A Rodada inaugural da LBF: Ituano e Campinas animam

Teve largada a décima-segunda edição da Liga de Basquete Feminino (LBF) brasileira, no último dia 08 de março. As oito equipes entraram em quadra na primeira semana, com resultados largos e diferenças confortáveis. A exceção ficou com a partida que encerrou a rodada, entre Ituano e Unimed Campinas. Vamos destacar alguns assuntos para entender melhor a liga e o que nos espera.

Expectativas para Catanduva

Antes da competição iniciar, as expectativas eram altas para Catanduva. A equipe reformulou seu plantel, contratou jogadoras experientes e ainda acrescentou profundidade com jovens revelações. A armadora Natália, em entrevista durante o jogo de estreia, afirmou que pretende focar na área de gestão, com menos responsabilidades de armar a equipe dentro de quadra. Com crescimento gradativo, a pretensão é subir degrau a degrau, abandonando as incômodas campanhas de 2021 e 2022, quando terminou nas últimas posições.

A estreia, porém, contrariou todas as expectativas. Natália cedeu sua titularidade para Casanova, completando um quinteto bem experiente. A falta de arremessadoras do perímetro foi solucionada com a chegada da ala Tati Pacheco, única jogadora a corresponder no ataque (18 pontos, cestinha da equipe, com 4/5 nos tiros de três). Mas o conjunto deixou a desejar, principalmente na defesa.

Nada promissora a derrota por 36 pontos de diferença, com o Sesi Araraquara anotando contagem centenária. Na liderança durante os 40 minutos, as anfitriãs pontuaram de todas as formas possíveis, domínio explicitado pelo placar: 104 x 68. Sem impor barreiras à movimentação de bola de Araraquara, Catanduva deixou sua defesa aberta, seja no aspecto individual, seja no coletivo.

FIM DE JOGO! ?
Sesi 104 ? 68 Bax Catanduva

Estreia com vitória centenária! Valeu demais guerreiras!!! ???

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— Sesi Araraquara Basquete (@SesiAraraqBasq) March 9, 2023

Há muito campeonato pela frente, com uma pré-temporada curta. As chances de evolução são enormes e o talento individual adicionado melhora sensivelmente o teto visto nas temporadas anteriores. O elenco melhorou nas pivôs e adicionou peças que podem se complementar. Tati Pacheco chegou para desafogar os tiros longos e Carol Ribeiro deve se unir ao time dentro em breve; a minutagem das jogadoras mais velhas tende a diminuir, trazendo mais versatilidade a um núcleo que gosta de correr.

Porém nada disso vai funcionar sem um trabalho coletivo coordenado. A equipe renovou seu elenco e manteve a comissão técnica; se antes não havia peças suficientes, nesta temporada esse argumento caiu por terra. O ajuste precisa ser imediato, sob risco de ficar para trás logo na largada da competição.

Escassez de pivôs ou tendência tática?

Blumenau contou na estreia com a ala Gil deslocada para a posição de pivô. Como efeito dominó, Leila ou Mariana Camargo cumpriram as funções da posição quatro. O padrão ofensivo, forjado nas últimas duas edições da LBF, carece de uma jogadora capaz de pontuar de costas para a cesta, a partir do poste baixo. Tati Castro desempenhava esse papel no time vice-campeão em 2021, por exemplo. Por vezes, na derrota em casa para Santo André (45 x 62), vimos Luana e Mari Camargo nessa posição, sem sucesso.

A única pivô de ofício, Thamires, jogou menos de 10 minutos e seu jogo baseia-se mais em chutes longos que em poste baixo. Sem essa opção, restaram os chutes de três, muito marcados, que resultaram num aproveitamento pífio de 3% (1/26). Na defesa, mesmo contra um time que investe pouco no poste baixo, o impacto foi sentido – a pivô andreense Glenda saiu-se com 16 pontos, 8 rebotes e 5 assistências.

Ou a técnica Bruna aumenta a minutagem de Thamires, ou amplia as opções com as pratas da casa, ou contrata mais pivôs. Com as peças disponíveis na rodada inicial, é difícil que o time mantenha as campanhas passadas. A poer-forward Kaw segeu fora, contundida e seu retorno minimizará essa lacuna – porém ela desempenha melhor a partir do perímetro, usando sua passada larga e envergadura a partir do drible.

Não que isso se aplique apenas a Blumenau: o próprio Santo André possui uma única jogadora originária da posição 5; o Sesi Araraquara utiliza Aline Moura na posição, com Iza no banco; o Sodiê Mesquita opta por um jogo mais corrido, com quarto jogadoras abertas no ataque.

A razão do fenômeno não está clara – no momento, muitas brasileiras encerram sua temporada europeia, com menos opções no mercado. Há, ainda, uma tendência no basquete mundial de acelerar o jogo, retirando os pivôs de ofício e optando por alas-pivôs mais versáteis e atiradoras. Fato é que a ausência de pivôs foi sentida na rodada inaugural da LBF.

Mudanças no atacado

Entra ano, sai ano e o Sampaio contrata a rodo. Virou rotina o time mudar drasticamente ao longo do LBF, devido à chegada das estrelas em atividade na Europa. Um verdadeiro esquadrão ainda vai se somar ao elenco: ninguém menos que Meli Gretter, Tainá, Érika, Manu e Rapha Monteiro. Investimento e dinheiro pesam favoravelmente para o time maranhense.

Essa dinâmica traz trabalho adicional à comissão técnica. Em 2021, Virgil Lopez viu uma queda no rendimento com as incorporações; em 2022, Galego comandou com maestria a transição. Cristian Santander carrega experiência e, se depender da estreia, não passará por perrengues. O Sampaio venceu com tranquilidade o Sodiê Mesquita, por 81 x 61, com grande atuação das quatro selecionáveis (Alana beirou o triplo-duplo, Patty, Gabi e Mari Dias).

A novidade veio do banco, com a estreia da ala Brenda Bleidão, estrela dos Brasileirões sub 23, que anotou 11 pontos em 20 minutos de quadra. Pelo Sodiê, o bom segundo quarto não reverberou para o segundo tempo e velhos problemas (transição defensiva e déficit nos rebotes) voltaram a aparecer. A boa notícia foi o retorno da atual bi-MVP Thayná, em busca do ritmo ideal.

Nossa pitbull deu nome na partida de hoje!

Parabéns Mayara, você fez um excelente jogo! PRA CIMA ?? pic.twitter.com/Yj8gahfA7E

— Liga Super Basketball – LSB (@lsb_oficial) March 11, 2023

Confronto de opostos

Ituano foi campeão da LBF em 2021 e possui um projeto consolidado. À tendência de renovação, o projeto andou vários passos para trás e retirou o técnico Antonio Carlos Barbosa da aposentadoria. No outro extremo, o Campinas se montou às pressas, após garantir o patrocínio nos estertores de 2022. E, apesar das dificuldades, a montagem do elenco campineiro merece muitos elogios.

O time trouxe de volta a ala-pivô Iza Sangalli, motor e líder; apostou em jovens promessas da base, como a ala-pivô Nathália Lima, a ala-armadora Maite, a armadora Gabrielly Parro e a ala Geovana Thaina. Mesmo com um time em formação, com diversas peças novas, a organização tática vista ano passado manteve-se na estreia, resultando em vitória por 56 x 63 em Itu.

As vice-campeãs da LBF têm um longo caminho pela frente; o primeiro passo, entretanto, foi animador.

A fênix representa bem nossa identidade! Assim como ela, nosso projeto renasceu das cinzas. Até o início do ano, muitas dúvidas e incertezas. Com tudo reformulado e ainda mais fortes, estamos preparados para escrever mais um capítulo grandioso da nossa história. pic.twitter.com/zukeWHZ2mu

— Unimed Campinas Basquete (@unimed_basquete) March 9, 2023