A temporada 2025 da WNBA avança ao playoff

Lucas PachecoSetembro 21, 20259min0

A temporada 2025 da WNBA avança ao playoff

Lucas PachecoSetembro 21, 20259min0
Lucas Pacheco já está mergulhado nos playoff mas ainda teve tempo de criar alguns prémios e destaques da fase regular da WNBA

Embora os donos afirmem o contrário, com intuito de abocanhar a maior parte do lucro, sob qualquer perspectiva que se olhe a WNBA cresce. A ampliação do calendário da temporada regular saltou de 36 partidas por equipe em 2022 para 44 em 2025, salto nada desprezível. Na edição atual, cuja temporada regular encerrou-se na última semana, tivemos a estreia de uma nova franquia (Golden State Valkyries); no próximo ano, mais duas, ampliando a liga para 15 equipes.

Infelizmente, a ampliação da temporada regular não foi acompanhada de maior duração da competição; mais jogos no mesmo tempo e, consequentemente, sem intervalo para as equipes classificadas aos playoffs, que já se iniciou três dias depois. No domingo, começaram os playoffs da temporada 2025 da WNBA, cuja primeira rodada é disputada em três jogos alternados (jogos 1 e 3, se necessário, na casa do time melhor classificado).

Falemos um pouco da temporada regular: chegamos à época das premiações e da previsão dos confrontos vindouros. Outro efeito do crescimento da liga é a quantidade de bons artigos e textos disponíveis, ainda que poucos em língua portuguesa – a proliferação de visões permite maior variação, abordagem escolhida para este texto. Um resumo menos ortodoxo da temporada regular, além de doses homeopáticas de palpites pessoais nos prognósticos dos playoffs.

MVP + MIP

A escolha oficial da MVP de 2025 não deve fugir da tríade que concentra a votação desde a temporada passada: A’ja Wilson, Napheesa Collier e Alyssa Thomas estão um nível acima das demais. A primeira, já três vezes MVP, foi a principal responsável pela reviravolta do Las Vegas Aces, cuja primeira parte da temporada foi catastrófica e, após uma sequência histórica, findou na segunda posição geral. Napheesa subiu ainda mais seu desempenho e foi a melhor jogadora da melhor equipe. Alyssa Thomas trocou de time mas seguiu dominando e controlando o jogo, com recordes de triplos-duplos.

Qualquer voto dentre as três é justificável. Mas, se mudarmos um pouco o foco, a fim de diversificar a análise, e juntarmos duas categorias individuais, a luz recairá sobre a ala Allisha Gray. Talvez a quarta a melhor jogadora da temporada, o que deve garantir sua presença no quinteto ideal da temporada, ela não era cotada para tais premiações, nem para MVP nem para MIP, devido a  possuir um status consolidado de titular em qualquer franquia e peça importante para qualquer time com ambições.

Gray conseguiu subir de patamar em 2025 e carregou sua equipe junto. Obviamente que ela recebeu companhias importantíssimas, como o reforço da dupla de pivôs Brittney Griner e Brionna Jones, mas a reformulação do elenco e a contratação do técnico Karl Smesko trazia consigo dúvidas antes da temporada. O Atlanta Dream tratou de esfumaçar todas as reticências, com um basquete bem mais fluido que a versão anterior; da luta pelas últimas vagas no playoff de 2024, a equipe disputou a segunda posição em 2025.

Isso seria impossível sem o protagonismo de Allisha Gray, cestinha do Dream e figura constante em uma campanha repleta de desfalques (Jordin Canada e Rhyne Howard, suas companheiras de perímetro, perderam boas sequências devido a contusões). Ela foi o esteio da segunda melhor defesa e segundo melhor ataque da liga, resultado que garantiu o mando de quadra e o favoritismo na primeira rodada dos playoffs contra o quebrado Indiana Fever.

Fazia tempo que Atlanta não sonhava alto e a torcida deve isso em grande parte a Allisha Gray.

COY

A liga recebeu um afluxo de novos técnicos em 2025, safra que se demonstrou excelente. As já lendárias Cheryl Reeve e Becky Hammon seguem na disputa pelo prêmio, uma pela manutenção e melhora de um verdadeiro esquadrão em Minnesota, a outra pelas mudanças durante a temporada que reverteram as (até então) baixas expectativas do Aces. Sandy Brondello sofreu em estabilizar o New York Liberty, assim como Stephanie White com o Indiana Fever.

O espanto, porém, veio da excelência dos estreantes. Smesko elevou um time antes mediano ao topo da liga, conseguindo adaptar seu estilo fogoso de jogo à realidade e às características de seu elenco. Ele deve receber votos e concorrer ao prêmio oficial, com justeza absoluta.

Outra estreante que superou os prognósticos foi a técnica da “franquia de expansão”, Natalie Nakase. Antes assistente de Hammon em Las Vegas, Nakase participou ativamente da montagem do elenco de Golden State, elenco esse formado por jogadoras disponibilizadas por seu times anteriores; inclua um trabalho excelente de prospecção (scouting) na Europa, contratações pontuais de boas peças na free agency e teríamos um elenco bom, cotado inicialmente para fugir da lanterna.

Pois Nakase conseguiu, pela primeira vez na história da WNBA, conduzir um time estreante aos playoffs. O time sofreu com muitas ausências (seja pela participação no Eurobasket, seja por múltiplas contusões) e se viu obrigado a reposições emergenciais, para ter uma quantidade mínima de corpos disponíveis – situações superadas pela determinação do elenco disponível, pela simplicidade do ataque e pela ênfase na defesa. Nakase mostrou suas credenciais logo no início da temporada e, a cada rodada, reafirmou  seu status de excelente treinadora.

Fosse contra qualquer adversária, fosse com elenco remodelado pelas contratações pontuais, o Valkyries sempre entregou bom basquete (além de uma torcida apaixonada, barulhenta e que liderou a liga em público). Mesmo com uma eminente derrota diante do favoritaço Minnesota Lynx no playoff, Nakase deve figurar entre os favoritos na premiação, cuja votação deve ser das mais acirradas.

Por falar em primeira rodada do playoff, o mais equilibrado dos duelos testará outro técnico de excelente trabalho na  temporada regular. Phoenix Mercury (4º) x New York Liberty (decepcionante 5º) terão uma luta de peso, na série mais esperada da rodada. Brondello sofreu com desfalques e coesão e não sabemos como o elenco chega; em Phoenix, ao contrário, Nate Tibbetts superou todos os prognósticos, comandando um Mercury reformulado e montado de forma bem heterodoxa.

Centrado em três super-estrelas (Alyssa Thomas, Kahleah Copper e Satou Sabally), com pouco dinheiro restante para rodear o trio, o Mercury apostou em prospecção e defesa pressionada. O time, tal qual Golden State, sofreu com contusões e sempre desempenhou com intensidade, um time perigoso e voraz, que chegou a bater recordes de conversão de bolas de três – com um elenco basicamente de calouras!

Vejamos o teste do playoff, contra as atuais campeãs. De qualquer maneira, o segundo anista Tibbetts provou seu valor.

Drama

The cathegory is… drama and the winner is the Chicago Sky! Outra equipe que tomou rumos novos depois de 2024, porém com o mesmo resultado: eliminado dos playoffs e novamente na loteria do draft. A bem da verdade, a franquia regrediu ao passar de uma técnica com liderança junto às jogadoras para uma desorganização interna visível para todos. Teresa Weatherspoon pode ter implantado um basquete centrado no poste baixo, sem fluidez ofensiva, orientação alterada pela chegada de outro ex-assistente de Becky Hammon, Tyler Marsh, com proposta tática mais “moderna”. Na passagem de bastão, porém, a cultura da franquia se escangalhou.

Os problemas não se resumem à quadra, muito pelo contrário. No final de mais uma temporada repleta de derrotas, a estrela do time Angel Reese (novamente líder em rebotes da WNBA) veio a público e, sem papas na língua, endereçou sua contrariedade aos rumos da franquia, expondo companheiras do elenco, a comissão técnica e a direção (especialmente o GM Jeff Pagliocca). Sua continuidade, antes tida como certa, afinal ela era uma pedras basilares do futuro do Sky, passou a ser questionada e já surgem rumores de pedido de troca.

O desarranjo é tão profundo que, na categoria drama, o Chicago Sky superou o Seattle Storm, outra franquia que escorrega em se reformular, mas que ao menos mantem seus problemas internamente. Reese tem razão em diversos temas de sua polêmica entrevista; expor tais discordâncias, entretanto, não fez bem algum ao Sky, que iniciará outra offseason a partir do zero.

A classe de calouras

Em 2024, Caitlin Clark subiu o patamar do desempenho de uma caloura; eleita para o quinteto ideal da WNBA dem sua primeira temporada foi um feito e tanto. A classe seguinte, de 2025, igualou o feito individual de Clark e superou a turma de 2024 com requintes. A iniciar pela provável ‘caloura do ano’: a armadora Paige Bueckers chegou com todas as credenciais, vindo do título universitário por Uconn, e fez uma temporada de manual. Ela não deve chegar ao quinteto ideal graças ao contexto terrível em que chegou (um Dallas Wings que tentou de tudo para cercar Paige de qualidade e perspectiva de futuro), mas sua atuação individual poderia facilmente render alguns votos de MVP.

Sim, Paige é desse tamanho – Diana Taurasi vaticinou, antes da temporada, que ela seria MVP em algum momento da carreira. Bueckers defende bem, possui inteligência (bem) acima da média, visão de quadra e liderança, além de um ritmo impressionante; sua jogada característica, o arremesso de média distância, já virou mortal. O futuro brilha em Dallas.

Para além do extraordinário, a classe de calouras como um todo brilhou. Em Phoenix, todas tiveram suas sequências positivas; em São Francisco, quem vestiu a camisa correspondeu; em Connecticut, jogadoras de perfil defensivo capazes de impedir a entrada no garrafão. Sonia Citron e Kiki Iriafen foram a alma de um valente Washington Mystics. Para onde se olhe, acharemos calouras que terão longa carreira na WNBA e possíveis all stars.

A ampliação da WNBA não sofrerá em achar novos talentos, alguns já presentes em 2025.


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