A largada da LBF 2024

Lucas PachecoMarço 7, 20246min0

A largada da LBF 2024

Lucas PachecoMarço 7, 20246min0
Já arrancou a LBF 2024 e trazemos-te as principais novidades da primeira jornada da competição

Um misto de emoções marcou a largada da temporada da LBF 2024 (Liga de Basquete Feminino). Se o duelo dentro de quadra deixou a desejar, o espetáculo no ginásio ficará na lembrança dos presentes por um bom tempo. Dono da segunda maior torcida do país do futebol, o retorno do basquete feminino no clube teve repercussão imediata. As resenhas sobre aumento da popularidade das ligas nacionais sempre passam pela incorporação de times de futebol populares; o Corinthians demonstrou a veracidade da hipótese.

Logo em sua estreia, após décadas de inatividade da modalidade, a torcida compareceu e empurrou o time durante os 40 minutos. Assim como o Sampaio, time mais popular no estado do Maranhão, habituado a ginásios lotados e torcida apaixonada, o Corinthians teve um público de 730 pessoas no ginásio, número talvez baixo para modalidades mais estruturadas, mas a se comemorar na LBF.

Era não somente o retorno da modalidade do clube, a chance de presenciar o basquete feminino no ginásio Wlamir Marques; a partida significava ainda a primeira participação de um clube da cidade de São Paulo (maior cidade e mais rica do país) na principal liga do país.

Apenas a estreia da temporada, com sinais animadores para um projeto que buscará não somente um bom desempenho e colocação, como a permanência do projeto a médio prazo. Os indícios apontam no rumo certo, com uma parceria com outro clube da capital (Esperia) para disputa do estadual em duas categorias de base.

A formação titular do Corinthians surpreendeu pela escalação da armadora Micaela, de apenas 15 anos. Oriunda do mesmo projeto do técnico Cristiano Cedra, a promessa estreou com atuação tímida, com minutos substanciais (13 min de quadra); suas companheiras de geração (Sther Ubaka, Raíssa e Sofia) também entraram em quadra e sentiram o gostinho (e as dificuldades) de jogar na categoria adulta. Para contrabalançar a inexperiência, Cedra optou em mesclar com uma trinca de renome: Gil e Ariadna, acima dos 40 anos, e Tati Pacheco formaram a espinha dorsal, dosadas com pitadas de juventude. Mari Dias (26 anos) completou o quinteto inicial.

Animador, tanto quanto a presença do gigantesco clube da capital, foi o retorno do São José à LBF. O clube não é estreante, mas há alguns anos deixara a liga adulta, para focar no trabalho de formação. Gradativamete, o projeto encorpou e a chegada de novos patrocinadores à liga possibilitou a participação da equipe do interior do estado. Campeão de quase todos os torneios da base em 2023, São José renovou com praticamente todo seu elenco, com adições pontuais de experiência. Nessa leva, chegaram a ala Nany (27 anos) e a ala Carol Ribeiro (29 anos), ambas em busca da recuperação física e do ritmo de jogo.

Toda a formação titular de São José na faixa dos 20 anos, com um elenco mais entrosado e padrão tático definido. Esse fator pesou durante o jogo; apesar de mudanças pontuais em relação ao time que disputou o Paulista de 2023, as jogadoras conheciam a proposta de jogo do técnico Leandro Leal. Pode parecer pouco para centros mais estruturados de basquete feminino; para a liga brasileira, a presença de tantas jovens e times novos aqueceu o coração.

Inevitável que tantas novidades refletissem na partida, cujo placar baixo pesou a favor do entrosado time de São José; fora de casa, a equipe venceu por 56 x 49 e largou com vitória em seu retorno à LBF. Foi um jogo de muita oscilação e alternância de domínio, materializados pelos 49 erros (24 do Corinthians e 25 para São José), quase o dobro de assistências (26 no total, sendo 14 para as anfitriãs e 12 para as visitantes).

Tampouco o aproveitamento de quadra compensou o incrível número de turnovers, uma vez que o Corinthians acertou 29% enquanto Saõ José, 36%. Ganhou quem errou menos, em vantagem construída no 3Q, quando o Corinthians experimentou uma defesa zona 2-3. Foi por um tempo mínimo, suficiente porém para ceder 3 arremessos de três pontos seguidos ao São José e para recolocar Nany no jogo, apagada até então. Novamente, frisamos a importância do entrosamento: os arremessos foram bem construídos e o Corinthians, atrás por 10 pontos, não conseguiu se aproximar no quarto final.

São José cumpriu com as expectativas de um time jovem de idade, com seu n´culeo principal recebendo as primeiras chances reais na LBF. A armadora Tita, de 23 anos, já participou de 2 edições, sem chances reais de mostrar seu talento, oportunidade enfim à sua frente. Ela aproveitou, com 12 pts, 4 reb e 6 ast; mais que os números, e alguns erros infantis, que devem ser eliminados no decorrer da competição, ela explorou o jogo de pick and roll e infiltração, criando muitos arremessos para si e achando as companheiras livres no desequilíbrio defensivo. Sua habilidade no jogo de dupla foi o motor do time e pode ser a base para o sucesso da equipe; acompanhada das boas arremessadoras Nany e Carol, além da promissora Giih Souza, a tática pode render ótimo resultado.

Também as pivôs se aproveitaram da gravidade de Tita; Ju Souza, em dose parcimoniosa, foi eficiente e fez prevalecer seu atleticismo sobre as (lentas) pivôs adversárias. Laurah Isaias, quase sem minutagem na LBF passada por Santo André, converteu os tiros de média distância e coletou rebotes de forma eficiente, saindo como a mais eficiente do confronto.

Uma receita que, azeitada e mais treinada, pode surpreender na LBF. À essa base, as suplentes Parro (revelação em 2023) e Nathalia Lima estiveram abaixo; se elas acharem seu espaço, São José irá brigar por vaga nos playoffs. A médio prazo, conforme a cometição avança e as jovens ganham experiência, Giih pode suplantar Carol entre as titulares. Esperemos; a competição apenas iniciou-se.

Pelo Corinthians, a derrota em casa na estreia deve servir de estímulo a um elenco formado às pressas, com o mercado já em etapa avançada, e com muitas jogadoras em idade avançada. O time até construiu boas movimentações, mas pecou na escolha de arremessos, muito centrados em Ariadna e Tati Pacheco, ambas em noite tenebrosa. Por diversas vezes, Julia Schmauch, Thalita e Micaela assaram a bola em boas situações de chute, desequilíbrio que deve estar na prioridade de Cristiano Cedra para os próximos confrontos.

É um time em formação, que precisará de tempo para se ajustar à LBF. Clarissa foi o grande destaque, com duplo-duplo de 14 pts e 12 reb; difícil, entretanto, imaginar que ela possa incrementar os 28 min da estreia, já que retorna de um longo tempo de inatividade. Reforços serão adicionados, na posição mais carente (e jovem) do time; Taina Paixão e Ta’Sharra Jeffries devem herdar parte dos minutos e arremessos de Tati e Ariadna, ampliando a rotação e as variações.

Com um longo caminho pela frente, a presença do público e a estreia de promessas do basquete nacional na liga deixaram uma sensação de otimismo ao Corinthians.


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