Cada vez mais perto da final: as semifinais da LBF 2025
Tudo se encaminha para o desfecho esperado na LBF 2025; a cada etapa vencida, Sesi Araraquara e Sampaio confirmam o amplo favoritismo e dão mais um passo rumo à final da Liga de Basquete Feminino (LBF). Qualquer outro emparelhamento que não repita as duas últimas edições será surpreendente. Ambas as equipes confirmaram a passagem às semi-finais sem grandes dificuldades nas quartas: o Sampaio não precisou do seu melhor basquete para vencer o Cerrado por 2 x 0 (65 x 87 em Brasília e 71 x 58 em São Luís).
Previa-se mais equilíbrio, posto que o Cerrado foi uma das duas únicas equipes a derrotar as maranhenses na fase regular. A chegada incessante de novas jogadoras a cada rodada mostrou-se um tiro no pé, sem que o técnico Alan Monteiro tenha conseguido criar um padrão consistente. A vitória sobre o Sampaio aconteceu na base do volume de arremessos de três pontos; paradoxalmente, o Cerrado reduziu quase 10 chutes de três por confronto (18 tentativas no jogo 1, 17 no 2) em relação à sua média no campeonato (26,5). Com sua única pivô dominante bem marcada (a estadunidense Dayna Rouse), o time foi presa fácil ao Sampaio.
Tampouco a atual bi-campeã encontrou resistência frente à Sodiê Mesquita e liquidou o duelo com 2 x 0 (54 x 77 no Rio de Janeiro, 67 x 53 em São Paulo). Na série mais desequilibrada das quartas, ajudou a ausência de Brenda Barros e do técnico Raphael Zaremba na segunda partida, em viagem representando a seleção brasileira universitária. A Sodiê despede-se de cabeça erguida, tendo superado as expectativas do início da temporada após as saídas das principais referências técnicas. O Sesi ainda carece da intensidade necessária ao tri, mas fez o suficiente para avançar à semi-final.
Em oposição, as outras duas séries reservaram resultados inesperados, com as equipes piores classificadas (e sem mando de quadra) vencendo suas adversárias. O Unimed Campinas pôs em quadra o peso de sua tradição na liga, além de um basquete simples e eficiente. Longe do patamar de investimento do Corinthians, rival nas quartas, Campinas apresentou-se com muito mais compostura; sua estrutura tática bem definida aniquilou a desorganização do Corinthians.
Na partida 1, em Campinas, a equipe venceu todos os quartos, dominando do início ao fim. O placar de 73 x 57 não traduz a superioridade vista, sem que o Corinthians tenha encontrado antídoto em nenhum momento do jogo. A armadora argentina Meli Gretter doutrinou no primeiro tempo e acionou suas conpanheiras na segunda etapa, quando a marcação apertou sobre ela. Para o segundo jogo, os técnicos trouxeram novidades: Bernardo diminuiu a estatura do time, trocando a pivô Aline pela ala Lua no quinteto titular; já Bruno Guidorizzi sacou Tássia (em prol da especialista em defesa Yasmim) e Licinara (inserindo a cubana Nahomis Vargas).
Apesar das mudanças nas formações, o domínio campinense estendeu-se por mais 40 minutos. Foi um verdadeiro massacre, com o Campinas ditando o ritmo e um Corinthians irreconhecível – chutando pouco de três, estagnado no ataque, sem transição defensiva alguma e disperso. Guidorizzi não encontrou reação alguma e o resultado final (52 x 68) evidenciou o baile tático de Bernardo. Contra todas as expectativas, o bravo Campinas mais uma vez chegou à semi-final da LBF.
A série entre Ourinhos (quarto na fase regular) e São José (quinto) foi disparada a melhor das quartas-de-final. Em São José, no jogo 1, um encontrão no início do 3Q tirou a armadora Maísa Marçal do resto da partida; se até ali, reinava o equilíbrio, a partir de então São José abriu e não viu mais Ourinhos no retrovisor. Em uma derrota por 13 pontos (80 x 67), Maísa teve zero no plus minus – todas suas companheiras tiveram saldo negativo. Não foi, porém, o único fator determinante: a defesa ourinhense de perímetro sofreu com a dupla colombiana de São José (Manu Rios com 33 pts e 71% de aproveitamento, Jenifer Muñoz com 22 pts e 52%). Adotando seu estilo sem preocupação defensiva e muito volume ofensivo, São José saiu vitorioso, empurrando Ourinhos contra a parede.
Em casa, a volta de Maísa Marçal ajudou Ourinhos na pressão da bola e na defesa de pick-and-roll. A equipe forçou o dobro de desperdícios de São José e reduziu o volume ofensivo de Manu Rios (apenas 9 tentativas); o efeito cascata funcionou e sem sua principal fagulha, o aproveitamento de suas companheiras despencou (Muñoz, por exemplo, converteu 2 arremessos em 13 tentativas). A vitória ourinhense por 67 x 51 forçou o jogo desempate.
Novamente em Ourinhos, as mandantes não tiveram êxito em repetir a receita da partida anterior. Com muitos desperdícios, tampouco conseguiram brecar o volume ofensivo das colombianas; para piorar, as coadjuvantes também tiveram bons aproveitamentos por São José. O mais incrível é que, com tudo isso, Ourinhos teve a faca e o queijo na mão para vencer; faltando 2 minutos, o time liderava por 5 pontos. Ao encerrar o tempo regulamentar, entretanto, São José empatara e forçara 5 minutos adicionais, quando teve sangue frio para sacramentar a vitória (71 x 74) e avançar para a semi, resultado impensável em março.
Manu Rios beirou o triplo duplo (21 pts, 10 reb e 7 ast) e ganhou status de estrela em São José. Méritos ao time que soube se reconstruir durante a temporada, sem perder suas principais armas ofensivas; o técnico Leandro Leal soube montar um time competitivo, mesmo sem nenhuma preocupação defensiva. A Ourinhos, resta a celebração pelo retorno de um time tradicional e de uma cidade apaixonada pela modalidade.
As semifinais
Campinas e São José remaram contra os prognósticos nas quartas; agora, o nível de dificuldade para atingir a final sobe degraus consideráveis. Sesi Araraquara e Sampaio entram com favoritismo em suas séries. O Sampaio possui material individual para atacar as múltiplas carências defensivas de São José, com arsenal ofensivo coletivo e bem compartilhado. Na fase regular, duas vitórias tranquilas que diminuem as esperanças das joseenses. Tudo pode mudar se Manu Rios pegar fogo, tarefa hercúlea, dadas as opções defensivas a disposição de Rodrigo Galego. A série inicia-se em São José, no dia 26, e depois migra para o Maranhão, no dia 31 (e, no caso de um improvável jogo 3, no dia 02 de agosto).
Mais aberta, o duelo paulista entre Unimed Campinas e Sesi Araraquara teve vitórias caseiras na fase de classificação. Na estreia das equipes na competição, o Sesi ganhou (75 x 50); no segundo turno, o troco campinense (78 x 68) ocorreu na ressaca de Araraquara pós título da Copa LBF. Se o fator mando de quadra pesar, vantagem para o Sesi, que sedia os jogos 2 e 3 (em caso de necessidade), nos dias 03 e 05 de agosto. A série começa em Campinas no dia 27.
Bernardo mostrou evolução na reta final da liga, ao contrário de Fabio Appolinário, que não conseguiu reproduzir o início avassalador. O ímpeto e a intensidade precisarão voltar para as pretensões de Araraquara. Clássicos costumam primar pelo equilíbrio e o Campinas tem utilizado rotação mais ampla e diversa que o Sesi. Não custa lembrar que uma das raras surpresas na LBF dos últimos anos ocorreu justamente quando o Campinas eliminou o Sesi em 2022.