O Final Four da NCAA 2025

Lucas PachecoAbril 6, 20256min0

O Final Four da NCAA 2025

Lucas PachecoAbril 6, 20256min0
Lucas Pacheco lançou os dados para as meias-finais da NCAA 2025 de basquetebol feminino... preparado para a hora de todas as decisões?

Este texto tem data de validade e se auto-implodirá em três dias. Chegamos, enfim, ao ápice da temporada do basquete universitário estadunidense, com as semi-finais em disputa nesta sexta (04 de abril, data de nascimento do texto) e a grande final no domingo. Dito de outro modo, o texto anda na corda bamba, sem se furtar a previsões e palpites. Afinal, estamos na vigência das Loucuras de Março (March Madness).

Verdade que 2025 não reservou grandes surpresas, fato materializado por 3 das 4 equipes semi-finalistas virem ranqueadas na primeira posição de seus chaveamentos. A exceção Uconn vinha como segunda de sua chave e recebeu um favorecimento inesperado e triste com a lesão de JuJu Watkins; a vaga no Final Four foi obtida em confronto contra uma desfalcada USC.

FOTO – BELLA

A ausência de surpresas e upsets fez com que a coroa de Cinderela da vez ficasse nas mãos da universidade William & Mary. Única do torneio nacional com campanha negativa (mais derrotas que vitórias), sua mera presença – fruto do inusitado título da conferência CAA – e a vitória no play in tornaram a melhor história de superação do mês. Grande parte do feito recai sobre os ombros da ala Bella Nascimento, de dupla nacionalidade (EUA e Brasil); sem suas grandes atuações na reta final, a universidade não chegaria à rodada inicial, quando acabou derrotada por Texas.

Por falar em Texas, fazia 22 anos que a universidade não alcançava o Final Four. Campeã em 1986, a chegada do técnico Vic Schaefer reanimou o programa e não se engane: o time pode conquistar o título. Na semi-final, um confronto da conferência SEC, já disputado três vezes apenas neste ano. No momento, South Carolina leva vantagem, tendo vencido Texas na final da SEC.

Dificilmente teremos muitas novidades, tanto pela rivalidade, por cada equipe conhecer muito bem a adversária, quanto pelos estilos de cada técnico. Schaefer conduziu um time que mal chuta de três pontos, de defesa pressionada e muita fisicalidade. Texas pode converter 45 pontos e ainda sair vencedor, tamanha ênfase no jogo controlado nas mãos da armadora Rori Harmon e da craque Madison Booker. Óbvio que não falta o jogo pesado das pivôs, basicamente o oposto do ‘basquete moderno’. South Carolina não destoa muito, com defesa forte, foco ofensivo no jogo interno e fisicalidade. Dawn Staley, porém, pode recorrer a maior porfundidade do elenco, aos tiros de fora e à imposição atlética.

O resultado passará pelo desempenho de Madison Booker: ela sofreu nos três duelos anteriores, graças à marcação pressionadíssima de Bree Hall. Ante South Carolina, sua média de 46% nos arremessos despencou para 26% (14/54), fator constante nos três jogos. No segundo, a segundanista soube cavar mais lances livres e pontuar em rapidez, sem tempo da defesa montar. O equilíbrio oscilará conforme as estatísticas de Booker, embora haja outros aspectos importantes: Texas foi das poucas equipes que venceu a disputa por rebotes contra SC, por exemplo. No caso de Booker não pontuar, alguém precisará assumir a responsabilidade e Texas não tem tantas opções assim – diferente de South Carolina.

South Carolina é a atual campeã e o time a ser batido. Já no rol das grandes equipes da história, a universidade chegou no ponto que Texas almeja. Nada como um confronto de cartas marcadas para superar a poderosa equipe de Dawn Staley – sem Booker, a tarefa será hercúlea.

Do outro lado, na outra semi-final, duas universidades com estilos e propostas bem diferentes. UCLA estreará no Final Four, enquanto Uconn tem vaga quase garantida. as californianas centram seu jogo na super pivô Lauren Betts, eixo a partir do qual o conjunto roda, enquanto as comandadas por Geno Auriemma praticam um basquete de passes e movimentação, mais fluido. Cori Close tem armas no banco para diferentes quintetos (tanto mais baixos quanto mais altos), sem abrir mão dos tiros de fora, muitos produzidos a partir de dobras defensivas em Betts. Uconn também tem explorado variações táticas no torneio nacional, quando um small ball com Sarah Strong como única pivô tem sido muito eficiente.

Auriemma tem as duas melhores jogadoras das semi-finais, em minha humilde opinião, e isso conta muito. Paige Bueckers e Strong (ainda caloura) podem pontuar aos montes em qualquer momento, produzindo seus próprios arremessos. O técnico mais vencedor da história não abrirá mão de seu esquema em troca por buscar mismatches; porém, devemos ver muitos ataques em dupla envolvendo Betts na defesa. Se ela ficar em drop, recuada, Bueckers vai punir; se ela sair, terá dificuldade em marcar no espaço.

Por outro lado, UCLA possui ótimas defensoras no perímetro, que deverão pressionar nos bloqueios e atacar a bola. Cori Close mescla a defesa individual com zona, utilizando três grandes. Já Uconn não tem uma pivô capaz de brecar Betts, ou seja, Auriemma precisará de ajustes (dobras? zona?). Com menos certeza do que veremos, em relação à outra semi, importante lembrar que UCLA perdeu somente para USC nesta temporada – ninguém a não ser USC conseguiu reduzir o ímpeto de UCLA. Uconn oscilou mais durante o ano e parece estar em pleno crescimento, na hora certa. O time tem o melhor ataque entre as restantes e Bueckers acumula três partidas seguidas acima dos 30 pontos.

Não temos um franco favorito e qualquer universidade pode sair vencedora. Acredito que dependerá muito dos confrontos específicos: das 4, acho Uconn o duelo mais difícil para UCLA. Se passar pela semi, aposto no título de UCLA. Texas é o menos provável, pesando a favor de South Carolina o peso da camisa e a hegemonia recente. Entretanto, minha aposta final é pelo fim da maldição de Uconn – o time engrenou e há muito tempo não víamos tanto domínio. Afinal, Uconn tem o melhor técnico, as duas melhores jogadoras e o melhor ataque.

Os dados estão lançados. Quem quer que vença o torneio nacional, será merecido e coroará uma temporada equilibrada e de muita qualidade.


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