A prestação de Portugal no Men’s REC: resultados e campanha

Francisco IsaacMarço 19, 20247min0

A prestação de Portugal no Men’s REC: resultados e campanha

Francisco IsaacMarço 19, 20247min0
Francisco Isaac analisa a prestação de Portugal no Men's REC 2024 com nesta primeira parte a olhar para os resultados somados

Portugal terminou em 2º lugar no Men’s REC 2024 e numa série de três partes vamos analisar ao pormenor a prestação dos Lobos nesta campanha, começando pelos resultados e a qualidade do rugby apresentado. Na segunda parte iremos observar os jogadores utilizados e na terceira alguns dados estatísticos, assim como os ensaios foram marcados e sofridos.

A QUEDA EM MONS

Depois de um Campeonato do Mundo de enorme sucesso, Portugal sofreu um choque enorme quando saiu de Mons com uma derrota por 10-06. Não foi a primeira derrota frente à Bélgica – já tinha acontecido em 2017 -, mas o impacto foi de uma escala superior, tanto pelas enormes expectativas reunidas, como pela equipa seleccionada, com presença de Diogo H. Ferreira, Rodrigo Marta, Raffaele Storti, Manuel C. Pinto, Tomás Appleton, Nicolás Martins, João Granate, etc. Os Lobos foram incapazes de impor o seu jogo e de ter a clarividência necessária para passar a linha-de-ensaio, perdendo um total de quinze oportunidades durante o encontro, ficando na retina o caos táctico e a inoperância na ligação de sectores.

Com um staff fresco, sentiram-se excessivas fragilidades e que deixaram todos preocupados e com pouca esperança para os jogos seguintes. Nicolás Martins e Diogo H. Ferreira foram dois dos melhores nessa visita a Mons. O principal dado estatístico negativo foram os vinte turnovers sofridos, divididos por perdas de bola nos alinhamentos, turnover no breakdown, bolas perdidas no contacto e erros na saída nas formações-ordenadas. O principal dado positivo foram os 23 defesas batidos, com Raffaele Storti a ter somado sete, Perdro Lucas quatro e Tomás Appleton dois.

O REERGUER ANTE A POLÓNIA

Jogo de sentido único, com os Lobos a retornarem ao seu melhor. Pedro Bettencourt foi uma influência ultra positiva no XV, num jogo em que Lucas Martins se estreou em grande e foi decisivo para dar outra verticalidade às alas, somando-se ainda uma prestação extraordinária de Hugo Camacho. As fases-estáticas começaram a ganhar força e génio, com Luka Begic e Abel da Cunha a conquistarem algum protagonismo, enquanto a mobilidade ofensiva dos Lobos subiu de nível, especialmente no que toca à eficácia. Ponto negativo só esteve na formação-ordenada em que os Lobos cederam quatro penalidades. No reverso da medalha, os 522 metros conquistados, doze quebras-de-linha e oito ensaios demonstraram que os Lobos de 2020-2023 começavam a regressar à vida. O prémio de MVP coube a Pedro Bettencourt e Hugo Camacho, com ambos a terem sido decisivos por diferentes motivos.

HISTÓRIA FEITA EM BUCARESTE

A passagem às meias-finais jogava-se em Bucareste, mais concretamente no Arcul de Triumf, estádio esse em que os Lobos só ganharam numa ocasião nos últimos dezoito anos. A selecção local treinada por David Gérard iria oferecer uma luta tremenda nas fases-estáticas, sendo que na velocidade do ataque Portugal teria sempre uma boa vantagem, sendo só necessário garantir a posse de bola e jogar com cabeça. Como esperado, nas formações-ordenadas, os Lobos sentiram tremendas dificuldades durante a primeira-parte com António Santos e Abel da Cunha a melhorarem ligeiramente na segunda-parte. Três penalidades cometidas, três bolas perdidas na saída dessa fase-estática.

Contudo, e apesar desses problemas, os Lobos se impuseram no jogo à mão e dominaram na fisicalidade no contacto, conseguindo criar sucessivos problemas à Roménia que acabou por abrir os portões nos últimos vinte minutos de jogo. Como? Através da insanidade e “caos” organizado do ataque português, que soube pressionar a equipa da casa quando estes detinham a oval, recuperando-a rapidamente e apostando no contra-ataque, com destaque para Lucas Martins e Manuel Cardoso Pinto nesse sentido. Já falámos do ponto estatístico pior, vamos ao positivo: Defesa! Sim, o ataque foi formidável, mas a defesa somou 176 placagens efectivas, atingindo um total de 91% de eficácia, algo de espectacular e que conta como as bases dos Lobos do Mundial estavam bem vivas. Nicolás Martins (24 e 100% de eficácia), David Wallis (19 e 90% de eficácia), Martim Bello (18 placagens e 100% de eficácia) foram os principais placadores.

SUAR E BEM SUAR FRENTE AOS LEONES

Um jogo de duas partes. Portugal sofreu a bem sofrer na primeira-parte, saindo a perder por 13-20 ao intervalo. Os Lobos estavam a sentir novas imensas dificuldades na formação-ordenada (três penalidades cometidas) e erros nos alinhamentos (duas bolas perdidas), com o ataque a desenhar boas ideias mas a não ter a eficácia necessária. Porém, a partir dos 48 minutos, os Lobos acordaram e começaram a exercer domínio em diferentes áreas, com a entrada de Diogo Hasse Ferreira a ter sido essencial para dar a volta ao resultado – a ausência do pilar foi extremamente sentida na final frente à Geórgia.

Com esta entrada, as fases-estáticas mudaram de rumo e começou a surgir equilíbrio e qualidade na saída de bola, permitindo a Hugo Camacho e Hugo Aubry brilharem no processo táctico e do fazer jogo, isto sem falar do papel fulcral de Tomás Appleton enquanto primeiro-centro. Em 30 minutos, os Lobos marcaram vinte pontos e impuseram uma extraordinária prestação que ofereceu nova final no Men’s REC, mesmo com um ensaio sofrido nos últimos momentos do encontro. Ponto estatístico negativo: os erros na formação-ordenada. Isto seria um fantasma que voltaria a assolar o conjunto nacional na final frente à Geórgia. Ponto positivo: defesa e disciplina. 94% de eficácia na placagem, somando-se sete turnovers e só com sete penalidades cometidas, três dentro do meio-campo português. Tomás Appleton e Hugo Aubry foram dois melhores neste encontro, para além de Nicolás Martins.

FINAL COM MÁGOA

Sem querer faltar ao respeito à equipa técnica nacional, especialmente a quem tem dado o corpo ao manifesto desde Outubro, os erros de leitura táctica e de convocatória custaram excessivamente caro aos Lobos. Podiam não ter ganho, mas o resultado poderia ter sido menos pesado do que foi e a prestação poderia não ter sido tão cinzenta. A formação-ordenada portuguesa foi passada por cima, consentindo um total de nove penalidades cometidas, algo que já se vinha avizinhando desde o encontro ante a Roménia. Tomás Appleton a dez só prejudicou o fluxo de jogo de Portugal, acabando por prejudicar igualmente o papel do centro, que não pôde se concentrar no que sabe fazer melhor: liderar. A entrada de Hugo Aubry foi tardia, Rodrigo Marta, na forma que está, não podia ter saído do banco só na segunda metade do encontro, com isto tudo a acabar por partir a equipa animicamente. A defesa conseguiu estar num bom nível nos primeiros 40 minutos, mas o cansaço acumulado de ter estado praticamente enfiado dentro dos seu meio-campo ajudou a empurrar os portugueses para uma derrota por 36-10.

Podemos falar que esta é uma selecção em reconstrução, mas também o mesmo se pode a aplicar à Geórgia, que entrou em campo com cinco jogadores que não estiveram no Campeonato do Mundo, aproveitando da melhor forma para se reforçar. Veja-se que Davit Niniashvili só jogou os últimos dois jogo e entrou directamente no XV, o mesmo aplicando-se a Vasil Lobzhanidze.

Posto isto, os Lobos marcaram 18 ensaios, sofreram 12, somando um total de 152 pontos a favor e 107 contra. Em comparação com 2023, acabou por ser uma época globalmente pior, não só pela derrota consentida frente à Bélgica, como por se ter marcado menos dez ensaios e sofrido mais um, enquanto – 195 pontos convertidos e 88 consentidos. No próximo artigo olhamos para o que se passou com os jogadores, quem se destacou, principais preocupações e muito mais.


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