Seleção brasileira para a Copa América de basquetebol: o que esperar?
Saiu a tão aguardada convocação da seleção brasileira para a Copa América de basquete feminino, a ser disputada entre 01 e 09 de julho no México. A competição classifica dois países para o pré-olímpico Mundial e outros quatro para o pré continental; é o segundo passo da trajetória rumo ao sonhado (e necessário) retorno do Brasil às Olimpíadas.
A trajetória da seleção teve largada com a conquista do Sul-Americano no ano passado, quando vencemos a anfitriã Argentina na última posse de bola. A lembrança do torneio está viva na memória de todos e, dadas as precárias condições de preparação e a situação financeira da confederação, a comissão técnica estabeleceu um trabalho de médio prazo. Acredito que esse fator pesa bastante na lista divulgada.
José Neto assumiu uma seleção que despencou no nível mundial e que enfrenta uma queda iniciada há 15 anos. O trabalho começou promissor, com a conquista do Pan-Americano de Lima, em 2019, título responsável por reacender a chama na seleção. Na sequência, porém, as condições estruturais da modalidade voltaram a aparecer e mostraram que a retomada de um lugar cativo nas grandes competições não seria instantâneo. O Brasil perdeu a vaga em Tóquio em um jogo disputadíssimo contra Porto Rico, que amargaria a lanterna da competição, fato repetido na disputa pelo Mundial de 2022, quando fomos eliminados pela Coreia do Sul (lanterna da competição).
No âmbito continental, a seleção consolidou-se entre a terceira e quarta posições: ao mesmo tempo em que ambiciona vencer EUA (com elencos universitários), Canadá e Porto Rico, deve tomar cuidado com Argentina e Colômbia. O Sul-Americano de 2022 representa essa caminhada de forma exemplar: a seleção sagrou-se campeã com extrema dificuldade. Mais que o resultado, o desempenho na quadra deixou um gosto amargo, de interrupção no (lento) crescimento do conjunto.
O contexto da seleção impacta na avaliação da lista. A comissão técnica busca uma identidade coletiva em meio a convocações esparsas, com tempo diminuto de preparação. Atingir um padrão de jogo caminha paralelo a definir uma cultura para a seleção e isso só é possível em doses homeopáticas. A semi-falência da CBB e o calendário esquartejado imposto pela Fiba impedem um trabalho concentrado e intensivo.
A comissão técnica opta, então, por manter um núcleo de jogadoras, já adaptadas à proposta de jogo e aos métodos de trabalho. O que gera, em parte da torcida, desconfiança e pedidos por outras jogadoras, muitas das quais brilham na LBF, liderando quesitos importantes e os rankings estatísticos. As dúvidas cresceram após o desempenho abaixo do esperado no Sul-Americano, mas os planos da comissão (a médio prazo) não se alteraram.
O bom nível apresentado na LBF, liga competitiva e equilibrada, possibilita as cobranças por mais jogadoras, situação impossibilitada pelo curto tempo de treino antes da Copa América. O grupo de 19 convocadas reúne-se no dia 13 de junho e no dia 28 o elenco escolhido embarca para o México. O período de seleções (janela Fiba) é o momento em que as peças se encaixam e as qualidades e problemas da modalidade reverberam com força; a federação francesa, por exemplo, com trabalho excelente e mão-de-obra numerosa e qualificada, pode dar-se ao luxo de deixar Marine Johannes e Gabby Williams de fora do Eurobasket. O Brasil, com apenas oito equipes na liga adulta, com circuito de base quase inexistente e gestão financeira calamitosa na confederação, não dispõe de margem de manobra e faz o que pode para voltar a competir em alto nível no circuito mundial e continental.
Tudo isso para expor minha avaliação de que, mais importante que os nomes em si, é o conjunto coletivo. De fato, a maioria das jogadoras não convocadas e mencionadas como potenciais nomes poderia estar no grupo e competir pela vaga, mas algum nome indiscutível restou de fora?
Em todas as posições, o critério das convocações mais recentes foi mantido: mantem-se um “núcleo-duro”, do qual fazem parte Débora, Tainá, Ramona, Patty, Damiris, Érika e Kamilla. Um grupo de confiança do técnico José Neto, embora alguns nomes sejam discutíveis pelo momento. Alana, Sossô, Leila, Thayná e Sassá se aproximam do status do grupo anterior, enquanto as demais são compostas por jovens de aposta (Albiero e Manu) ou jogadoras convocadas anteriormente. Salvo engano, a única novidade é a ala-pivô Kawanni, do Blumenau.
Pessoalmente, tenho discordâncias quanto a alguns nomes, mas a filosofia de trabalho está clara e apontar jogadoras não convocadas implicaria em citar quem não deveria ter sido chamada. Pela lógica adotada, não vejo grandes distorções e omissões na lista (Stephanie Soares está contundida).
Talvez a exceção que confirma a regra seja a ala-pivô Iza Sangalli, líder do Campinas vice-campeão (de forma surpreendente) da LBF passada e que atravessa grande fase, candidata forte a MVP da temporada atual. Ela esteve no grupo do Pan de Lima, com pequeno espaço na rotação, porém cresceu demais desde então. Sua defesa, inteligência e versatilidade saltam aos olhos na LBF e seria o nome por mim adicionado à lista. Voltamos, porém, às escolhas individuais da comissão técnica e, sob essa ótica, não considero indiscutível a presença de Iza. O jogo internacional pede outros atributos, com rivais mais altas, móveis e polivalentes; Iza joga na posição 4 em Campinas, onde brilha, e na seleção precisaria ser deslocada para a posição 3, onde a falta de chute longo atrapalharia o espaçamento e o percentual baixo nos arremessos de dois destoam.
Nada que não pudesse ser superado com arranjos táticos e tempo de treino, aspectos indisponíveis no momento. Na minha opinião, Rapha Monteiro é a jogadora que não se encaixa no padrão de jogo (o desempenho nos clubes despenca nas competições comandadas por Neto) e indispensável para a seleção – e mesmo ela sofreu com corte nas vésperas do Sul-Americano.
A Copa América traz riscos, aos quais devemos estar alertas, mas seu nível está longe dos principais torneios mundiais. Assim, é torcer pela continuidade do trabalho (até porque não temos outras opções ou caminhos alternativos) e que a equipe recupere o padrão do Pan, quando as peças se encaixaram durante a competição. Para carimbar uma das duas vagas diretas ao pré-olímpico Mundial, teremos que superar equipes mais consolidadas e fortes; mais plausível o bronze e rumar para o pré-olímpico continental.