Andebol: campeões femininos da Primeira Divisão à Liga Universitária
Artigo de Ana Carvalho sobre as competições nacionais e universitários de andebol feminino.
Com os campeonatos a chegar ao fim, muitas foram as decisões nas últimas semanas no que diz respeito ao andebol feminino, e contamos como terminaram cada uma das grandes finais!
29 ANOS DEPOIS, O BENFICA VOLTA PARA SER CAMPEÃO
29 anos depois, o Sport Lisboa Benfica sagrou-se novamente Campeão nacional feminino, com 25 vitórias e apenas um empate, juntando a esta conquista também a Taça de Portugal, conquistada este fim de semana em Santo Tirso. Esta competição terminou com uma final a quatro, onde sábado se jogaram as meias-finais que opuseram SL Benfica contra Alavarium-Love Tiles e Colégio de Gaia/COLGAIA,CDE contra Clube Andebol de Leça (Cale). Dois jogos equilibrados que levaram o SL Benfica à final, depois de vencer o Alavarium-Love Tiles 28-26, e o Colégio de Gaia/COLGAIA,CDE, que venceu 28-23 a formação do Cale.
Na final o SL Benfica foi claramente mais forte, especialmente a nível físico, e nem a enorme experiência das jogadoras ou equipa técnica do Colégio de Gaia/COLGAIA CDE, que contam já com 8 presenças na final da Taça de Portugal, tendo conquistado a prova por 4 vezes, conseguiram contrariar o favoritismo do poderoso SL Benfica. O resultado final foi 38-31, representativo de um jogo bastante acelerado onde os ataques tiveram total supremacia em relação às defesas.
Após um interregno de quase 30 anos na modalidade, o reaparecimento do SL Benfica veio alterar o paradigma das equipas em Portugal. O SL Benfica, tendo por trás toda uma estrutura profissional, trouxe um aproximar da modalidade ao profissionalismo.
À semelhança do que aconteceu noutras modalidades, a aposta dos grandes clubes e das grandes marcas desportivas traz logo maior visibilidade e um maior interesse por parte de patrocinadores e investidores. Ainda que estejam quase isolados nesta tentativa de profissionalizar o andebol feminino, já que apenas o clube Madeira Sad poderá acompanhar a estrutura do SLB, parece-me que o caminho deve ser iniciado por aqui, de forma a dar em Portugal a possibilidade de as atletas sonharem em crescer e tornarem-se efetivamente profissionais na modalidade à qual dedicam parte do seu crescimento e adolescência.
Desta forma podemos mudar o mind set geral e dar o passo necessário para melhorar a modalidade no seu todo. Tal como no masculino, foram os clubes e os seus investimentos que ajudaram a crescer o andebol a patamares que vemos hoje, no feminino será também pelo investimento de cada clube e pelo aparecimento de grandes marcas (como o SLB ou o ABC/UMinho) para trazer mais apoiantes e público à modalidade.
Atualmente vemos que as atletas são obrigadas a deixar a modalidade cada vez mais cedo, tanto por falta de perspetivas de futuro, como por impossibilidade temporal, sem que sejam nunca ressarcidas pelo esforço que fazem para manter o andebol feminino vivo e minimamente competitivo. Mas, desengane-se quem acha que está do lado das atletas o problema da fraca competitividade e do baixo nível andebolístico em Portugal. Perguntem a uma qualquer atleta ou ex-atleta recente, se não estariam dispostas a fazer todos os sacrifícios necessários para serem mais competentes, fossem treinos bi-diários, alimentações regradas e/ou restrições sociais. A grande maioria iria perentoriamente dizer que estaria 100% disponível, se fossem devidamente recompensadas. A mentalidade forte e competitiva das atletas está lá, elas já fazem tudo o que está ao alcance delas (e às vezes mais) para conseguirem superar-se e serem melhores. O que necessita de atualização é o sistema, os decisores, as estruturas.
O @SLBenfica levantou o título de campeão após 29 anos.
@bgalante01 explica como é que as águias voltaram aos títulos no andebol feminino ??#AndebolBenficaFemhttps://t.co/Tip3kYBxAa
— Fair Play (@FairPlaypt) May 26, 2022
CDE Gil Eanes de volta à 1ª Divisão Feminina, 11 depois
Ainda este fim de semana ficou a conhecer-se o Campeão Nacional da 2ª Divisão. A equipa algarvia do CDE Gil Eanes ergueu o troféu ainda a uma jornada do fim após vencer em casa do seu adversário direto, o Núcleo Desportivo Santa Joana-Maia. Assim garantiu a subida direta à primeira divisão nacional, competição que já venceu, mas onde não se encontrava há mais 10 anos.
O ND Sta Joana-Maia também garantiu a 2ª posição, lugar que lhe dá direito a lutar pela última vaga na 1ª Divisão Nacional com duas equipas vindas do escalão máximo nacional. No fim de semana de 17 a 19 de Junho realizar-se-á em Coimbra a fase de acesso à 1ª Divisão onde estarão presentes o Cale e o SIM Porto Salvo, para além do ND Santa Joana, jogando no sistema todos contra todos. Apenas o vencedor irá poder festejar a presença na 1ª Divisão Nacional na época 2022/2023.
AAU Aveiro campeã nacional universitária e representante nacional nos Europeus Universitários da modalidade
Noutra vertente da modalidade, nos Campeonatos Nacionais Universitários, realizados em Leiria de 16 a 19 de Maio, a equipa da Associação Académica da Universidade de Aveiro sagrou-se campeã nacional, que venceu a final contra a equipa da Universidade do Porto com o resultado de 24-23.
Esta é uma competição que muitas vezes é vista como inferior e que prejudicará a performance das atletas nos clubes e nas competições federativas em que participam. No entanto, aquilo que presenciei ao longo dos muitos anos em que faço parte do desporto universitário foi, por exemplo, o regresso à modalidade de muitas atletas que, por razoes várias, tinham deixado a mesma.
Para além desta vertente de regresso à modalidade, há ainda a possibilidade de muitas atletas florescerem nestes jogos, assim que são colocadas noutros ambientes diferentes daqueles que viveram toda a sua vida desportiva. Algumas, têm também aqui a sua única oportunidade de jogar com ou contra outras atletas reconhecidas na modalidade, o que por si só pode fazer ressuscitar o interesse que possa estar mais apagado e contribuir para a não desistência das atletas do federado, tão comum nestas idades, como ainda há pouco mencionei.
Este tipo de experiências são de grande importância para o crescimento da atleta, para além de nos mostrar que o ensino universitário deveria andar de mãos dadas com o desporto federado, de forma a podermos ter atletas cada vez mais competentes e com currículos escolares apropriados para que consigamos profissionalizar as mesmas.