidato a título) estará  disponível para o segundo turno, algumas já contratadas, outras aguardando propostas no mercado (Rapha Monteiro, Clarissa, Bárbara, Nany, Monique, as gêmeas Maiara e Maísa, Thayná, Letícia Josefino, Aline, Ramona). De qualquer maneira, o poderio financeiro determina muito da competitividade e as principais jogadoras devem migrar para as equipes já favoritas.

No primeiro escalão, temos Sampaio, Sesi Araraquara e Corinthians, acumulando mais da metade dos recursos da liga. A concentração das principais jogadoras em poucos clubes cria uma competição interna, da qual o Corinthians saiu derrotado no turno inicial da competição. Sampaio e Sesi (finalistas das duas últimas edições) finalizaram com 9 vitórias e 1 derrota – o time de Araraquara foi derrotado pelo maranhense, e este foi derrotado pelo Corinthians. Porém, a vexatória derrota corinthiana para o Sodiê Mesquita (69 x 53), somada à ampla derrota para o Sesi, fez com que o time terminasse com 8 vitórias e 2 derrotas, na terceira posição.

O time do técnico Bruno Guidorizzi demorou a embalar e suas duas derrotas vieram na metade inicial do turno. Um elenco reformulado, com afastamentos por lesão (Nega Milena e Alana, em momentos diferentes) e um sistema tático diferente tornam as derrotas mais palatáveis do que os resultados aparentam. Guidorizzi promoveu ajustes, como limitar os arremessos de Yasmim e incentivar o protagonismo de Tássia, como mola propulsora ofensiva. A melhor partida do Corinthians veio justamente quando essa fórmula funcionou; jogando no calor e na pressão de São Luís, as paulistas controlaram o Sampaio e fizeram a melhor partida do campeonato até aqui.

Foi um jogaço, com direito a prorrogação. Enfim vimos o ataque corinthiano se movimentar em função de Tássia, saindo de duplos pin downs (ela inicia na zona morta e corre em direção ao centro da quadra, na linha de três, recebendo dois bloqueios indiretos no caminho), chamando corta-luzes e localizando suas companheiras após obrigar dobras da defesa. Não somente ela brilhou (26 pontos), como abriu espaço para os arremessos certeiros da pivô Mari Dias (arremessa a mesma quantidade de dois e três pontos na atual edição); efeito cascata, Licinara teve espaço para trabalhar no garrafão.

O ataque fluiu maravilhosamente, explorando a formação baixa do Sampaio, que obrigou o desigual duelo entre Mari Dias e Cacá. O técnico do Sampaio, David Pelosini, tentou esconder essa fator com uma defesa zona, terrivelmente executada no primeiro tempo; após o intervalo, ele corrigiu e voltou com uma defesa individual, muito mais pressionada na bola. O time virou, podia ter saído vitorioso, mas falhou na prorrogação. O Corinthians venceu por 84 x 87 e demonstrou sua força.

O Sampaio, como sempre, ressentiu-se de mais peças na rotação, principalmente no garrafão. Thayná e Letícia Josefino, bem como a cubana Isabela Jourdain, darão outra cara à equipe; importante também mencionar que a derrota aconteceu imediatamente após a séria lesão de Sassá – um time já carente de pivôs perdeu sua referência na área pintada. Ainda assim, a derrota poderia ter sido evitada (o Corinthians também tinha desfalques importantes, como Alana e Ariadna, além de Yasmim ser eliminada por faltas ainda no tempo regulamentar) com mais atenção na defesa e nos detalhes.

Por falar em defesas falhas, em zonas que permitem todos os chutes de três possíveis, essa infelizmente foi uma marca do primeiro turno. Disseminada pela liga, a defesa zona serve mais como descanso do que para alterar o ritmo do ataque adversário; as marcações individuais tampouco fecham as infiltrações e vimos pouco trabalho coletivo para cobrir a segunda linha defensiva. O pouco e raro esforço visto resulta em vitórias, dado o nível defensivo medíocre da liga.

O Sampaio sentiu a derrota e foi para o outro confronto direto, novamente em casa, contra o Sesi Araraquara, com outra postura. Com um ataque com plena liberdade, para atacar e arremessar na primeiro oportunidade construída, as maranhenses abusaram da defesa em drop (quando a defesa não persegue a jogadora da bola e dá a volta por baixo da bloqueadora) do Sesi, com excelente aproveitamento de três da armadora Lays. Os dois técnicos espelharam o padrão tático e saiu vitoriosa a equipe com melhor aproveitamento; quando o Sesi pressionou mais a bola, abriu espaço para a pivô Gabi infiltrar e finalizar próxima ao aro. A vitória do Sampaio, por 75 x 69, impediu a liderança invicta do arqui-rival.

Além das defesas frouxas, outra constante nesse primeiro turno da LBF foi a prepoderância dos arremessos de três pontos, em grande parte promovida pelas formações, cada vez mais constantes, de small ball. Com rigor, o Sesi disputou o primeiro turno sem nenhuma pivô de ofício, usando um espaçamento das cinco jogadoras; o Sampaio usou da mesma tática, exceção sendo o Corinthians. Mesmo este, com formação mais alta, opta pelos chutes de três pontos: nesses dois jogos aqui comentados, vimos 145 arremessos de dois pontos, contra 135 de três. O volume alto de bolas externas reflete uma tendência mundial, com ataques mais fluidos e velozes. Por mais críticas que possamos ter a esse padrão, ele parece enfim ter chegada à LBF, para ficar.

Fechando as primeiras quatro posições na tabela, que definiram os participantes da Copa LBF, o Unimed Campinas roubou a última vaga de Ourinhos na rodada final do turno. Ourinhos mostrou um basquete bem mais bonito e coeso mas os desfalques (como testemunhamos contusões nesse primeiro turno!) cobraram um preço alto: Kaw ficou afastada algumas rodadas, a armadora Parro lesionou-se seriamente, e um time bom, porém reduzido, viu sua rotação ainda mais restrita. Maísa Marçal faz uma LBF animadora, conduzindo uma equipe cadenciada e bem estruturada, mas ela precisará de ajuda caso o time almeje mando de quadra no playoff.

Unimed Campinas, São José e Ourinhos terminaram empatadas com 6 vitórias e 4 derrotas; o segundo escalão da LBF também vê uma disputa interna bem equilibrada, vide o bom jogo entre São José e Ourinhos. As joseenses, baseadas no pick and roll de sua dupla colombiana com a pivô Ju Souza (outra afastada da temporada por lesão), levaram Ourinhos ao limite, mas não seguraram na hora decisiva. Duas defesas falhas, sem ajustes nos 40 minutos, propiciaram um jogo aberto. Ao final, Maísa Marçal até então zerada converteu os 4 pontos finais que sacramentaram o tirunfo das visitantes: 70 x 74.

No terço final da tabela, Sodiê Mesquita e Cerrado parecem fadados à classificação: as fluminenses graças à intensidade imposta e à agressividade de Maira Caicedo, as candangas em grande parte devido ao elenco cascudo que montou, repleto de jogadoras experientes que compensam a inexistência de defesa. Os concorrentes às últimas vagas oferecem perigo quase nulo: Blumenau e Maringá mais preocupados em atuações dignas do que em vitórias, Santo André com elenco reduzidíssimo, dependendo de novatas.

O segundo turno terá início nos primeiros dias de maio, com um breve intervalo para a disputa da Copa LBF. Apesar de mudanças nos elencos, as forças devem se concentrar nesses três blocos bem definidos.


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