Análise à temporada de 2024 de MotoGP – Parte 1

Diogo SoaresDezembro 1, 20248min0

Análise à temporada de 2024 de MotoGP – Parte 1

Diogo SoaresDezembro 1, 20248min0
Diogo Soares passa a limpo a temporada 2024 do MotoGP começando pelos que terminaram nos 1os lugares da competição

No passado dia 17 de novembro terminou a 76ª temporada do Campeonato do Mundo de MotoGP. Jorge Martín foi coroado campeão do mundo da categoria máxima pela primeira vez na sua carreira.

É, por isso, hora de analisarmos o desempenho de construtoras, equipas e pilotos, de modo a percebermos quem ficou aquém do esperado, quem ficou dentro das expectativas, ou quem se superou em 2024.

 

1º – Ducati: 722 pontos

A construtora de Borgo Panigale viveu um ano absolutamente histórico. 17 vitórias sprint em 20 e 19 vitórias de Grande Prémio nas mesmas 20 ocasiões é algo para recordar e difícil de repetir no futuro. Também em qualificação a construtora transalpina demostrou todo o seu domínio ao conquistar 16 das 20 possíveis poles position. E ainda conquistou 53 pódios em 60 possíveis. É, sem dúvida, o melhor ano da história da Ducati no MotoGP.

A Ducati Team, equipa de fábrica da construtora, foi a melhor equipa do ano, vencendo mesmo o campeonato do mundo de equipas ao conquistar 884 pontos dos 1320 possíveis, correspondendo a cerca de 67% dos pontos possíveis. Francesco Bagnaia foi o principal piloto da equipa “rossa” ao conquistar o maior número de pontos e ao levar a luta pelo título de pilotos até à última prova. 11 vitórias na temporada, num total de 16 pódios ao domingo, e sete ao sábado, dentro dos dez pódios conquistados. Saiu da pole position seis vezes. Ao todo, conquistou 498 pontos, perdendo o ‘tri’ por apenas dez pontos. Conquistou mais 31 pontos do que em 2023 e mais 233 do que no ano transato. Ainda assim, não foi suficiente para juntar mais uma placa à “Torre dos Campeões”. Francesco Bagnaia pecou por um motivo muito simples: caiu como nunca havia caído em provas pontuáveis numa temporada. Das nove quedas no total, oito foram distribuídas entre sprints e corridas, tendo a queda em Sepang sido fatal para o desfecho do campeonato. Não foi a única razão, mas sair da Malásia com 24 pontos de desvantagem com 37 ainda em jogo seria necessária uma queda do rival para ‘Pecco’ poder aspirar pelo título.

Não obstante das quedas, Bagnaia teve um rendimento francamente baixo nas corridas de sprint, ao ponto em que a sua primeira vitória nas ‘meias-corridas’ apenas surgiu no ‘seu’ Grande Prémio de Itália, a sétima ronda do calendário. Por essa altura, Jorge Martín já levava três vitórias no mesmo tipo de provas. Só em sprints, Bagnaia conquistou apenas 140 pontos dos 240 possíveis e é este défice de pontos que lhe fez falta na contagem final do campeonato. Não teria de ganhar todas as sprints, e, honestamente, seria bastante irrealista fazê-lo, mas tinha a obrigação de fazer melhor.

O outro piloto da Ducati Team, Enea Bastianini, também andou na luta pelo título até às provas finais – se bem que andou sempre mais longe dessa luta. Terminou em 4º lugar do campeonato com 386 pontos, e apesar de ter sido o ‘pior’ classificado dos candidatos, demonstrou rapidez suficiente para ser considerado um grande vencedor. Venceu apenas duas vezes nesta temporada, todavia brilhou nestas duas ocasiões. No fim de semana da celebração dos 75 anos do Mundial de Motovelocidade, em Silverstone, o piloto de Rimini tratou de se comportar como um verdadeiro campeão, vencendo sprint e Grande Prémio com folga. Voltara a vencer na segunda ronda de Misano, o seu circuito da casa – o autódromo de Misano fica a apenas 20km da localidade natal do piloto -, com uma muito musculada, mas genial manobra a Jorge Martín. Venceria a vencer mais uma vez, no entanto, seria na sprint da Tailândia. Despediu-se da Ducati, a construtora que apoiou a sua carreira, mas perseguirá vitórias com cores austríacas.

Falar deste ano da Ducati é, também, falar da Pramac Racing e, principalmente, de Jorge Martín. A equipa conquistou 681 pontos no campeonato de equipas, terminando em segundo à geral, mas conquistando o campeonato de equipas independentes. Martín, com os seus 508 pontos, contribuiu com cerca de 75% dos pontos da equipa. O nome dele não precisa de ser repetido muitas mais vezes, se bem que quem atinge a glória eterna merece cânticos em sua honra. O piloto espanhol conquistou o título mundial de MotoGP pela primeira vez na sua carreira e garantiu o seu lugar na mítica Torre dos Campeões. A sua consistência foi chave para a decisão do título, ao contrário de 2023. Ao domingo apenas venceu por três vezes, uma delas em Portimão, mas completou a corrida no pódio por 16 vezes. O que fez a diferença aqui foram as sprints.

Martín apenas ficou fora dos pontos nas sprints por duas ocasiões devido a queda e, nas que terminou, só ficou fora do pódio duas vezes, na Catalunha e em Motegi. Ao todo, nos sábados, fora outros 16 pódios com sete vitórias, conquistando 171 pontos dos 240 possíveis. Dados impressionantes que só foram possíveis por dois grandes motivos: a união da equipa e a mente do piloto.  Sentindo-se desvalorizada pela Ducati, a Pramac decidiu abandonar o barco de Borgo Panigale e juntar-se a Iwata em 2025, interrompendo uma parceria de duas décadas. Posto isto, a equipa da Tuscania viu-se a trabalhar sozinha durante parte da temporada, sem o apoio da construtora. Mas a parte mental do piloto foi o mais importante nesta luta pelo título. Depois do desgosto do ano passado, Martín arranjou um ‘mental coach’, ajudando-o a abordar as provas com mais maturidade. Este ano, o piloto madrileno não se expôs em demasia ao risco, acabando por errar menos. Cometeu erros? Sim. Caiu com lideranças confortáveis? Sim. Mas fez isso muito menos vezes do que em 2023. E é muito por causa deste trabalho mental que Jorge Martín é o campeão do mundo de 2024.

Franco Morbidelli, o outro piloto da Pramac, no seu primeiro ano aos comandos de uma Ducati, foi incapaz de ter prestações regularmente boas. O seu ponto alto da temporada surgiu na sprint do GP de San Marino. Porém, foi o seu único pódio numa temporada em que se esperava mais do ítalo-brasileiro. Por outro lado, uma série de manobras perigosas que puseram outros pilotos em sérios riscos fisicamente, aumentaram as dúvidas sobre se o piloto romano ainda tem lugar na grelha de MotoGP. Terminou a temporada em nono lugar com 173 pontos.

A Gresini Racing foi uma das equipas onde melhores ares foram respirados. E muito por conta de Marc Márquez. O octocampeão do mundo abandonou o barco da Honda em 2023, após 13 anos de parceria, e embarcou Ducati com as cores da Gresini, maquinaria da GP23, e com a companhia do seu irmão Alex Márquez, que também havia sido seu colega em 2020, na construtora nipónica. O objetivo era simples, mas difícil ao mesmo tempo: mostrar que ainda era fisicamente capaz de lutar pelo título. E a missão foi bem-sucedida. Dez pódios com três vitórias ao domingo, assim como outros dez pódios com uma vitória em sprints. Aspirou a luta pelo campeonato, mas as mesmas caíram por terra em Mandalika. Terminou a temporada em terceiro com 392 pontos, mas com um lugar garantido na Ducati Team em 2025.

Alex Márquez não pode dizer que foi muito feliz esta temporada, Falhou mais vezes do que acertou. Foi ao pódio apenas uma vez, no Sachsenring e sofreu muitas vezes para acompanhar os restantes pilotos da própria marca. Não conseguiu confirmar o potencial que lhe era atribuído em 2019, quando venceu o campeonato de Moto2. Terminou no oitavo posto com 173 pontos.

A VR46 sofreu um retrocesso em relação ao ano de 2023 quando tinha a parceira Bezzechi/Marini, principalmente pela má temporada que o piloto nº 72 teve. Apenas um pódio conquistado, em Jerez, mas com um caudal de problemas psicológicos que abalaram a sua autoestima. Seguirá para a Aprilia, onde terá a oportunidade de começar do 0. Conquistou 153 pontos e terminou em 12º.

Fabio DiGinnantonio veio substituir Luca Marini e não pode dizer que a sua primeira experiência na equipa de Valentino Rossi tenha sido má. Constantemente no top-10 do MotoGp, Diggia bateu com regularidade o seu companheiro de equipa e afirmou-se na mesma, mesmo com um problema no ombro, ao qual foi operado no final de outubro, perdendo as últimas duas rondas da época. Terá apoio de fábrica da Ducati em 2025, e uma oportunidade de mostrar todo o seu potencial.


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