Alguém conseguirá destronar os EUA no Mundial sub 19?
O currículo estadunidense na categoria impressiona, mesmo em um esporte tão acentuadamente dominado por um país. Para acharmos um pódio sem os EUA, temos que remontar 13 edições, ao longínquo ano de 1993. Nos doze mundiais seguintes, foram dez títulos, sendo as exceções as edições de 2001 (bronze, na geração liderada por Diana Taurasi) e 2017 (prata). Assim, repetimos para a categoria sub 19 a mesma toada do adulto: alguém será capaz de tirar o título dos Estados Unidos?
A seleção busca seu quarto título consecutivo. Independente do elenco (o site oficial ainda não informa os elencos), os EUA entram com amplo favoritismo na competição disputada na Tchéquia, entre 12 e 20 de julho. A FIBA (Federação Internacional de Basquete) costuma disponibilizar o torneio, ao vivo, do seu canal do youtube.
O ranking de forças no sub 19 repete o da categoria adulta, com ainda menos variação. As principais aspirantes a desbancar a hegemonia estadunidense são as mesmas das últimas edições (Mundial de basquetebol feminino sub-19 rumo à fase decisiva) – Austrália, Espanha e França. As australianas possuem 1 título na categoria e são medalhistas contumazes em torneios mundiais. Donas de um basquete físico e de muita força, o excelente trabalho de formação colhe seus frutos nos mundiais. Ainda que sem grandes estrelas, o país tem se mantido no topo com gerações com muito fundamento. A tradicional escola chegou à final em 2019 e 21, fazendo uma partida muito disputada na final de 2019.
A Espanha carrega um quase-feito da edição anterior, quando em casa quase destronou as estadunidenses. A prata, resultado da derrota por 3 pontos na final, deixou um gosto agridoce: por um lado o time ficou a milímetros de fazer história; por outro, apresentou uma geração que já figura na seleção adulta – com mais uma prata, no Eurobasket adulto recém finalizado. Além da pivô Awa Fam (cotada como escolha de loteria no próximo draft da WNBA) e Elena Buenavida, as espanholas possuíam a MVP daquele Mundial sub 19 (2023), a armadora Iyana Martin Carrion. Elas não farão parte do elenco e sequer isso altera o posto de candidata ao título. A geração que disputou o Mundial sub 17 no ano passado mostrou um basquete excepcional, com peças de reposição em todas as posições e opções táticas raras para a categoria.
A despeito das credenciais espanholas, foi a França quem faturou o europeu sub 18 do ano passado (classificatório para o mundial sub 19 deste ano). Outra excelente escola de formação, a França sempre apresenta talentos individuais de muita intensidade e defesa; as francesas trazem consigo um atleticismo comparável somente às estadunidenses e, quando conseguem mesclar tais atributos com um esquema tático dinâmico e veloz, tornam-se rivais dos Estados Unidos. Não precisamos ir muito longe atrás de parâmetros, vez que ficaram a um arremesso de derrotar os EUA na final olímpica de 2024. Outra categoria, porém com a mesma dinâmica.
Fecha o seleto grupo de favoritas, a seleção canadense. A cada competição, o Canadá cresce em potencial, com novas fornadas de talentos forjados em parceria com o sistema formativo dos Estados Unidos. A seleção possui dois bronzes recentes na categoria, incluindo o da última edição, quando aproveitou jogadoras de categorias abaixo à sub 19. Elas devem se somar ao núcleo vice-mundial em 2024 no sub 17, geração hiper atlética e fundamentada.
A categoria anterior, o sub 17, serve como parâmetro para classificar a categoria seguinte, sub 19. O sucesso na primeira não determina a seguinte, até porque tratamos de categorias formatórias e no período entre duas competições uma atleta pode se desenvolver acima do esperado previamente. Ainda assim, nos principais centros mundo afora, o desempenho segue uma linha esperada. Alguns destaques do Mundial sub 17 (O Mundial sub-17 de basquete feminino) do ano passado devem estrelar a iminente competição, como a estadunidense Jerzy Robinson. Não se restrinja à elite: os mundiais de base costumam apresentar talentos mesmo em seleções coadjuvantes (Ainda sobre 2024: a versão alternativa do 5 do Mundial sub-17) e servem como termômetro do futuro da modalidade.
O formato do Mundial segue o mesmo, com quatro grupos de quatro seleções, os quais ranquearão internamente e decidirão os confrontos das oitavas-de-final. O grupo A, formado por EUA, Israel, Hungria e Coréia do Sul, cruza contra o B, composto por Nigéria, Portugal, Canadá e China; o C (Austrália, França, Brasil e Mali) encara o D (Espanha, Tchéquia, Japão e Argentina). A partir das oitavas, a competição vira eliminatória.
Portugal estreia em campeonatos mundiais da categoria com uma pivô que atrairá olhares curiosos. Clara Silva é uma jovem em ascensão, tendo disputado sua primeira temporada universitária por Kentucky; sua trajetória repercute o crescente investimento do basquete feminino português, cuja seleção adulta estreou no europeu com uma campanha digna.
Para o Brasil, qualquer perspectiva de melhora será comemorada. Após as ausências nas edições de 2017 e 2019, a seleção voltou na lanterna em 2021, somando 7 derrotas em 7 partidas. Na edição seguinte, dois anos mais tarde, a seleção conquistou uma vitória isolada (em 7 jogos) que garantiu a décima quarta posição. Para este ano, o objetivo real deveria ser subir na tabela final.
Com 4 remanescentes do mundial passado, o Brasil passa por outro processo de mudanças. Encabeçado pelo técnico Leo Figueiró, o elenco (Notícias | Brasil define as 12 para a Copa do Mundo Sub-19 feminina) possui potencial para sonhar com voos mais altos. Ambição que esbarra num grupo dificílimo (com três campeãs continentais nas eliminatórias), que poderá conduzir a seleção a um duelo contra a poderosíssima Espanha já nas oitavas. Mais que resultados (os quais aparecem como resultado de trabalho longo e cuidadoso das federações nacionais, algo que falta no Brasil), a expectativa é por bons desempenhos e competitividade. A geração possui boas promessas, com um teste de fogo na fase inicial de suas carreiras. Vai depender do quanto o coletivo consegue se construir em meio a um circuito fraco dentro do país e ao pouco tempo de preparação, entrecortado por competições do adulto que contaram com as duas principais protagonistas do grupo e com o próprio técnico.